A Globo e os impostos

6-14-13-Stellan-Skarsgard

Reproduzimos artigo impecável do Paulo Nogueira.

O ator sueco e a sonegação da Globo

Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.

Stellan Skarsgard é um ator sueco.

Aos 63 anos, um dos favoritos do cineasta Lars von Trier, tem uma carreira vitoriosa que lhe trouxe fama e dinheiro. Recentemente, ele concedeu uma entrevista na qual reafirmou seu amor pela Suécia.

“Vivo na Suécia porque o imposto é alto, e assim ninguém passa fome. A saúde é boa e gratuita, assim como as escolas e as universidades”, disse ele. “Você prefere pagar imposto alto?”, lhe perguntaram. “Claro. Se você ganha muito dinheiro, como eu, você tem que pagar taxas maiores. Assim, todo mundo tem a oportunidade de ir para a escola e para a universidade. Todos têm também acesso a uma saúde pública de qualidade.”

Skarsgard nasceu e cresceu numa cultura que valoriza o pagamento de impostos. Por isso a Suécia é tão avançada socialmente. Impostos, como lembrou ele, constroem hospitais, escolas, universidades. Pagam professores e médicos da rede pública, além de tantas outras coisas positivas para qualquer sociedade.

Essa cultura vigora também na Alemanha. Recentemente, o presidente do Bayern foi para a cadeia por sonegar imposto. Quando o caso eclodiu, as autoridades alemãs fizeram questão de puni-lo exemplarmente sob um argumento poderoso: nenhum país funciona quando as pessoas acreditam que podem sonegar impostos impunemente.

Agora, vejamos o Brasil. Há anos, décadas a mídia alimenta uma cultura visceralmente oposta. Imposto, você lê todo dia, é um horror. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo (o que é mentira). Imposto é uma coisa injusta. Bem, a mensagem é: sonegue, se puder. Parabéns, caso consiga.

Não poderia haver coisa mais danosa para os cidadãos do que esta pregação diuturna da mídia. Você os deforma moralmente. Tira-lhes o senso de solidariedade presente em pessoas como o ator sueco citado neste artigo.

Além de tudo, a cultura da sonegação acaba chancelando os truques praticados pelas grandes companhias de mídia para escapar dos impostos. Considere o caso célebre da sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

Nestes dias, vazou toda a documentação relativa ao caso. Uma amostra já tinha vindo à luz – na internet, naturalmente – algum tempo atrás, num furo do site Cafezinho. Só a cultura da sonegação pode explicar o silêncio sinistro que cerca este escândalo fiscal.

Até aqui, a Globo não deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido. Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita. Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.

E a mídia?

Bem, a mídia finge que não está acontecendo nada. Contei já: quando o Cafezinho publicou os documentos, falei com o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila. Ponderei que era um caso importante, e ele aparentemente concordou porque logo a Folha fez uma reportagem sobre o assunto. Uma e apenas uma. Em seguida, a sonegação da Globo sumiu da Folha para nunca mais retornar.

Se conheço as coisas como funcionam nas redações, um telefonema de um Marinho para um Frias – as famílias são sócias no Valor — pôs fim à cobertura. Volto a Stellan Skarsgard. Em todo país socialmente desenvolvido, pagar impostos é uma coisa sagrada. E sonegá-los é um ato de lesa sociedade, passível de punição exemplar.

O Brasil sofreu uma lavagem cerebral da mídia. Uma das tarefas prementes de uma administração sábia é desfazer essa lavagem. Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.

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13 respostas

  1. Fernando, lembra do elefante branco da campanha do Collor? Descobri agora, não era só o Estado saído da ditadura que era o elefante branco (campanha aparentemente racional, verdadeiramente dissimulada para entrar com as reformas neoliberais no país). Aliás, aquele não era o elefante branco, mas o cavalo de Tróia das idéias neoliberais. O verdadeiro elefante branco do dinheiro público é a Globo.

  2. Thomas Piketty economista francês, autor do livro “Capitalismo no século XXI”, mostra que o modelo econômico aumentou a desigualdade nos últimos 30 anos com a concentração de renda. Isso acontece porque o retorno financeiro (de aplicações, alugueis e lucros) cresce mais que os salários. Assim, quem tem dinheiro sobrando e investe multiplica sua riqueza de forma mais rápida do que quem a produz. Ele não conseguiu informações no Brasil s/ renda porque aqui é proibido divulgar os rendimentos declarados na receita, justamente um país de maior desigualdade. Isto comprova que resquício de escravidão permanecem no Brasil o que depõem s/ sua democracia.

  3. O que nós, que pagamos impostos e somos obrigados a declará-los anualmente, sem erros, sob pena de cairmos na Malha Fiscal, a Globo faz tranquilamente. Resta saber a razão desse silêncio da Receita Federal. O problema é dela, está pra ela resolver, então a gente quer saber por que não o faz.

    1. è isso mesmo, Maria. A Globo sonegar é condenável mas compreensivel. Dificil é entender esse silêncio da Receita. Só tem medo da Globo que tem rabo preso. Essa turma da Receita nos deve explicação. Os jornalistas deveriam estar correndo atrás dos responsáveis pelo caso lá e não da Globo.

