A entrevista da ex-advogada do denunciador de Eduardo Cunha, Júlio Camargo, de Paulo Roberto Costa e de vários delatores da Lava Jato, a Dra. Beatriz Catta Preta, ao Jornal Nacional é grave, estranha e incompleta.
Ela diz ter recebido ameaças “veladas, cifradas”.
Perfeitamente, é possível: os interesses atingidos com o depoimento-bomba de seu ex-cliente são, por certo, os de gente mafiosa, capaz mesmo de ameaçar a integridade física.
Contudo, é difícil crer que, com a publicidade em torno do caso e diante do que era dever de D. Beatriz – procurar a polícia e identificar os autores da ameaça – que alguém pudesse levar algum plano de violência em frente.
Mas a Dra. Catta Preta sequer diz como as tais ameaças se deram. E ameaças a parte em processo judicial (ou seu representante legal, o advogado) são crime previsto no Art. 344 do Código Penal, o de coação no curso do processo.
Exige-se, portanto, que a Polícia Federal, a Ordem dos Advogados, Ministério Público e o próprio Juízo investiguem e procedam criminalmente contra quem fez tais ameaças.
Não falo no Ministério da Justiça, porque dali só saem gaguejos.
Mas se as ameaças foram “veladas, cifradas”, uma advogada criminal experiente – presume-se que o seja, dada a fama que a precede e o vulto das causas que patrocina – iria fechar e esvaziar seu escritório às pressas, demitir todos os funcionários, despachar a família para o exterior e anunciar que estava “encerrando a carreira” na advocacia?
Obvio que não.
Das duas, uma.
Ou as ameaças aconteceram de forma não tão velada ou cifrada como se está dizendo e a Dra. Catta Preta teve, de fato, motivos para atitudes tão drásticas para alguém que, agora, tinha alcançado o estrelato jurídico e, consequentemente, a perspectiva de uma ótima remuneração profissional.
Embora seja direito da Doutora abandonar a profissão, dedicar-se às prendas do lar, se assim o quiser, ou a qualquer outra ou nenhuma atividade, é certo que isso ou não é verdade ou ocorreu por uma ameaça muito forte e verossímil.
Ou, a segunda hipótese, é que nada ocorreu e a Doutora simplesmente deu por encerrada – com honorários polpudos, embora, como ela diz, distantes de R$ 10 milhões (estes, a metade do que o repórter Cesar Tralli diz ser o comentário de deputados e de advogados da Lava Jato dizem ter sido o preço cobrado por ela), ainda assim são muito bons para alguém que sequer teve de sustentar a inocência de seus constituintes, mas apenas negociar com o MP as suas confissões e reduções de pena.
Uma ou outra, o fato é que o gangsterismo judicial e parajudicial da Lava Jato atingiu até o exercício da advocacia.
Há uma podridão evidente no processo de delações premiadas – que se tornou um negócio – e no jogo de interesses que existe em torno dele.
A decisão do Supremo que permite que ela silencie na CPI sobre as questões ligadas ao sigilo profissional que mantém com seus agora ex-clientes de nada servirá quando ela for questionada sobre as ameaças que a fizeram abandonar os casos e é certo que ela será duramente inquirida sobre quem fez e como se fizeram as ameaças “veladas, cifradas” que diz ter recebido.
Ou aponta seus autores e a forma com que se deram as intimidações (como boa advogada, certamente terá gravado telefonemas ou retido correspondências que as revelem) ou, infelizmente, será massacrada como foram as vítimas das delações que ela própria patrocinou.
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Fernando Brito é muito injusto quando escreve, "Não falo no Ministério da Justiça, porque dali só saem gaguejos." Todos sabemos que daquele "Mistério" também saem platitudes e lero-lero, às pencas, viu "seo" Brito?
Fernando Brito e Francisco tão muito bonzinhos.
Um diz que do MJ só saem gaguejos.
Outro diz que saem também platitudes e lero-lero.
Oh quem dera.
De lá, não sai é nada!
A verdade é que, inevitavelmente, o Moro não tem mais como esconder os tucanos nessa farsa.
