Viramos o país da bala

Sabidos, mas nem por isso menos espantosos, o número de licenças concedidas para atiradores – em geral com armas de alta potência, como pistolas e fuzis – desde o início do governo Bolsonaro é, possivelmente, o maior boom armamentista já registrado em países que não estão em guerra aberta, externa ou civil.

A cada dia, nada menos que mil pessoas ganham o registro de CAC (caçador, atirador e colecionador de armas) e adquire o direito a comprar, sem autorização do Exército, até 60 armas de fogo.

Não se está falando em garruchas ou revólveres 38 enferrujada, mas de Glocks, carabinas 12 e, como sugeriu o próprio Jair Bolsonaro, fuzis 7.62:

— O CAC que é fazendeiro pode comprar um fuzil 7.62. Tem que todo mundo comprar fuzil, povo armado jamais será escravizado. O idiota lá quer comprar feijão, cara, não quer comprar fuzil não enche o saco de quem quer comprar”

Potencialmente – e para quem tem dinheiro – isso representa algo perto de 25 milhões de armas de fogo, inclusive fuzis semiautomáticos, e até dois mil cartuchos, para cada arma de fogo de uso restrito (restrito?) , e de até cinco mil cartuchos, para cada arma de uso permitido.

A internet está cheia de tarados fazendo propaganda de armas pesadas e de centros de tiro, exibindo disparos e ataques paramilitares.

É, portanto, um exército paralelo que tem, até, os seus quartéis, os “clubes de tiro” que proliferam por toda a parte e onde estas pessoas se reúnem e podem perfeitamente articular-se politicamente.

Um dos donos destes quartéis informais, ironicamente chamado “Universidade do Tiro” diz que o negócio, coltado paraa “classe A” é muito lucrativo: ”

— Nosso público é predominantemente masculino, de 25 a 45 anos, que tem apreço por arma de fogo e que viu reacender a vontade de adquirir uma no governo atual(…) temos quase cem colaboradores, e minha intenção é chegar a cem unidades ainda neste ano.

O jornal O Globo, ao divulgar os dados, obtidos do próprio Exército Brasileiro (que vê se formar outro, diante de suas barbas, com efetivo maior) chama a situação dee “Faroeste a Brasileira“.

Talvez fosse melhor preocupar-se com outra comparação: “Capitólio a Brasileira”.

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