Como era previsível, cumprido seu papel de encobrir a verdade, dá-se por desaparecida a tal “Terceira Via”.
É possível, claro, que saia uma candidatura que reivindique o magro espólio da lenda, porque se promete, para o dia 18 de maio, o resultado do jogo, que se assemelha agora à velha tradição da “purrinha”, onde os garotos escondiam, na mão fechada, 3,2, 1 ou nenhum palito de fósforo e tentavam adivinhar o total.
Faz-se, agora, com os pontos nas pesquisas o que se fazia com os palitinhos e, na roda, sobraram quase só os que vêm de “lona”, como chamávamos os que tinham a mão vazia, mas que fingiam ter muitos.
Sergio Moro foi posto para fora, porque quis se imaginar o “dono do pedaço”; Ciro Gomes monta a banca do “eu sozinho”, que atrai metade do que seu “nem-nem” reuniu em 2018; tudo retirando o foco do que, amargamente, são as consequência de termos um governo que não é de conservadores, simplesmente, mas de autoritários, fundamentalistas e se conserva no poder pelas ameaças, pelos confrontos e pela sustentação do que há de pior na vida pública.
Finge-se que o importante é “evitar a polarização”, como se fosse possível que, diante do que temos, existisse outro caminho senão exorcizar a possibilidade – que não é insignificante – demais quatro anos disso. Ou mais, até, porque a eternidade é parte integrante da ideia dos que pensam o país como um Reich.
A verdade está na realidade, não no que se possa devanear, até quando isso se faz de boa-fé.
Sérgio Rodrigues, na Folha, define com precisão o que forma o núcleo do que enfrentaremos em outubro: “nunca uma galeria tão escancarada de deformados morais, abusadores sexuais, pistoleiros literais e metafóricos, santinhos do pau oco, carreiristas cínicos e corruptos se agrupou sob uma mesma bandeira”.
Quem ficar no jogo de palitinhos e desconhecer o cenário real ajuda a dar sobrevida a este agrupamento horrendo, que já mostrou que não vai para uma eleição, mas a uma guerra.