A cadeira do Supremo e o banco dos réus

Jair Bolsonaro, dizem todas as fontes, está bufando com a decisão de Celso de Mello de que deponha pessoalmente – e não por um questionário respondido por advogados, cuidadoso e articulado – no inquérito sobre sua intervenção na Polícia Federal, que culminou com a demissão de Sérgio Moro.

Mas, até agora, tem conseguido se conter – ou ser contido por auxiliares – exatamente por causa de Celso de Melo, mas de outro jeito: pela iminência da aposentadoria do decano do Tribunal.

Despejar a costumeira onda de impropérios contra ele, agora, seria uma pressão sobre o Supremo que criaria dificuldades para aquele – talvez o tal “terrivelmente evangélico” – que vá indicar para ocupar a cadeira que fica vaga no Tribunal.

Há um ano atrás, seria tranquila a aprovação de qualquer nome pelo Senado, agora não mais. O acerto com o “Centrão” esvaziou o peso político da Casa, onde não tem sido nada fácil garantir maioria até para não derrubar os vetos presidenciais, que o dedicado Davi Alcolumbre deixa em sua gaveta para evitar novas derrotas ao Planalto, como a que aconteceu no veto aos reajustes dos vencimentos de servidores, que Rodrigo Maia teve de “remendar” na Câmara.

Os bolsominions, loucos para ver seu líder fazer o papel de “macho”, estão subindo no Twitter a hashtag #NaoVaBolsonaro, para que ele não preste o depoimento ordenado por Mello.

Pode ser que a estratégia seja atrasá-lo, mas é difícil que isso tenha resultado. Mas seguro é contar que a Procuradoria Geral, agora sob gestão “amiga” opte por não oferecer denúncia e, considerando que daqui a 49 dias o ministro deixa o Tribunal, dê a quem herdar o seu acervo processual a opção mais simples de mandá-lo ao arquivo, em nome da “harmonia entre os poderes”.

Celso de Mello, porém, deu mostras de que não está disposto a abrir atalhos mais suaves para Bolsonaro.

E este, se ouvir seu “gato” e partir para cima do poente Mello vai colocar o Supremo “terrivelmente avesso” àquele que for escolhido para ocupar a sua cadeira.

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