O decreto assinado ontem por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, mandando planejar a entrega das Unidades Básicas de Saúde – sim, os postos de saúde que todos conhecem – é a porteira aberta para transformar a corrupção no “modelo de negócios” do setor, se quisermos tratar as coisas peelo nome que merecem.
Possivelmente – graças a Deus – não passará, mas é um sinal de alerta que não pode ser ignorado.
Porque a corrupção que escandalizou o país durante a pandemia veio, em boa parte, daí: das organizações privadas a que foram entregues grande parte da tarefa de montar hospitais de campanha, equipá-los e operá-los, o que se mostrou um desastre em matéria e eficiência no emprego de recursos.
É, aliás, ainda pior, porque prevê a possibilidade que que seja entregue à iniciativa privada, além da operação, também a construção dos equipamentos, o que as tornaria eventuais “donas” das unidades de saúde básica.
A privatização da saúde não só é um retrocesso de 30 anos em relação às políticas nacionais que criaram e estruturaram o SUS e que, com todas as deficiências, acaba de prova o seu valor inestimável para o país, mas uma ação na contramão de todas as tendências mundiais, como a que estamos vendo nos EUA, onde a falta de uma rede pública deixa o país prisioneiro de uma discussão sobre o grau de subvenções estatais via Medicare.
A coisa é tão absurda que as estruturas técnicas do Ministério da Saúde – e, talvez, o próprio ministro-general Eduardo Pazuello – foram bypassados na adoção da medida que, por todas a razões, inclusive a evidente intenção de “liberar o Orçamento federal” da obrigação constitucional de investimento em Saúde, não deve passar de mais um “balão de ensaio” de Guedes.
Quem ainda bem, vai morrer ainda em alto mar, pelo bem dos brasileiros.