Alô, classe média: a precarização do trabalho vai pegar você

A classe média, tola como é, acha que a precarização do trabalho vai atingir apenas os “inferiores” – faxineiras, vendedores, a turma sem qualificação – faria bem em ler a entrevista do  sociólogo Ruy Braga, professor da Universidade de São Paulo, na Folha deste domingo.

Ele antecipa o que, no jornalismo, já sabemos que vem crescendo, a precarização do trabalho: não temos mais emprego, mas apenas trabalho sem direitos, em troca do benefício “imediato” de ser “pessoa juridica”.

O que nos faz de um momento para outro, não ser sequer “pessoa”, mas lixo atirado à rua.

Leia um trecho:

‘Precariado’ tende a se alastrar no
Brasil como nunca antes, diz sociólogo

Ruy Braga, em entrevista a Fernada Perrin, na Folha

Folha – O aumento da flexibilidade do emprego parece gerar uma tensão entre ganho de autonomia e perda de estabilidade. Como isso deve afetar o trabalhador?

Ruy Braga – O código de trabalho é uma espécie de armistício entre as partes, porque você define ali os limites de consumo de uma mercadoria muito especial, que é o seu trabalho. Se você não tem esses limites, você vai ter uma situação explosiva no país. Do ponto de vista do trabalhador é bom ter limites, mas como ocorre agora com a nova CLT o que você vai ter vai ser esse modelo: o garçom entra às 7h, faz uma jornada na parte da manhã, fica a tarde sem fazer nada e depois volta à noite para terminar.

Como regular a chamada “gig economy”, ligada a plataformas online, que ao mesmo tempo em que gera empregos, não garante cobertura trabalhista?

O exemplo típico [da gig economy] é o Uber, é o que talvez melhor expresse essas novas tendências na economia de compartilhamento. Em Londres e São Francisco hoje existe uma legislação específica para regular o trabalho do motorista de Uber. A mesma discussão está sendo levada adiante em Nova York. São cidades de países desenvolvidos com economias bastante modernas, que já começaram a rever essa liberdade total que é você ter um trabalhador que é dependente de uma empresa multinacional do setor de tecnologia, mas que na aparência ele está trabalhando para si próprio. Isso é uma falácia, porque ele depende dessa empresa.

A questão é como proteger o trabalhador dessas tendências que são deletérias. De fato, a tecnologia permite que você trabalhe 24 horas por dia. Mas isso é aceitável socialmente, é desejável? Esse é o problema que vivemos. É claro que a tecnologia permite várias coisas, a questão é o que vamos fazer como sociedade com esses horizontes. Precisamos definir o que é aceitável ou não.

A reforma trabalhista buscou adaptar uma legislação dos anos 1940 às novas tendências econômicas. Ela foi bem sucedida?

É uma falácia dizer que a CLT é dos anos 1940. Um estudo muito minucioso feito pela USP demonstrou que dos mais de cem artigos alterados, nenhum deles datava da década de 1940. A CLT foi passando ao longo das décadas por constantes revisões e alterações. O que a reforma fez foi uma desestruturação daquilo que estava mais ou menos pacificado no direito com aumento da insegurança jurídica, porque eles alteraram tanto a CLT em itens tão importantes, que isso entra em contradição até com a Constituição. Isso vai criar uma série de disputas, o que não é bom para o trabalhador e nem para o empregador.

O que você chama de “precariado”, hoje ainda mais ou menos restrito à base da pirâmide do mercado de trabalho, tende a se alastrar para as outras ocupações?

Não tenho dúvida. Basta você ver a questão da ‘pejotização’. Até recentemente, você tinha duas grandes tendências de precarização: o trabalho subalterno, que ganha até 1,5 salário mínimo, exercido por famílias de baixa renda vivendo em bairros mais periféricos, e a outra é o PJ [pessoa jurídica], exercido por setores profissionais, pessoas que foram para a universidade, que falam várias línguas e são qualificadas. Hoje ele tende a se alastrar como nunca antes.

Essa multiplicação aponta para uma tendência de polarização nesses setores profissionais onde você encontra as classes médias: publicidade, jornalismo, arquitetura, professores universitários. Você também tem isso na área de saúde, como no caso de enfermeiros e psicólogos. A tendência de ‘pejotização’ afasta essas pessoas da aposentadoria, dos direitos trabalhistas e sociais em benefício de uma renda insegura e jornadas muito longas.

Fernando Brito:

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  • ESTES SETORES DA CLASSE MÉDIA ESQUECEM QUE SÃO INSTRUMENTOS DE OCASIÃO. DEPOIS DE USADOS TEM O DESTINO DO PAPEL HIGIÊNICO

    • A classe média burra não sabe nem fazer conta.
      Em país tão desigual como o Brasil, é ela quem tem dinheiro para pagar o pato aos mais ricos, donos do golpe. Dos pobres, corta-se, mas tem pouco o que cortar. O bolso mais depenável e cobiçado pelos mais ricos é o bolso da classe média. Não é a toa que ela foi induzida ao longo do tempo a pagar por educação privada, por plano de saúde privado, por previdência privada, é quem mais paga impostos e quem mais paga tarifas.

    • São reutilizáveis. Esta classe média usa-se dos dois lados e depois joga no cesto de lixo.

  • Vai em frente e torne PJ você vai trabalhar h 16:00 por dia não terá férias não terá décimo terceiro não recebera em dia sou PJ e funciona mais ou menos assim fim do mês eles geram uma autorização de faturamento pra você o pg sai normalmente é 30 ou 45 dias depois
    Ai quando você recebe mesmo sendo um pouco mais que o salário vai tudo para pagar multa e juros de contas atrasadas mas seja feliz bem vindo ao mundo do PJ individual .seja um empreendedor é boa sorte

  • A classe média acha que a crise nunca vai chegar nela. Classe de bo.sta isso sim.

    • O Mal Amado e FEIOSO continua falando com seus fantasmas ? (rindo muito! sujeito burro!). Uma piada esse bufão cafajeste. VAZA bufão !

      • A BESTA ISKRA Bosta continua pagando mico!!!! Os homens aqui veem como o COVARDÃO não tem vergonha na CARA. Cai fora BESTA AMBULANTE que teus fantasmas devem estar puxando teus pés. Mico pulha e burro continua estrebuchando e falando sozinho !!!! hihihihi

  • Beep beeo boop
    E com os avanços tecnológicos - automação e robos - empregados nas linhas de produção, serviços, etc

    Beep beeo boop

  • 36 mortos para cada policial, adoro essas matérias bem feita por sociólogos que nunca enfrentaram um bandido armado e quando vão se é que vão mandam alguém na favela é para comprar uma ervinha ou um pó mágico para abrir a mente, concordo em exageros ,cometemos infelizmente mas eu espero que quem escreve ou goste dessa matéria não nos chame tenha fé para que o militante ou como vocês dizem desfavorecidos não coloque na agulha e apontem para a cabeça de vocês ou algum familiar e puxem o gatilho, porque na manhã esses mesmos jornalistas, sociólogos e familiares só irão pedir uma coisa justiça, aí eu quero ver ir na favela é falar para o dono da favela e pedir justiça e eu quero ver traficante ter consciência social e ajudar

    • Por suas colocações e muito mais é que considero polícia um *mal necessário*. Não preciso passar fome para saber como é.

  • Retrocedemos no tempo. Estamos na Idade Média quando grassava a escravidão. Naqueles tempos o cidadão endinheirado comprava um trabalhador que era pobre (geralmente negro) e o tal endinheirado tinha poder de vida e morte sobre o infeliz. Quando surgirá um novo Marx?

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