A entrevista de Pizzolato ao Estadão

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Reproduzo abaixo a entrevista de Henrique Pizzolato ao Estadão, publicada hoje.

Observe que o Estadão põe um título que não tem nada a ver com o teor da entrevista, cujo ponto principal é a argumentação com que Pizzolato defende sua inocência.

Nenhuma das auditorias realizadas pelo BB, lembra ele, detectou o desvio de um centavo do Fundo Visanet.

A própria Visanet, uma empresa privada, não detectou o desvio.

Tanto é que o BB e Visanet nunca entraram na justiça pedindo a devolução do dinheiro.

O dinheiro foi aplicado em campanhas publicitárias. R$ 5,5 milhões foram para a Globo.

O Globo até tentou forçar a barra, dando manchete, há alguns meses, dizendo que o BB iria cobrar. Era mentira. O BB jamais cobrou porque os documentos todos apontam para a regularidade do processo.

O sistema do BB, como de todo grande banco moderno, e sobretudo de um banco público, é cheio de travas internas.

Imaginar que um servidor pode desviar, sozinho, R$ 74 milhões, é um delírio que somente o ambiente delirante da Ação Penal 470 poderia criar.

Abaixo, um trecho da entrevista:

Estado – O sr. se sente uma vítima?

Pizzolato: Da má Justiça do Brasil. A liberdade de imprensa não se pode confundir com a liberdade de calúnia. Depois, com isso, fizeram um processo. Antes de o processo começar, a imprensa já tinha me condenado. E não era algo simples. Me lincharam em praça pública ao ponto de que eu não poderia me mover. Minha família estava sendo molestada. Não leram os documentos. A Folha, O Estadão, a Globo. Todos tinham os recibos do processo. Uma auditoria foi realizada e tudo foi usada em marketing. Não era um banco pequeno. Era o maior da América Latina e com todos os controles. Eu não tinha autonomia para mover um centavo. Tudo era feito com computadores. Mas fizeram uma história. Todas as contas foram aprovadas e não por uma pessoa ou duas. Mas pela auditoria interna, externa, o tribunal de contas, a Bolsa de Valores e ainda com ações em Nova Iorque. Ninguém encontrou que faltava algo.

Estado – O Mensalão então não existe?

Pizzolato: Com o dinheiro do Banco do Brasil não faltou um só centavo. Era impossível que alguém pegasse o dinheiro. Trabalharam com a fantasia popular. Era como se alguém pudesse sair de um banco com uma mala de dinheiro. Os bancos não trabalham mais assim. Agora, para cobrir a outras pessoas, fizeram uma história para fazer oposição. Se você quer fazer política, faça com propostas. Me crucificaram.

*

Abaixo, a íntegra:

Entrevista: Henrique Pizzolato

Ex-diretor cuja extradição foi negada busca documentos italianos que tem direito por ter dupla cidadania

‘A política sempre foi suja’

Por Andrea Bonatti e Jamil Chade

08 Novembro 2014 | 16h 23

Itália- Henrique Pizzolato reapareceu em público neste sábado, 8, ao ir à delegacia de La Spezia buscar documentos apreendidos em fevereiro. Desde que teve a extradição negada pela Itália no mês passado, sob alegação de que o Brasil não oferece condições de segurança para o cumprimento da pena de 12 anos e 7 meses a que ele foi condenado no julgamento do mensalão, o ex-diretor do Banco do Brasil tem os mesmos direitos de um italiano livre.

Pizzolato responde em liberdade por falsidade ideológica – ao ser abordado na casa de um sobrinho em Maranello, quatro meses após fugir do Brasil, o ex-diretor mostrou um passaporte em nome do irmão, morto há mais de três décadas. A Polícia Federal brasileira também o indiciou por falsidade.

La Spezia foi o primeiro refúgio do ex-diretor na Itália. Depois de esperar o horário de almoço dos carabinieri, recuperou seus documentos. Diante do prédio, Pizzolato disse que não falaria com jornalistas brasileiros. O repórter o informou que estava a serviço do Estado. Por 30 minutos, Pizzolato reiterou sua inocência e disse que o mensalão foi “criado” para minar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A política é suja.”

Estado – O sr. viveu um momento duro?

Pizzolato: Não. Na verdade, vivi melhor que no tempo que estava no Brasil. No Brasil, eu não poderia sair do meu apartamento. As pessoas me agrediam, me molestavam. As pessoas, quando eu passava pela calçada, me agrediam.

