Roosevelt, o comunista

Descole da História, leitor e pense o que seria se um candidato a presidente do Brasil, diante da crise que nosso país enfrenta em matéria de desemprego e recessão constituída, basicamente, propusesse um plano econômico baseado nos seguintes pontos:

  • controle sobre bancos e instituições financeiras e econômicas;
  • construção de obras públicas de infraestrutura para a geração de empregos e aumento do mercado consumidor;
  • concessão de subsídios e crédito agrícola a pequenos produtores familiares;
  • fortalecimento da Previdência Social, do salário mínimo, além de garantias a idosos, desempregados e inválidos;
  • incentivo aos sindicatos para aumentar o poder de negociação dos trabalhadores e facilitar a defesa dos seus direitos.

Comunista! Antimercado! Intervencionista!

Daí para mais seria o que ouviríamos e leríamos de toda a gente “responsável e defensora da livra iniciativa”, que trataria logo de derrubar este herege heterodoxo.

O herege, neste caso, chama-se Franklin Delano Roosevelt, o presidente que reergueu os EUA diante da Grande Depressão dos pós-29, a quebra da Bolsa que ficou na cronologia do Século 20 como o maior desastre da economia capitalista.

Até o Food Stamp Plan .uma espécie de vale para a compra de alimentos por pessoas de baixa ou nenhuma renda, parecido com o Bolsa Família, foi criado e sobrevive até hoje como um imenso programa federal de benefícios.

A “listinha” de Roosevelt , com levíssimas modificações para adequar-se aos dias de hoje, é a que consta no verbete “New Deal” da Wikipedia.

A “pegadinha” ajuda a gente a entender como é esta história de classificar de “radicalismo” ou do “extremismo” a candidatura do ex-presidente Lula, que tem programas muitíssimo mais brandos que aqueles.

Simplesmente porque parte de nossas elites econômicas – quase toda, diria – não tem qualquer compromisso estratégico com a prosperidade, com a viabilidade do Brasil como país e do brasileiro como povo civilizado, isto é, fora da simples sobrevivência num ambiente selvagem.

E não porque seja “má” – de novo, em parte, é mesmo – apenas, mas é porque a economia hoje é – ou, ao menos, parecem – descoladas da produção e da renda, restrita ao financismo que, hoje, é mais volátil que entre qualquer outra época. Talvez, aliás, nada defina isso melhor do que o nome de uma das plataformas de criptomoedas, como é o Bitcoin: Ethereum, etéreo, o que pertence ao reino dos ares, não ao do chão.

Bolsonaro e a grande maioria de seus opositores liberais igualam-se na prática de um não-programa econômico, que crê, de forma fanática e sectária, que o mercado – isto é, os negócios – resolverão os problemas do desenvolvimento, na economia e na convivência humana, do país.

É, de forma aparentemente inversa, o liberdade para o dinheiro e disciplina para as pessoas, ainda que à custa de repressão.

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