‘Teto é tudo”, o título do maçante e pretensioso artigo de Michel Temer na Folha, talvez seja a única expressão, no seu texto, útil ao entendimento da inviabilidade das políticas neoliberais num país com o que o Brasil tem, para o bem e para o mal, em crise e em potencial.
A explicação paupérrima de que ” ninguém pode gastar mais do que aquilo que recebe”, um primarismo que, aplicado à economia, significaria negar investimento, crédito e todas as ferramentas do desenvolvimento econômico e social que tiraram a humanidade da idade da pedra.
Qualquer dono de padaria sabe que se gasta para poder receber.
E é aí que esta tradução temerária do programa econômico dos liberais brasileiros desmorona, como está desmoronando.
Desmontar, vender, destruir, alienar não gasta e permite receber “n ahora”. Mas, como os camponeses da galinha dos ovos de ouro, significa esgotar ou anular a capacidade de receber no médio e no longo prazos.
Não podendo negar “a preocupação de que os vulneráveis (pobres, em português), acentuada sua pobreza (traduzindo, miséria), possam rebelar-se e, em consequência, praticar atos que desagreguem a nação brasileira”, Temer sugere que se poderia gastar sem “furar o teto”, porque haveria mecanismos para isso.
Importa pouco, porque a despesa seria, da mesma forma, maior que os recebimentos.
A questão essencial fica de lado: sermos um país sem projetos e prioridades, que se dedica apenas a administrar o caos, como se fosse possivel apenas com a tal “gestão” sobreviver num quadro de contínuo empobrecimento do país.
E como a famosa história do “cavalo do inglês”, na qual o pobre animal morre quando estava “pertinho de aprender a viver sem comer”.
A urgência do auxílio emergencial, já fora de um quadro onde a pandemia estava a impedir grande parte da atividade econômica, só demonstra a urgência ainda maior de retomarmos políticas econômicas desenvolvimentas, que revertam a estagnação econômica, no que o papel do Estado é absolutamente essencial.
O teto não é tudo e nem mesmo as políticas assistenciais podem ser. O Brasil precisa crescer e para isso precisa de Estado e de governo que se dediquem a isso, não a esperar que Deus ou o capital externo façam o que desistimos de fazer.