Estado – Hoje, o sr. é livre.

Pizzolato: Sempre fui um homem livre. Não fiz mal algum. Temos todas as provas no processo. Não foi um processo pela Justiça. A política é suja e sempre foi assim. Isso é triste. Eles acham que podem fazer o que querem com as pessoas. Não se pode prender uma pessoa, destruir uma família para ter mais poder.

Estado – O sr. se sente uma vítima?

Pizzolato: Da má Justiça do Brasil. A liberdade de imprensa não se pode confundir com a liberdade de calúnia. Depois, com isso, fizeram um processo. Antes de o processo começar, a imprensa já tinha me condenado. E não era algo simples. Me lincharam em praça pública ao ponto de que eu não poderia me mover. Minha família estava sendo molestada. Não leram os documentos. A Folha, O Estadão, a Globo. Todos tinham os recibos do processo. Uma auditoria foi realizada e tudo foi usada em marketing. Não era um banco pequeno. Era o maior da América Latina e com todos os controles. Eu não tinha autonomia para mover um centavo. Tudo era feito com computadores. Mas fizeram uma história. Todas as contas foram aprovadas e não por uma pessoa ou duas. Mas pela auditoria interna, externa, o tribunal de contas, a Bolsa de Valores e ainda com ações em Nova Iorque. Ninguém encontrou que faltava algo.

Estado – O Mensalão então não existe?

Pizzolato: Com o dinheiro do Banco do Brasil não faltou um só centavo. Era impossível que alguém pegasse o dinheiro. Trabalharam com a fantasia popular. Era como se alguém pudesse sair de um banco com uma mala de dinheiro. Os bancos não trabalham mais assim. Agora, para cobrir a outras pessoas, fizeram uma história para fazer oposição. Se você quer fazer política, faça com propostas. Me crucificaram.

Estado – De quem então é a responsabilidade?

Pizzolato: Da oposição. O que eles queriam? Tomar o poder. Não estavam satisfeitos que um trabalhador, como Lula, estivesse no poder. Há 500 anos o comando do Brasil mudava de mãos entre as elites. Agora, viram chegar à Lula.

Estado – Alguns dizem que o Brasil apresentou documentos fracos justamente para evitar sua extradição.

Pizzolato: Eu não sei. O problema no Brasil é que o processo está errado.

Estado – O sr. temia por sua vida nas prisões brasileiras?

Pizzolato: Todos dizem isso. A ONU diz isso e até os ministros. A entidade Conectas e a Anistia também defendem isso. As prisões são medievais. As pessoas são tratados como animais.

Estado – Do que o sr. vive hoje na Itália?

Pizzolato: Eu sou aposentado. Trabalhei mais de 30 anos. Sempre tive uma previdência privada. Desde o primeiro dia que trabalhei, paguei minha pensão. Há 20 anos eu já vinha na Itália para falar sobre a previdência, na Holanda, na Suíça. Por 32 anos paguei minha pensão

Estado – O que o sr. pensou ao saber que Dilma Rousseff tinha sido reeleita?

Pizzolato: Eu não estava sabendo. Eu não poderia seguir a eleição. Eu não assistia muito à televisão. Eu sabia que estávamos na época de eleição. Mas não sabia o dia. O Brasil, de pouco à pouco, andará adiante.

Estado – Como ocorreu sua fuga? Cruzando a fronteira?

Pizzolato: Ali tudo foi uma fantasia. As pessoas precisam da fantasia. Talvez, um dia, uma parte da imprensa vai entender que a calúnia não faz parte da liberdade de imprensa. A imprensa precisa trazer informações, e não ficção. Se alguém quer fazer um romance, avise que é um autor de ficção. Eu sou feliz, realizado. Não perco uma noite só de sono. Eu sabia que era inocente. Tínhamos todos os documentos. Mas eu não achava que se poderia tomar uma decisão sem documentos. Primeiro, fizeram a historia e depois colocaram os personagens. Em 2007, o juiz (Joaquim Barbosa) disse para a imprensa que ele fazia a história primeiro para que as pessoas entendessem. Existem 3 mil páginas de recibos originais. Está tudo ali. Mas, se você é fraco, te metem ali. Leia Kafka. E como você faz?

Estado – Mas por que o sr. fugiu?

Pizzolato: Para me salvar.