Logo aparecerão nomes graúdos do tucanato. Anotem o que escrevi e esperem uns 8 dias.
Ta legal,saguy,vou anotar mesmo, pensar mais um pouco e esperar.
Não precisa ser fã da Highsmith para desconfiar que Catta Preta, antes que fique parda a situação, quando um desses delatores resolver delatar como se deram as delações, acha bom estar a léguas e léguas de distância do epicentro do terremoto judicial que seguir-se-á, de preferência sem chances de depoimentos e/ou extradição. Se o curso do imponderável apressar o desfecho, a farsa explode e juntos, Casa Grande, República do Paraná, Catta Preta e a condômina elite do atraso e aspirantes, para o bem do Brasil, justo, moderno e democrático.
A lama do Brasil verdadeiro começa a transbordar pelos dutos de sua elite nefasta.
Ninguém de bom senso deve acreditar nessa Sra.
Tudo em perfeitamente montado pela república do Paraná.
Quebrem o sigilo telefônico do Moro e vão ter várias ligações com a Dra.
Vejo de outra forma. A advogada Beatriz Catta Preta defendeu a maioria dos delatores (os principais) e teve livre acesso a todos antes de uma possível "construção" de um texto a ser "delatado" por todos seus clientes. Algo que gera convicção nas delações...
Isso é ético? A Justiça não deveria permitir que UM(A) advogado(a) defenda mais de um cliente no mesmo processo, principalmente se envolver delações... fica duvidoso o trabalho.
Será que as delações não foram "construídas" para que todos delatassem os mesmos fatos? Devemos considerar que a advogada conversou com todos delatores antes da versão final...
Ótima observação, muito pertinente. Coisa para profunda investigação da imprensa que não temos.
É verdade, Edson. Eu não tinha pensado nisto. A advogada pode ter costurado todas as delações dando-lhes um formato homogêneo. Na verdade as delações poderiam ter uma única autoria e, portanto não lhes faltaria coerência e consistência. Isto é muito grave.
Com medo a Catta Grana Preta com certeza deve estar. Tem muita gente poderosa dedurada - são tantos que, se acontecesse algo a advogada, seria difícil saber quem mandou.
Quem dançou mais uma vez miudinho foi o Cunha, pelo menos politicamente o caminho do presidente da Câmara vai ficando cada vez mais delicado.
Será que outros advogados vão querer continuar o processo de delação a granel do Moro? Logo agora, que haveria possibilidade dum doleiro ligado aos tucanos abrir o bico, seria estranho não aparecer nenhum advogado para costurar a delação.
O fato é que o Cunha desafiou muita gente, vem falando muito desde que foi denunciado pelo Julio Camargo, desafiou até o Moro. Então não custava a doutora juntar o útil ao agradável: aproveitar os seus honorários no exterior e, depois duma conversinha com os responsáveis pela Lava Jato, complicar ainda mais a vida do Eduardo Cunha.
Caro Fernando...
coo bacharel em Direito (UFPA), tenho muitas dificuldades de acreditar e/ou confiar em advogados! Mas, quanto às ameaças, penso, a dra. Catta Preta está dizendo a verdade. Aliás, desde a notícia de sua decisão, escrevi, aqui mesmo nesta caixa de comentário, que ela devia está sofrendo ameaças!
Já diz o ditado: "Quem tem Cunha tem medo!"
A advogada, falou que os honorários recebidos foram declarados a receita e recolhidos os impostos.
Como tem muitos envolvidos, é possível que algum dia saibamos quem esta falando a verdade... realmente, lendo tudo que sai na mídia, e os fatos, análises etc... melhor seria mandar todos ao paredão.
Cunha, Aécio, Estrelas Petistas, Rede Globo, Veja, FSP, Estadão sei lá quem mais? Isto seria possível....
Carlos SP- Zona Leste. 31/07/2015 às 7:40
Essa dona me lembrou aquela Venina da Petrobras...
por onde anda a loira, alguem sabe?
Bem lembrado Eduardo. Eu sabia que tinha algo parecido com essa entrevista. Fazem o trabalho sujo e depois somem.