A Folha apresenta hoje, com base nos resultados do Datafolha e numa tabela de “identificação” com que seriam posições de “identidade ideológica” de esquerda/centro/direita, para concluir que 49% dos brasileiros teriam posições de esquerda ou centro esquerda , em comportamento e em economia, em contraposição a 34% cujas ideias são classificadas como “de direita”.
O resultado é comparado ao que se aferiu numa pesquisa semelhante em 2013, quando os percentuais eram de 41 e 34%, respectivamente. Lembrem-se que 2013 era o ano das primeiras manifestações do “coxismo”, que parecia, mas só parecia, ser popular e progressista.
A vantagem “esquerdista” é muito maior, com certeza, do que a que surgiria com uma pergunta direta sobre como as pessoas se definiriam.
É que classificação ideológica é sempre uma armadilha, pela razão que a máquina de fazer cabeças procura caracterizar como “esquerdismo” aquilo que seria mais bem definido como humanidade.
Reproduzo, ao fim do post, os gráficos com as perguntas correspondentes e dá para ver que as mudanças se intensificaram com o governo Bolsonaro, que explicitou posições de preconceito e exclusão que, de tão chocante, abriam os olhos de muita gente que passou a ver que, sem defender a vida e superar a pobreza extrema não há saída para o Brasil senão o mar de desgraça e deterioração em que estamos mergulhados hoje.
Bolsonaro não engloba a direita, representa a barbárie.
Mas acho mais importante olhar a realidade com este divisor de águas do que com o de um rótulo ideológico. Conheci, ao longo da vida – alguns, amigos até hoje – pessoas conservadoras politicamente, mas com atitude abertamente contrária ao que hoje se chama “pauta de costumes” conservadora.
Não está em questão, no Brasil, nem nunca esteve, nenhuma ameaça à propriedade privada, ou à liberdade religiosa, ou aos empreendimentos capitalistas. Se existem ameaças são, ao contrário, ao patrimônio público, à liberdade filosófica e à função social da propriedade, algo que remonta há mais de 130 anos, e que há quase 80 está inscrito em nossa Constituição.
Nada, portanto, que se possa chamar de revolucionário.
Definir a divisão da sociedade brasileira em “direita x esquerda” é uma deformação que só serve às alucinações extremistas de Jair Bolsonaro e seus “teóricos do terraplanismo”, que passam dias a imaginar conspirações “comunistas” para tomar o poder e “dissolver a família”. Aliás, também aí é o inverso: o clã Bolsonaro são o pior argumento que se poderia usar contra famílias.