Erra quem diz que a provável eleição de Artur Lira e o triunfo aberto do Centrão na eleição da Câmara dos Deputados representa a volta da “Era Cunha”, quando o sujeito que roubava e chantageava “em nome de Jesus” mandava no parlamento brasileiro.
Desta vez o processo é outro, bem diferente daquele onde um governo era chantageado e pressionado por uma quadrilha parlamentar.
Desta vez é um governo de quadrilha que estende seus cordéis sobre os movimentos da Câmara dos Deputados e que a faz uma ferramenta de sua criminalidade, quando não penal, certamente moral e ética sobre o país.
É nesse contexto que deve ser lida a suposta ameaça de Rodrigo Maia de abrir, antes de deixar o cargo, os mais de 60 processos de impeachment que, durante todo o tempo “segurou” em nome da governabilidade.
Sim, é fato que Maia sai menor do que entrou, quando posava de “dono da cadeira”, mas sua atitude tem o valor simbólico de uma guerra política que, agora, não terá mais a hipocrisia “diplomática” com que era travada, com juras de que teria apoio tudo “o que fosse bom para o Brasil”.
Maia ficará mal de todo o jeito, mas ficará pior se tratar, como tratou de tudo até agora, com gaguejantes “notas de repúdio”.
Nada do que faz ou que ainda fará Jair Bolsonaro é bom para o país, simplesmente porque não é esse o seu objetivo, mas o de se perpetuar no poder e estender o mando de sua milícia governamental a todas as instituições públicas.
E o plano, para quem não o tinha claro, está evidente agora: comprar o que é comprável da direita e destruir nela todos os que aspiram ter luz própria: Moro, Doria, Maia e quem mais vier…
Mas a direita surrada e maltratada por Bolsonaro não consegue ver que só poderá a ser viável politicamente se houver uma força – e esta força ela não tem – capaz de enfrentar e destruir o bolsonarismo expandido.
Não tem porque a ele se acumpliciou em 2018, dele tentou servir-se após a posse, com cargos e/ou influência e pautas neoliberais e, até agora, ao decidir enfrentá-lo, sempre recuou na “Hora H”.
Enquanto não passar a apoiar decididamente a reintegração de Lula ao processo político – e sabe que com ele há diálogo e acordos a serem honrados – e continuar na conversinha de “mas, e o PT?” vai continuar sendo pisoteada por Bolsonaro.
O Brasil está no limiar de um novo e dantesco degrau de crise econômico-social e sanitária. Dono de todo o poder, Bolsonaro é também dono de todo o desastre.