Os mais jovens talvez não conheçam, mas só talvez, porque, ao que eu saiba, a peça de teatro de Marcos Caruso com este título ficou em cartaz por uns 30 anos, desde que estreou em 1986.
Ou não, porque na política isso se pratica e muitos e muitos mais anos e não é, portanto, inédito.
Menos ainda na nossa política, onde pertencer a um partido político é quase uma formalidade e a legislação, embora proíba entrar sem camisa no botequim, nada fala de trocá-la a toda hora ou mesmo de vestir qualquer uma apenas para poder circular entre as mesas.
Mas o que se assistiu – ou ainda se está assistindo, quando escrevo – nas últimas horas para as filiações partidárias é, simplesmente, repugnante.
No PSDB, que se vangloriava das democratíssimas prévias destinadas a escolher o candidato a presidente, Eduardo Leite avançou a tal ponto na ação para derrubar o vencedor da disputa, João Doria, que este teve de blefar com a sua continuidade no governo de São Paulo, ameaçando “melar” o partido em seu mais importante reduto.
O presidente do partido da uma carta em que jura que Doria é o candidato legítimo dos tucanos e, no dia seguinte, uma declaração de que não há nada demais.
Moro não desiste, desiste, desiste de desistir e toma uma “voadora” de patas potentíssimas como as de ACM Neto e Ronaldo Caiado, logo depois de ter dado um “cano” no Podemos, partido que se formou para esperá-lo como um berço.
Mesmo que não se impugne sua filiação, será posto numa câmara criogênica, isso se alguém pagar por sua manutenção em animação suspensa para uso posterior. Mais provável que abra uma fábrica de pareceres para impressionar ex-colegas de Judiciário. Quem foi rei, sabe como é, nunca perde a majestade…
Os fatos estão provando que a tão praguejada “polarização” das eleições entre Lula e Bolsonaro é menos uma estratégia do que uma fatalidade, consequência da mediocridade dos quadros da direita e da centro-direita no Brasil, que não sabe dizer nada que não seja selvagemente antiesquerda, nem pensar em algo que não sejam suas carreiras, e também de uma centro-esquerda que não soube processar seu papel de coadjuvante e achou que seu futuro era “derrubar” Lula, mesmo ao custo de, desde Paris, ver o país atirado às garras de Bolsonaro.
Virou, por isso, um quisto e disto não vai além, em lugar de cacifar-se por ter a capacidade de, oferecendo a vitória, crescer no conceito popular.
O fato é que a população tem toda a razão em ver a política como uma abjeção, com este comportamento.
Virou a arte da traição, sob os auspícios de uma elites – midiática, sobretudo – onde a vantagem imediatista é a razão suprema.