Em julho de 1944, quando os destinos da 2a. Guerra Mundial já estavam definidos, uma conferência internacional – essencialmente ocidental – criou as duas instituições que, durante mais de meio século, tiveram a hegemonia da relações monetárias e das condições de cooperação financeira entre os países do mundo.
Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial (então, Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) foram ferramentas importantíssimas na implantação do domínio econômico da potência vencedora – os EUA – sobre a face da Terra e o nascedouro do padrão-dólar nas relações cambiais, dando um indescritível poder a quem o emitia, pois passou não apenas a ser a referência de valor das moedas como, cruelmente, passou a ser mundialmente entesourado, permitindo a emissão de moeda sem o efeito inflacionário que isso traz: a moeda que não circula não gera inflação, obvio
A Europa, em frangalhos, pendurou-se na hegemonia norte-americana e, na economia – ao contrário do que ocorreria na política, meses depois, na Conferência de Yalta – o mundo tornou-se unipolar. A tentativa de escapar dela, pela Europa, primeiro através do Mercado Comum Europeu e, depois, pela unificação monetária no Euro, levou 50 anos, e deu uma sobrevida à decadente economia do Velho Continente que, se não podia mais projetar-se globalmente, como na primeira metade do século 20, ao menos conseguiu – aos trancos e barrancos e cada vez mais sob a batuta alemã – preservar a capacidade de, internamente, funcionar como bloco, ao menos até que as crises da dívida pública dos seus membros abrisse rachaduras como a da Grécia e Itália que lutam para remendar por lá.
Primeiro discretamente, ao longo dos anos 80 e da primeira metade dos 90, a China, de 1995 em diante, sai de um papel nulo na economia global para tornar-se, no século 21, uma grande locomotiva da economia mundial, praticando um misto de grande liberalismo na atração de capitais e seletivo protecionismo no seu desenvolvimento industrial, que a tornou o grande player do comércio mundial. E é obvio que com a formação de capital próprio abundante, queira um papel menos dependente e mais isolado na atividade econômica do mundo.
Nesta década, ela assumiu abertamente que quer fazê-lo através de um processo de cooperação muito mais comercial que financeiro, ao contrário dos EUA que sempre pretenderam o controle das economias internas dos países, quando não dos próprios países.
Deu dois passos gigantes, mas pacientes e sem manifestações de exclusivismo, até agora.
O primeiro, com a formação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura – aberto ao mundo todo mas, como o nome indica, voltado para sua afirmação geopolítica no continente e cujas possibilidades, mesmo com os muxoxos públicos dos EUA, não impediu que a Europa – Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha – e a Austrália aderissem à iniciativa, pelo potencial que tem para todo o mundo, inclusive o Brasil.
O segundo, em escala global, sinalizando que quer parcerias duradouras com líderes continentais (no caso da Índia, subcontinentais) de todo o planeta, hoje em processo de afirmação econômica. E que, somados, como relembra a nota do Ministério da Fazenda, hoje, “representa 42% da população mundial, 26% da superfície terrestre e 27% da economia global”.
O Banco dos Brics, ou Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), como é seu nome oficial é isso, mais do que a capacidade de investimento no curto prazo, e a prova mais convincente é a divisão igualitária da governança da nova instituição.
É o recado mais direto que se podia dar aos EUA, que resistem teimosamente a mudar as regras de participação e influência no FMI, cuja função de prover estabilidade monetária se confundiu com a de ser uma espécie de “polícia econômica” mundial, como os brasileiros acima dos 40 anos sabem que foi, para muitos e para nós.
É por isso que seu anúncio veio casado com – aí, sim, com a hegemonia chinesa, que tem imensas reservas cambiais e é o maior credor do Tesouro Americano – com a criação de um megacolchão monetário – US$ 100 bilhões – um fundo autogerido de reservas monetárias e cambiais para conter eventuais pressões cambiais dos países do BRICS e que, ao contrário do NBD, não exigirá aportes financeiros, mas a virtual disponibilização mútuas das reservas em caso de ataques contra as moedas dos cinco integrantes.
Chamo a atenção para o último parágrafo de nota de Joaquim Levy, que para bom entendedor é o bastante:
“O NBD é uma instituição aberta a qualquer país membro das Nações Unidas. Os países dos BRICS, no entanto, dada sua condição de membros fundadores, manterão um poder de voto conjunto de pelo menos 55%. Ademais, nenhum outro país individualmente terá poder de voto de um país dos BRICS. Esta previsão garante ao Brasil lugar de fala privilegiado na governança do Banco e possibilitará que os BRICS efetivamente possam ver suas experiências de desenvolvimento refletidas no primeiro Banco Multilateral de Desenvolvimento de alcance global estabelecido desde a instituição do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), criado na esteira da Segunda Guerra Mundial.”
