Aos saudosos da ditadura, é recomendável a leitura da tragicômica matéria de Denise Assis no Colabora.
O delegado Zonildo Castello Branco, na época diretor da Divisão de Operações o Departamento de Ordem Política e Social, o número dois do Dops carioca – vejam, não era um agente periférico, um x-9 policial – escreveu um “tratado” de arapongagem sobre como identificar um subversivo pela roupa, barba, cabelos e até o chinelo de sola de pneu e bolsas a tiracolo em moda na época.
Conta Denise:
Na análise do agente, os jovens de sexo masculino que trajassem “calças blue-jeans de brim grosso, surrado, ou submetido a processo químico, para assim parecer”, e usassem barbas e cabeleiras, eram comunistas e subversivos. Portanto, mereciam ser monitorados. Já as moças com blue-jeans surradas, bolsas a tiracolo e sandálias confeccionadas com pedaços de pneu, estariam optando por roupas com forte “significação de protesto, rejeitando os costumeiros trajes usuais, protocolares, da vida cotidiana, atuando sobre os sentidos, que causam emoções, impressionando as massas – jovens -, despertando-lhes agressividade”.
E o meganha “consultor de moda” segue por aí, dizendo asneiras e deitando regras de comportamento “cívico”.
Embora a autora trate quase de forma “pitoresca” o documento – e, convenhamos, é mesmo – prefiro dizer que há ali algo a ser objeto de reflexão”.
É bom que vejam no que dá esta história de “todo poder à Polícia”.
Até a peladona dos coxinhas, em lugar de ser apenas patética, era capaz de ser taxada de “agente de Fidel” que vinha desvirtuar, com os peitos de fora “a ingênua tradição do carnaval”…
Exagero? Já esqueceram das pessoas agredidas – por enquanto, verbalmente – por estarem usanndo camisetas vermelhas?
Pode parecer engraçado para quem não viveu estes tempos, mas é nisso em que termina o estado policial que recomeçamos a ensaiar viver.
Em nome da “honestidade” e da “moralidade”, vai-se transformando tudo em “criminoso”.
Até a sua calça jeans.