Por toda a parte, repetem-se as mensagens dizendo o quanto é bom deixar para trás este ano de morte, medo e estudidez.
Então, leio no Facebook a observação de alguém de que 2021 nos fará sentir saudades do 2020 que se vai.
“Xô!”, é claro, é a primeira reação: como pensar que algo possa ser pior do que estes meses que nos legaram 1,8 milhão de mortos, em 10 meses de pandemia, e uma retração da economia que matará centenas de milhares mundo afora, ainda que o capital financeiro e sua especulação andem gordos como nunca.
Então, vejo o gráfico da Universidade de Washington, que dedica sua técnica e seus modelos matemáticos a estimar quantos ainda morrerão e vejo que, só até 1° de abril – quem dera isso fosse sinal de mentira, há mais 1,1 milhão a serem levados.
Daí me recordo que um terço da população, diz o Datafolha, tem como única renda o auxílio emergencial. Ou tinha, porque o auxílio também se foi.
O resultado é mais pressão sobre o mercado de trabalho, que se ressente da lenta recuperação do setor de serviços, o que mais rapidamente e em maior quantidade gera empregos, ainda mais num verão sem Réveillon, sem Carnaval e sebe Deus o que mais.
Mais pressão também pela alta de juros inevitável, que não ocorreu ainda este ano por “honra da companhia” e porque a especulação vai muito bem, obrigado.
Na construção civil, estamos a quase zero em obras públicas e a chegada nos novos prefeitos, de caixa baixa e incerteza em alta não permite prever mais que as tradicionais “operações tapa-buracos”.
O alto preço das commodities de exportação, que quase dobrou em dois anos, dificilmente ser manterá por aí, numa associação lucrativa com um dólar que explodiu, salvando nossas contas de exportação, que vinham mal das pernas em 2019.
A situação da Europa e dos EUA nos deixará mais que nunca pendurados nos “negócios da China” e o país oriental, que recompôs e ampliou seus estoques no pós (para eles) pandemia não tem razões para sustentar fortes compras, ainda mais num quadro de alta de preços.
Vejo que a frase lida no Facebook, afinal, não era absurda.
Absurdo é não termos, além de planos de vacinação, planos de recuperação econômica.
Estamos deixando como está para ver como é que fica, enquanto nos perdemos – e não só no Governo e na direita – com “pautas de costumes” e politização de comportamentos das pessoas.
Catamos piolhos, esquecidos de que é o calor que deles vai nos livrando. E sem ligar para os efeitos tóxicos no veneno que colocamos em nossas relações.