O acordo de reciprocidade no uso de reservas e o banco, são, de fato, a primeira resposta – não de confronto, mas de preservação de soberania – dada à Era FMI.
12 respostas
Daí entende-se porque os EUA tentam quebrar a Rússia e colocar o Brasil em crise através da oposição de mídia e da idiotice parlamentares ruminantes.
O objetivo é fragilizar esses membros já de saída.
Não se espante de forem incentivados conflitos raciais na Índia.
Não se espante? O primeiro ministro Manmohan Singh que esta no barco de criação do banco junto com a Dilma, o Putin, o Zuma mais o chinês já caiu do galho e foi substituído pelo atual Narendra Modi que tem um perfil muito mais alinhado com as diretrizes americanas. É um processo de luta por hegemonia sem dúvida. O Modi propõe uma restauração de valores hinduistas e tem sua história política associada a conflitos raciais no seu estado de origem.
Os quatro comentários acima já disseram tudo.
Estamos entrando numa nova Era que os ignorantes da direita e da mídia não aceitam.
Sômos um país livre consolidando uma democracia.
VIVA o BRASIL!!!!
VIA LULA. VIVA DILMA!!!!!!!!!
Sidão Democracia de um partido só não existe, e se entrar o PSDB, PMDB, Rede ou qq outro partido, vai acontecer uma operação desmonte.Qual é a garantia que este caminho vai ser seguido, nenhuma.Viva a Democracia.
Nos dias de hoje não faz mais nenhum sentido a economia mundial ser dolarizada, isso significa que o nosso petróleo e nossas riquesas servem de lastro ao dólar, ao invés de servir de lastro para o Real.
Bom dia, a culpa é do PT, veremos no futuro uma nação verdadeira a todos nós brasileiros. E aqueles que falaram que roubamos dobraram o joelho quando um cidadão disser sou Petista!!
É de notar que, finalmente, os interesses da maioria da sociedade brasileira vão por um caminho próprio, com obstáculos, é verdade, enquanto nossa elite colonizada continua querer ir por aquele que remonta o tempo anterior à década de 1930. Vencer essa elite, que se expressa por uma Globo, por exemplo, é a grande meta. Calabares temos e teremos, inúmeros. Marinhos, Frias, Mesquitas, Gilmar Mendes, Moro e tantos outros são inimigos do Brasil, cuja História já sinalizou contra eles. E o melhor sinal tem sido o descrédito político e até moral. Com Lula no poder, o Brasil saiu dos trilhos da subordinação externa, rompeu com o sentimento de resignação da maioria da sociedade e desalojou nossa elite de seu conforto que, para ela, se parecia eterno. Bem vindos os conflitos que temos hoje! Sem eles não saberíamos quem é predador, nem quem é presa. Sem conflito não saberemos que são os verdadeiros inimigos do País, do desenvolvimento, da autonomia, da soberania. Hoje, graças ao contexto, sabemos quem são os verdadeiros bandidos, nossos verdadeiros inimigos, os verdadeiros predadores. Hoje sabemos que nossos inimigos não são os menores infratores, nem os que, muitas vezes, roubam porque estão com fome, mas os que saqueiam o Estado, sonegam impostos e que roubam o produto do trabalho social. Hoje, como nunca no Brasil, nossos inimigos estão sob a luz. Suas práticas estão reveladas. Seus crimes não estão mais escondidos. Salve Lula, Dilma e a esquerda progressista! Salve a Democracia!
Mais um dos seus posts esclarecedores. Obrigado, Fernando Brito, esta explicação didática e lúcida que nos permite avaliar de forma mais equilibrada e descartar o entulho que o PIG tendencioso tenta enfiar na cabeça do brasileiro.
Fernando isto tudo esta acontecendo porque o menino do Rio não levou a presidência , como se garante esta situação se lá na frente daqui 4 ou 8 anos, pode assumir um Presidente que vai boicotar este banco.
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Ouvindo As Vozes do BraSil e postando:
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Mais um outro poema (acróstico) para Dilma Rousseff, a depenadora de tucanus :
D ilma, mulher guerreira
I nteligência a favor da paz
L utadora pelo bem e herdeira
M aior de Lula, o bom de mais
A mpliando a felicidade brasileira
Ley de Medios Já ! ! ! !