Estado – Mas como isso ocorreu de forma concreta?

Pizzolato: Como fizeram os italianos para fugir dos nazistas? Era a guerra. Era a sobrevivência. Eu não prejudiquei ninguém. Eu encontrei uma maneira de proteger a minha vida. Jamais trairei o princípio que meu pai e meu avô me ensinaram. A Justiça tarda, mas vem. A todos que me atacaram, a Justiça se fará sentir. Talvez não no tempo que eu queira. Mas a história escreverá (a Justiça). Não tenho vocação de ser herói. Mas apenas de fazer Justiça. Sempre estive ao lado dos mais fracos.

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11 respostas

  1. Sem dúvida uma farsa, iniciada pelas declarações de um canalha confesso ! Chumbo grosso em cima deles agora ! Que motivos levaram o PT a afrouxar diante da perspectiva de abrir uma CPI da Privataria ?

    O Partido tem que descer de cima do muro, reescrever a história pela ótica dos vencedores e colocar no limbo o projeto de desmonte do Estado Brasileiro levado a cabo por FHC e seus pistoleiros.

    Fico estarrecido pelo fato do Ministro da Justiça ter se omitido criminosamente e mais uma vez diante das declarações do Gilmar Mendes em relação à composição do STF, parece que ganhamos as eleições mas não governamos o País.

  2. Infelizmente é isso mesmo. De novo ganhamos a eleição mas não governamos. Ou melhor governamos um pouco e não governamos muito.

  3. Esse julgamento tem que ser refeito. O STF deve isso à sociedade brasileira. É inacreditável o silêncio das instituições como OAB. Esse negócio de que decisão judicial não se discute não tem nada a ver com democracia. Tem-se, sim, que obedecer a decisão da justiça, não há dúvida, pois estamos num Estado de Democrático de Direito, e isso não impede o direito das pessoas se indignarem e de exigirem justiça.

  4. O sistema não é Bi cameral todas votações tem que passar pelas 2 casas congresso e senado como não aparece nem um senador comprado poe esse mentirão e olha que o gov. não tinha maioria no senado e no congresso tinha maioria com folga [ só queria entender me explica].

  5. E o Lula?
    Ele prometeu que o cargo de presidente o impedia de comentar o julgamento do mensalão e ao deixar a presidência colocaria a boca no trambone. Com a palavra (tardia), o presidente Lula.

  6. O PIG “jamais” vai admitir que o “mensalão” foi uma farsa e depois carimbada por outra farsa chamada Joaquim Barbosa. Mesmo que se encontrem todas a provas desmentindo o mensalão o PIG vai se fazer de morto. A grande imprensa brasileira não tem caráter. Aliás nunca teve. O que se quer agora é fazer o povo esquecer o “tal” mensalão e trazer novos combustíveis (literalmente) contra o PT (ou a Dilma) com a história da Petrobrás. Falaram no início que o rombo era de 10 bilhões. Agora dizem que vão recuperar 500 milhões ou seja, “só vai ficar faltando” 9,5 bilhões. Oras com quem está estes “trocados” que a mídia disse que existiam? Será que o PT, sozinho, conseguiu dar cabo desta “pequena quantia? Ah!!! já sei. O filho do Lula comprou em fazendas, aviões, Fribois, jatinhos, mandou fazer aeroportos nas terras do titio e, principalmente, comprou uma frota de helicópteros p/ transportar cocaína.

  7. Armaram uma farsa,a oposição e o pig,mas não deu certo,pois a meta era acabar com o governo do LULA,não deviam ter confiado no PTB do tal jeferson.

  8. Não seremos um POVO livre, se continuarmos com uma MIDIA deste jeito.
    Com gente não informando mas deormando.
    Sem informações reais e verdadeiras estamos nas mãos de um inimigo
    continuo da nossa liberdade.
    temos obrigações com nossa Juventude e crianças.

  9. A liberdade de imprensa no Brasil é liberdade de derramar a bilis sobre os adversários.

  10. A Imprensa no Brasil está à serviço de poderosos, sem que legislação pertinente seja aprovada, é melhor sem lei. A população sem informação é a vítima, os poderosos comandam a opinião e o loteamento de dinheiro público. Sem lei para as comunicações serão mais 50 anos de domínio da direita burguesa, a força vencedora comandada por 10% da população em detrimento de 90%. VERGONHA!!!!

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