Há um fenômeno impressionante com a sociedade, que levou e ainda leva muita gente a ser irresponsavelmente otimista diante da pandemia da Covid-19, mesmo depois de dois anos e mais de 3,5 milhões de mortos, quase 630 mil deles aqui no Brasil.
Alguns, de boa-fé, pela tendência de achar que “tudo vai melhorar”, muitos de olho em “não prejudicar a economia” e uns pouco porque não se importam mesmo com as vidas humanas, mas todos dizendo que, agora, a Ômicron é “fraca” e que “não mata”.
Os de boa fé, como o professor Pedro Hallal, na Folha de hoje, têm a honradez de dizer que erraram em seu otimismo.
Os canalhas, como Jair Bolsonaro, saúdam a “bem-vinda” Ômicron, o vírus que veio para acabar com todos os vírus.
De ontem para hoje, matou e matou muito, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde: 929 pessoas, cada uma delas com pais, mães, filhos, irmãos…
E tudo o que se diz é que, já estamos ou logo vamos chegar ao “pico” e tudo vai retroceder rapidamente.
Ótimo, tomara que seja assim.
Mas isso nos exime de tentar evitar as 10 ou 15 mil mortes até que, se tudo correr bem, segundo os “especialistas”, as mortes recuem a perto de zero.
Não é essa a lição que nos vem do mundo. A ômicron começou em dezembro na Europa e nos EUA. Hoje, até o momento em que escrevo, os casos e mortes na Europa continuam em números gigantescos: 1,4 milhão de casos e 3.270 óbitos. Nos EUA, ainda faltando resultados de quase metade dos estados, já são 2 mil mortos.
Aqui, estamos voltando às mil por dia e, na proporção que e tínhamos antes da vacina, seriam sete ou oito mil.
O que não faz mil serem poucas. Ainda que a vida corra como sempre: ônibus e trens lotados; restaurantes e bares tão cheios quanto a renda curta permitem; shows e baladas correndo normalmente, numa alegria inconcebível ao lado de tantos corpos sem vida.