Ontem, em sua coluna, o jornalista Ricardo Noblat escreveu que a chamada 3ª Via, além de reduzir a sua “aglomeração” de nomes – meia dúzia, ao menos: Ciro, Doria, Eduardo Leite, Mandetta, Datena e Rodrigo Pacheco – tem como desafio “tornar-se uma séria ameaça a Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno.”
“Terceira via no Brasil só ganha eleição se virar segunda via. É o que a história registra até aqui. Bolsonaro parecia não ser nem terceira nem quarta via até o antipetismo descobri-lo como o candidato ideal a ser cavalgado. Por pouco não se elegeu direto no primeiro turno. Venceu o segundo com uma margem confortável de votos.”
Se isso é correto – e creio ser, pelo que as pesquisas mostram – as manifestações de hoje fazem da 3ª Via um projeto ainda mais falido.
O núcleo do bolsonarismo, contra toda a lógica, está intacto, mobilizado e furioso.
Domina, com grande folga, o público de direita, do qual perde apenas a fatia, infelizmente restrita, dos conservadores lúcidos, porque esta fatia mingou muito no Brasil da selvageria.
Boa parte dos pretendentes a serem o 3ª Via carrega o estigma de ter contribuído para a criação da monstruosidade que temos no poder. E Dória, reduzido a 5% nas pesquisas, é o marcador maior deste desgaste. Moro, o trunfo que se pensava ter mas parece descartado, também foi abatido por isso: seus adoradores, agora, são de Bolsonaro.
Ambos, e todos os outros, postulando suas candidaturas como alternativa a um lulismo que demonizam, mas que já nem de longe lembra a carga negativa que Judiciário e mídia davam ao ex-presidente dois anos atrás.
Lula faz campanha por duas vias que a eles são inacessíveis: a da memória de seu governo e a da articulação política, inalcançável aos candidatos de si mesmos.
Há, porém, um terceiro fator que trabalha por Lula: o medo de Bolsonaro, que se agudiza em dias como o de hoje, empurra para o petista toda a gente que vê a necessidade de barrar o autoritarismo fascista.
E o PT de hoje, ao contrário de 1989, quando rejeitou o PMDB – e, com ele, o apoio de Ulysses, eleitoralmente pouco importante, mas politicamente o inverso – os aceitará de braços abertos.
Jair Bolsonaro, se provou algo hoje, é que segue sendo o dono da direita.