Agora é “Fora Quem”?

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Neste Brasil  reduzido ao maniqueísmo pela negação da política – a única coisa que permite dividir o poder e fugir do autoritarismo – faz-se o caminho célere para a ditadura, a perda da capacidade de convívio e a necessidade – que é própria destes regimes – de ter sempre um inimigo a destruir, massacrar e, agora, de preferência, prender e condenar.

É certo que toda a sociedade tem disputas e as suas disputas têm uma arma, a única que permite duelar na democracia: o voto.

Essa, porém, foi deixada de lado.

Agora, o mecanismo de poder é polícia, procurador, juiz, ministro.

O governo Dilma tinha problemas? Derrube-se-o. Lula poderia ajudar a superar a crise política que o tragou. Proíbam-no de ir para o Governo.

Os problemas morais? Nunca foram levantados quando Eduardo Cunha serviu aos propósitos de chantagear e enfraquecer o governo legítimo. Nem quando Renan se prestava a por a votar o seu impedimento.

Pelas nossas barbas foram-se passando os mecanismos do autoritarismo.

O Supremo aprovou, sem oposição visível, uma regra que impede que uma decisão liminar, individual, seja revista por tempo imenso, porque só o plenário o pode fazer e, quando interessa, não o faz. Como não o fez em relação àquela em que Gilmar Mendes impediu a nomeação de Lula para a Casa Civil.

Agora, estes mecanismos de poder incontestável se voltam contra os novos donos do poder.

Por mais que as coleiras da mídia conduzam a matilha ensandecida apenas contra o “inimigo seletivo”, como foram as de domingo, faz-se estrago sobre estrago.

Li, no blog de Alexandre Coslei, um texto que define bem o que passamos:

Para manter a perversidade do status quo é preciso fomentar a intolerância, o ódio, a irracionalidade. Democracia ou guerra, diz a líder do STF. Irracionais não gostam da liberdade que escolhe trilhar seus próprios caminhos, não aceitam compartilhar o leme. Medíocres enxergam o mundo como um sistema binário. Ameaçados, preferem lançar o navio às rochas crendo que irão sobreviver. Qualquer baixa é uma fatalidade irrelevante da operação, desde que tudo continue como está. Democracia ou guerra, range a ministra. O infecção extremista não oferece opções, é como uma faca, e toda faca traz em si uma única sugestão: o golpe, o corte, o rasgo, o rompimento.

O país está dilacerado e um país dilacerado não tem felicidade possível, porque as feridas nos tiram a racionalidade, a alegria, o sorriso.

E os que atiçaram os cães, os que os fizeram – e continuam fazendo –  sentir o gosto de sangue em suas bocas, agora  ainda não se deram conta totalmente que é contra eles que a matilha irá investir.

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