Alckmin, a imprensa e a água. Um show de incompetência, irresponsabilidade e politicagem

torrecantareira

Amanhã se completam dois meses que este blog, cá do Rio de Janeiro, vem azucrinando seus leitores sobre a situação dramática do abastecimento de água em São Paulo, quase que diariamente.

Àquela altura, havia 19,8% de todo o volume possível nos reservatórios do Sistema Cantareira e o principal deles tinha 15,5% de seus 800 bilhões de litros de capacidade.

Hoje, tem 12% e a principal represa vai baixar, amanhã, para 4%.

Qual foi a providência tomada pelo Governador?

Dar desconto a quem consumir menos água, correto.

Mas insuficiente.

Saíam, há dois meses, pouco mais  de  30 m³/segundo do sistema.  Hoje, saem 26 m³, 15% a menos.

Entram, na média de março e de abril, 13,8 m³, dos quais 3,2 m³ saem para os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ficando fora do balanço.

Não é difícil fazer a conta, não é?

Perde-se, todo dia, 1,6 bilhão de litros.

Na média, porque ontem, por exemplo, entrou muito menos água e a perda chegou pertinho de 2 bilhões de litros.

Hoje havia 118 bilhões de litros ainda, somadas todas as represas.

73 dias, isso se o sistema conseguisse funcionar até a última gota acima das comportas, o que não é provável que aconteça, porque as vazões passam a ser insuficiente para preencher os túneis de adução.

Que providência tomou o Governador?

Ressuscitar um projeto que já havia sido abandonado, por inadequado, pelos técnicos da Sabesp (quem testemunha é o engenheiro tucano Jerson Kelman, do Instituto FHC), o de tirar água do Rio Paraíba do Sul, porque isso permitia criar uma falsa disputa com o Rio de Janeiro e “federalizar” o problema.

No que o Datafolha o ajuda, agora, colocando “num balde só”  do risco de racionamento  o Cantareira, com 12% de água, e o Sistema Elétrico Nacional que, somando todas as regiões – que são interligadas e podem gerar, de forma quase indistinta, energia para qualquer região do país – que têm hoje, no total, 40,5% de sua capacidade de reserva.

Anteontem, este blog que não é, absolutamente, dotado de poderes paranormais, afirmou que a semana não terminaria sem que começasse, “de fato, o racionamento de água em São Paulo.”

Já começou, embora só hoje tenha sido feita uma reportagem com características de “curiosidade”.

Hoje, embora continue negando, Alckmin admitiu que pode partir para um “rodízio” no abastecimento.

Ora, “rodízio” é em churrascaria, Governador.

Entrar água por dois dias e secar em um é  r-a-c-i-o-n-a-m-e-n-t-o.

É essa a forma de racionar possível, porque de outra forma não é possível controlar o gasto.

O senhor não vai colocar estas simpáticas e prestativas senhoras que estão atuando como “guardiãs da água” do lado de cada torneira, de cada chuveiro, de cada vaso sanitário, não é?

Tão triste quanto este espetáculo de cinismo é o que a imprensa paulista faz.

Aceita qualquer versão.

Volume morto, que jamais foi usado e ninguém sabe o quanto poderá ser aproveitado, vira “reserva técnica”.

O racionamento vira “rodízio”.

As obras do bombeamento do Atibainha não mereceram um reportagem sequer. Ninguém sabe como andam.

As duas últimas saídas de água do Jaguari-Jacareí estão no estado que você vê na foto ao lado, publicada pela Folha sem nenhum tipo de informação.

Essa torre está 31 metros abaixo de seu nível máximo e resta 1,7 metro de água acima do final das grades da comporta gradeada que, como é obvio, admite cada vez menos líquido quanto mais o nível abaixa.

Este é o tamanho da cumplicidade da imprensa de São Paulo diante do problema e das atitudes de Geraldo Alckmin.

E da covardia da Agência Nacional de Águas, que não assumiu aos quatro ventos o que foi dito ao Governador em janeiro: racione, evite que isso tenha de ser feito de forma mais drástica e permanente.

Este blog, antes de defender ou atacar governos ou partidos, defende a responsabilidade para com a população e ataca tudo aquilo que possa submete-la a sacrifícios além do necessário.

E defende o jornalismo, que está num nível mais baixo que o do Cantareira.

Não é possível que, com todas as informações públicas, ao alcance de um clique de mouse , nem assim os jornais possam dar a dimensão de um problema que afeta e afetará por muitos e muitos meses oito milhões de paulistanos.

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16 respostas

  1. Irresponsabilidade de doer, os paulistas não sabem ainda como é a falta de água. Infelizmente os tucanos nunca ligaram para o povo mesmo. Quem vai pagar? O povo. As elites podem dar um jeito, sei lá… Será uma catástrofe sem precedentes, SP sem água, já que o nível está tão baixo, as reservas em tal situação e a população enorme. Cambada de tucanos burros.

  2. O pior é o contingenciamento financeiro que está ocorrendo na Companhia, contas de despesas e investimentos bloqueadas, não se gasta um único centavo, mas nada de oficial, simplesmente bloquearam tudo. Só estão sendo honrados contratos já em andamento e despesas já efetuadas. Fala-se que poderá haver drástica redução nos lucros, quase um bilhão a menos neste ano, comparado com o R$1,9 bilhão de 2013. A vaca está indo para o brejo, mas sem água.

  3. Agência Nacional De Águas = Anáguas
    Uma anágua (do espanhol, enagua) é uma peça da indumentária feminina utilizada por baixo da roupa (vestido ou saia), com o objetivo de inibir a transparência ou gerar volume.
    Quer definição melhor?

