Até à noite, a política e a eleição presidencial vivem um único fato: os 40 minutos de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional.
E os sentimentos, como em tudo que envolve a disputa de 2 de outubro, são absolutamente antípodas.
Entre os adeptos do atual presidente, a expectativa é de um Bolsonaro “lacrador” que reduza William Bonner e Renata Vasconcellos a pó.
Do lado oposto, a torcida, de panelas em punho, será por um Bolsonaro irritado, perdido no ódio e, por isso, passando a imagem de desquilibrado e agressivo que tantas vezes expôs ao país.
Mas, nos bastidores, nem um lado, nem o outro contam com isso como ponto de partida. A agressividade de perguntas e respostas só escalará se um lado perceber que o outro está fazendo isso.
Cada lado tem duas dúzias de “tiradas” para derrubar tanto perguntas quanto respostas e sabe que os outros também as tem.
Bolsonaro quer falar de corrupção, mas tem seu próprio telhado de vidro para cuidar. Para a Covid, dirá que comprou as vacinas, quando elas apareceram e que queria proteger os mais pobres com o seu “não fica em casa”. Mas tem a cloroquina, o boicote às máscaras,o “virar jacaré” para tomar de volta. Tem o auxílio e os “vales”, mas o “por que só na véspera de eleição?” para gaguejar.
A lista chegaria quase ao infinito.
Bonner e Renata, porém, vão ser cuidadosos de início, esperando no mínimo que Bolsonaro levante a voz ou atravesse o tom. Sabem que uma hostilidade sem motivo evidente é lenha para a fogueira do vitimismo do presidente contra “a imprensa” com o qual se protege da revelação de fatos desagradáveis.
Basta, porem, um movimento para que os oponentes ericem os espinhos e que o jogo saia do “empate” que agrada Bolsonaro que, apesar de desejá-lo, não pode aparecer como “retrancado” diante de sua “torcida”.
Por isso é que o “0 a 0” é possível, mas não provável. Vai ser, de início, um jogo de xadrez, com o risco permanente de um coice no tabuleiro.
A ver quem baterá mais alto: os tambores bolsonaristas nas redes ou as panelas lulistas nos prédios.