30 anos de luta ambiental. E nós com isso?

No segundo governo de Brizola no Rio de Janeiro, realizou-se a Rio-92, certamente o início da escalada da preocupação do mundo com o meio-ambiente, iniciada 20 anos antes com a primeira convenção mundial sobre a preservação ambiental, em Estocolmo.

Tenha uma ideia: só três anos depois teríamos a COP-1, mãe desta COP-26 que começa hoje em Glasgow e onde nosso presidente não estará.

Naquela época, ainda a chamávamos de “ecologia” e começava a deixar de ser a preocupação romântica de “bichos-grilo”, amantes da natureza, às vezes de”ecochatos”, os seus mais fanáticos.

Mas trabalhávamos – entre eles eu, um guri mal passado dos 30 anos – para defender, aqui no pequeno território do Rio de Janeiro, o que nos restava de natureza.

E não era pouco, porque sobrevivia – e sobrevive – o Parque Nacional da Tijuca, tida como a maior floresta urbana do mundo, o que não é verdade, e púnhamos a andar outra, o Parque Estadual da Pedra Branca, que a triplica em tamanho e a rivaliza em riqueza de flora e fauna.

Darcy Ribeiro à frente, transformando em realidade uma área de preservação jamais demarcada, pusemos a andar a sua recuperação que, com o fim do governo, desandou, como registrou na Folha meu bom amigo, o repórter Wilson Tosta.

Quinze mil mudas cobertas por mato, seis fiscais para cuidar de 125 milhões de metros quadrados de área, 50% de área desmatada. Assim agoniza o Parque Estadual da Pedra Branca, objeto, em 1991, de um dos sonhos do senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), que queria combinar ali reflorestamento e educação ambiental.

30 anos depois, o que se coloca já não é apenas termos a delícia de olhar as montanhas florestadas, a mata e os bichos vivos.

Não é mais a questão do Rio, que espuma sobre as encostas, devorando-as.

É mundial, é nossa sobrevivência como espécie e como civilização.

É um tema em que podemos ser líderes, mas parece que desejamos ser párias.

Somos, ainda e apesar de tudo, os detentores dos maiores ativos ambientais, muito mais preciosos do que toda a madeira e minérios que deles se pode tirar. E os estamos malbaratando com dirigentes que acham que, no século 21, podem-se fazer “corridas do ouro” (e da madeira) com o se fizeram na Califórnia ou no Klondike no século 19, ou em novas Serra Pelada.

O papelão do atual governo nesta questão não é só uma estupidez contra a vida e a Terra, é o desperdício de imensas oportunidades que estão diante do Brasil, em especial a de tornar-se a maior potência ambiental do mundo.

A natureza brasileira vale, no globo, mais que o minério de ferro e mais que o petróleo do pré-sal porque tem a óbvia vantagem de, ao contrário do ferro e do óleo, ser inesgotável.

O papelão de Jair Bolsonaro é pior do que o ridículo em que lança o nosso país, é um prejuízo econômico agora e um risco à nossa própria soberania, porque dentro de 20 anos o mundo rico e poderoso não se contentará mais com apelos à preservação e passará a desejar, mais do que deseja hoje, a posse do que é vital para sua sobrevida.

Deter o desmatamento e desenvolver a sustentabilidade da ocupação humana da Amazônia – e do Pantanal, da Mata Atlântica ainda existente, do Cerrado, da Caatinga, pode ser tão importante para nós quanto é o Pré-Sal e são as exportações de soja e minério de ferro.

Ambiente tem valor econômico, não é um arcadismo romântico.

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