Nossos ‘nudes’, em ‘clima de botequim’, diz integrante da Lava Jato

Na série de reações do tipo “já que não podemos mais negar, vamos amenizar dizendo que nada foi ilegal”, O Globo publica hoje trechos de um suposto e-mail de um dos procuradores da Lava Jato, Orlando Martello, enviado aos colegas, fazendo um alegado “mea culpa” pelo tipo de mensagens trocadas entere eles e com o ex-juiz Sérgio Moro nos quais havia nos diálogos um “um “ambiente de botequim”, no qual “podemos ter extrapolado muitas vezes”. Mas, claro, “aqueles pensamentos não interferiam na atuação técnica da força-tarefa”, na qual “sempre prevaleceu a razão”.

O e-mail é um primor do “não nego, mas não confirmo”, com direito a um parágrafo que parecem desculpas de um adolescente sobre aquela festa de arromba que fez na ausência dos pais:

“Sinceramente, não me recordo da grande maioria das mensagens… e digo isso com sinceridade mesmo! Foram tantas mensagens, muitas em finais de semana, em dias festivos, de madrugada. Fizemos várias intervenções em plantão de recesso, uma prisão no dia 31, um pouco antes da virada do ano. Certamente os diálogos da época podem estar permeados com sons de brindes de espumante e cardápio da ceia. Mas não estou aqui para negar as mensagens, mas para dar satisfação!”

Que beleza! Então temos os “sons dos brindes de espumante” emoldurando a decisão de acusar ou prender pessoas e, o “cardápio da ceia” pronto para que se escolha um “condução coercitiva do molho de damasco” ou uma “busca e apreensão com arroz de passas”… Paro aí para não imaginar a metáfora seguinte do procurador:

Eram (ou são) os nossos ‘nudes’, uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura entre amigos, alguns de mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha!”

Causou mais do que vergonha, senhor Martello, causou um golpe de Estado, causou a ruptura da democracia brasileira e causou a ascensão de um psicopata à Presidência da República.

 

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