  4. Em “rodízio”, dona de casa previdente, se informada, estoca em balde, bacia, banheira; ordena a higiene e a preparação de alimento; acumula a roupa, louça…

    E a indústria? O comércio com pouca capacidade de armazenamento, que precisa de abastecimento contínuo? Férias coletivas até outubro?

  5. Morador da cidade do Rio de Janeiro, em 2010 assisti diversos comerciais da SABESP elogiando e oferecendo seus serviços de “excelência” de gestão do sistema de água e esgoto do Estado de SP. Estes comerciais invariavelmente terminavam com a frase: “Governo de São Paulo trabalhando por você”. Fazia parte da propaganda do PSDB em favor do candidato Serra.
    Mais uma vez vemos a forma tucana de governar e gerir: muita publicidade, nenhuma ação de gestão para minimizar riscos, não pensar o futuro e fazer a população pagar pela sua incompetência.
    Foi assim com o Real, com o racionamento de energia em 2001 e agora com o abastecimento do estado mais poderoso do país.
    E mais uma vez seus erros são acobertados pelo sistema midiático, que esconde, minimiza e faz campanhas para mostrar a população que a culpa é da natureza, nunca dos gestores.

  6. Isso é que é o modo tucano de governar. Que gestão eficiente. Mais os paulistas merecem aposto que Geraldo será reeleito.

  7. O Geraldo Falta Daguamin apostou que seguraria o racionamento até outubro. Perdeu playboy !! Agora fica inventando eufemismos, rodízio uma ova, é r a c i n a m e n t o puro, especialidade do PSDB.

  8. Não sei se haverá tempo da ANA se redimir. Acho que não. Resultado: o prejuízo político será compartilhado, ou pior a mídia pode tentar jogar nas costas da Dilma. E os candidatos a governador em SP que estão deixando Alckmin passar com toda essa irresponsabidade?…

  9. E sabem que ontem fiquei fuçando na Globo News pra ver se iriam mostrar a entrevista do Lula … nem uma só palavra. E me deparo com a seguinte notícia: ”Inflação no Governo DILMA”. Depois de umas reportagens cretinas internacionais (melhor do que falar do Lula) vem outra reportagem: ”SABESP admite RODíZIO de água”. É de uma cretinice gigantesca. Primeiro pq não se usa a palavra Racionamento e depois pq coisa ruim no Federal é culpa da DILMA, mas coisa ruim no estadual é culpa do povo, das instituições, até do ET de varginha, mas nunca se coloca os nomes Alckmin. Interessante como o jogo de palavras do PIG incute nas pessoas mais desinformadas uma visão péssima do Governo Federal e protege a crise de gestão. Estão na esperança de que chova, mas isso é impossível pois o meio do ano está chegando e a seca com ele. O que a mídia vai dizer quando acabar a última gotra de água? To pagando pra ver que mentira vão dizer.

  10. a agua, a minha é tua e o pior, sem duvida.
    Mas alem disso, sr alckmino chuchu, e as empresas que “queriam” investir aqui?
    E as que ja anunciaram, mas podem mudar de ideia?
    e os CONGRESSOS, eventos de negocios, hoteis? (a maior matriz do turismo em sp) E hospitais – estão fora disso?
    E os teus engenheiros, agora mesmo, na Sabesp ‘supraestadual” estarão trabalhando no detalhamento de alguma coisa? de alguma coisa dos antigos planos gerais B ou C – de modo que amanhã o caminho seja mais curto? E oferecerá aos candidatos a governador que possam vencer as eleiçoes um compartilhamento tecnico de informaçoes de forma se reduza um pouco o sofrimento futuro? ou vc tem certeza que vai se re eleger? o adversario vai dizer aos paulistas do interior: nao votem em quem agiu assim com a propria Capital, sabe, amanhã quem garante q nao agira com a mesma irresponsabilidade com voces?

  11. No jornal Metro distribuído nas estações do Metro de São Paulo e nos faróis de cruzamento. Circula de mão em mão. É bem procurado.
    Na pag. 6, chamada da matéria “Maioria apoia racionamento de água e energia” “Datafolha aponta que 74% dos brasileiros avaliam que o baixo nível dos reservatórios do país justifica a adoção de medidas restritivas por parte do governo.” (“RESPOSTA ESTIMULADA E ÚNICA. A pesquisa realizada entre 2 e 3 de abril, ouviu 2.637 pessoas em 162 cidades…”)
    No corpo do texto: “Ao serem questionados sobre a responsabilidade pela crise, 54% afirmaram que o governo federal tem muita responsabilidade. Já 52% acham que o governo estadual deveria responder pela crise enquanto 51% afirmam que as grandes empresas são as culpadas.”.
    Ao final da matéria: “O Ministério Público decidiu abrir um inquérito…. Para o promotor José Eduardo Lutti, a falta de chuva não é motivo suficiente para justificar a crise.”.
    Dá do jeito que o Diabo gosta…. A mídia montou o cenário da desinformação e do jogo político do governador de São Paulo. Essa história vai ser vendida em todo Brasil.

  12. “A presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Dilma Pena, disse nestta quinta-feira (10) que as projeções da empresa apontam segurança no abastecimento de água, sem necessidade de rodízio, até o final do ano, considerando o pior cenário de chuvas e a utilização da reserva técnica. Esta reserva técnica, também chamada de “volume morto”, é a água que fica no fundo dos reservatórios.”
    Ou seja a paulistada vai começar a beber lodo.

  13. O Gente Graças a DEUS, parece que esta chovendo nas cabeçeiras..
    UFA….tomara que dê tempo, senão vai começar a sugar barro…..
    E daí já viu…
    Cloro
    Sulfato de Alumínio
    Soda
    Flúor
    Da-lhe produtos químicos para poder limpar a água..
    E quanto mais suja, mais lento é o fluxo……

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