  4. Corroborando com o Alberto Martins Soares -do comentário acima- nós temos é que abrir a caixa preta deste processo, pô! Como que numa investigação da Petrobras (Passadina) vaza deliberadamente até conversas confidenciais de seus executivos preparando-se para os depoimentos (o que é absolutamente certo e legítimo)e a Globogolpe tratou e demonizou em seus veículos como crime e ela a própria Globo deve ao POVO BRASILEIRO, mais que os suposto prejuízos da Petrobras, mais que dois “Itaquerão”, ou um Maracanã, ou dois “Beira-Rio” e ninguém consegue PERSEGUIR o PROCESSO! Talvez se a DILMA REELEITA, troque o Zé da Justiça, aí a PF ache e divulgue o andamento do processo. Até lá temos que contar com a colaboração valiosa dos “Blogueiros Sujos” para informar toda uma Nação. Este é o País desenvolvido…para os Barões Podres da nossa mídia picareta.

  5. Além de todos esses motivos, é injusto o trabalhador ter o imposto recolhido na fonte, centavo por centavo, e os ricos sonegarem com a maior cara de pau e o sistema os proteger.
    Minha irmã trabalha dois períodos em escola pública e privada. Ganha muito mal, é explorada, pois professor não vale nada no Brasil, e a Receita não sossegou enquanto não conseguiu taxar a pobre coitada de rica: em tempo, cria sozinha uma filha, não ganha mais que 2800, líquidos, ainda assim é uma sonegadora que precisa ser castigada.
    Um rico tem até ajuda especializada para sonegar melhor.
    Este Brasil nos dá vergonha e asco.

  6. Um bom começo é pressionar o Congresso a votar a lei do DIREITO DE RESPOSTA; o STF, Gilmar Mendes, dar seu voto e liberar a votação do FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA, que Ele engavetou; e a SOCIEDADE BRASILEIRA, Nós, pressionarmos a LEY DE MÉDIOS e a REFORMA POLÍTICA. Sem isso continuaremos a ‘ENXUGAR GÊLO”. Depois criaremos a TV BRASIL e a VERDADE será propagada por esse NOSSO BRASIL!!!

  7. Minha impressão (e ela pode estar contaminada por anos e anos de mídia conservadora) é de que os impostos que pagamos vão para os bolsos de políticos de todos os níveis, com seus super privilégios, para suas famílias e comparsas, além dos super faturamentos de tudo, desvios de dinheiro público, relações promíscuas com empresas, etc. Então acredito eu que as pessoas tenham muita raiva de pagar impostos mesmo, pois não vão para serviços de qualidade para a população, e sim para luxos dos políticos.

  8. O artigo é em questão é interessante até certo ponto. Até o ponto a partir do qual convergisse com a seguinte questão: se fosse verdade e se fosse mentira. Se fosse verdade que existissem sociedades desenvolvidas e atrasadas. Se fosse verdade que Suécia fosse o exemplo dado pelo autor. Se fosse verdade que o “ator exemplar” fosse mesmo exemplar. Se fosse mentira que o fato dele ser rico não significasse uma extorsão ou uma forma de sonegação dos impostos da periferia do sistema-mundo. Se, enfim e em começo, fosse verdade que o norte rico vivesse por conta própria. Se não fosse mentira que o norte rico, a Suécia, por exemplo, não vivesse de nos extorquir, de sonegar-nos e matar-nos. Se fosse verdade que pudéssemos usar essas categorias, desenvolvidos e não desenvolvidos.

  9. POR ISSO É SEMPRE BOM COLAR A IMAGEM DE CORRUPTO AOS GOVERNOS (FEDERAL, MUNICIPAL, ESTADUAL). MELHOR QUE FIQUE COMIGO A GRANA DO QUE COM OS “LADRÕES” DOS GOVERNOS.

  10. “Até aqui, a Globo não deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido. Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita. Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.” Por que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário não se manifestam? Parece um deboche, um escárnio deliberado, sabendo que o sonegador é mais forte que a sociedade e o seu estado. Como explicar isso? Como, por exemplo, fazer educação no país com essa realidade, exigir comportamento civilizado do aluno em sala de aula? Como falar sobre direitos humanos, sobre cidadania?

  11. É necessário abrir o debate em relação a democratização da comunicações no Brasil. Comunicação é um direito e por tanto deveria ser uma obrigação do estado. Na ditadura se fez opção pelo modelo privado de comunicação no Brasil. O resultado desta política foi que, hoje, a comunicação é vista como um negócio, como um produto e não como um direito social. O que é vê na mídia hoje é o whishfull sinking, ou seja, o “pensamento único” imperando na mídia. Na há democracia na mídia. Não há debates sobre temas políticos na mídia. Quando ela aborda um tema, os convidados pensam da mesma forma, não há um contraditório. Não há diversidade na mídia. Só importa o que é comercial, não o que é de interesse social. É necessário mudar urgentemente esse modelo. O resultado foi que a família marinho hoje é a mais rica do Brasil e só se vê na mídia o que interessa comercialmente a empresa desta família e não o interesse do povo Brasileiro. Lei da demicratizaçao da comunicação já!

  12. Normal o silêncio da mídia, é esperado. O problema é o governo federal não enfrentar a questão. Porque tem medo.

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