Por conta da expectativas do depoimento de Eduardo Pazuello, pouca atenção tem se dado ao comparecimento de Ernesto Araújo à CPI da Covid, amanhã.
Não se espera que possa revelar muito sobre a negociação para a negociação da compra de vacinas, pelo simples fato de que pouco ou nada o Itamarati participou dela, se é que existiram.
E dirá, basicamente, que compete ao Ministério da Saúde pesquisar e contratar doses do imunizante, cabendo ao Ministério das Relações Exteriores apoiar estes entendimentos no exterior.
Mas há algo a notar: o ex-chanceler é o primeiro “ideológico” do grupo de extrema-direita que se agregou a Jair Bolsonaro, sustenta a ideia de que a pandemia é uma “conspiração globalista” e que o vírus “é chinês” e, portanto, anticristão e comunista.
Ele próprio chamou o coronavírus, em seu blog, de “comunavírus”, dizendo que era preciso lutar contra “o parasita do parasita”.
Fez o discurso presidencial do “aglomera” em versão mais intelectual: “o controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da Covid-19.”
E adotou o mesmo tom de fundamentalismo religioso para enfrentar a crise sanitária: ““Somente a fé verdadeira desse povo cristão e conservador proporciona a couraça moral e o coração palpitante de amor patriótico para enfrentar o dragão da maldade.”
Não é improvável que Araújo, isento ou quase isento de responsabilidades funcionais, deseje se mostrar como “herói da raça”, sobrevivente orgulhoso do olavismo que perdeu postos no governo como mártires que se sacrificaram em defesa de Bolsonaro, espremido pelo Centrão.
Como o ultradireitista vestido de búfalo, a tentação de exibir-se para a chusma de loucos do olavismo pode mexer com a vontade exibicionista.