A direita brasileira é decepcionante não por ser direita.
A manutenção do status-quo numa sociedade sempre tem e terá defensores e, num país neocolonial como o nosso, ser de direita, conservador é natural, até porque sem base política este estado de coisas não mais existiria.
É legítimo debater e disputar visões econômicas e a expressão política deste confronto funciona como um sistema de freios e contrapesos para que mudanças, num sentido ou noutro, sejam equilibradas e comprometidas com os resultados que produzam quando aplicadas.
A direita brasileira é decepcionante porque não consegue absorver esta ideia que, afinal, é o próprio cerne da democracia: a disputa política por ideias, ações, rumos, visões de futuro.
Dá-se, disso, que a cada fracasso de seus planos de poder artificiais, inventam outro, mirabolante e, pior ainda, irresponsável e potencialmente desastroso.
Nem recuemos à aventura Collor, cuidemos do que vem desde 2014.
Ali, fizeram de Aécio Neves, cujas inadequações e deficiências eram mais que sabidas no grand monde político-empresarial-midiático, a sua esperança contra uma mulher que, com sua antipática honradez, oferecia uma esperança – que acabou frustrada – de interromper a sequencia de três vitórias eleitorais petistas iniciadas em 2002.
Pouco lhes importou o que, depois das gravações da JBS, todo o país veria ser o seu caráter.
Muito menos hesitaram diante do impeachment sem crime de responsabilidade por isso implicar a ascensão de uma nulidade pernóstica como Michel Temer, de quem só esperavam o cumprimento de uma agenda -parcialmente realizada – de desmonte do Estado e do patrimônio público, jamais um programa de desenvolvimento econômico. Tanto que jamais se importaram que esta área fosse entregue a Moreira Franco, outro notório escroque.
Chegaram a 2018 sem alternativa eleitoral, depois de suspirarem longamente por um (Emmanuel) Macron à brasileira, como se personagens políticos pudessem a toda hora ser inventados. Deu-se que de seu caldeirão, remexido por Sergio Moro – outro arrivista – com a colher de pau da mídia, nasceu-lhes um Jair Bolsonaro.
É o que tinham e, até agora, é o que têm.
A longa lista de alternativas para corrigir a feiura e o desastre do monstrengo que pariram vai minguando pelas suas próprias limitações.
João Doria, o mais esperto de todos, está cada vez mais para recuar para uma reeleição em São Paulo. Luiz Mandetta e Eduardo Leite, o desconhecido governador do Rio Grande do Sul, arrependidos do bolsonarismo, não têm expressão. Luciano Huck, apertado pelo faturamento minguante da Globo e frente ao “bocão” que representa suceder Fausto Silva nas tardes de domingo na emissora, já não pode continuar o rebolado do sou- não sou candidato com que se oferece nos últimos quatro anos.
A realidade áspera faz com que, agora, voltem aos velhos delírios.
Já não é a corrupção, mas a polarização o grande mal do Brasil. Cresce, dizem eles, os que não querem, com a mesma rejeição, “Nem Lula nem Bolsonaro”. No lugar de um Macron, Merval Pereira sonha que um “Super Biden” venha lhe restituir a glória. Sim, ele imagina o surgimento de “um Biden brasileiro, que faça com que os dois extremos pareçam uma polarização antiga que não se justifica”.
Ou, como ele próprio denomina, um “extremista de centro”.
É por isso que você só arranjam desastres, Merval…