Barbosa: um nome à procura da classe média racional

A entrevista do ex-ministro Joaquim Barbosa, conduzida pela inteligente Maria Cristina Fernandes, no Valor,  negando ser candidato mas se comportando como um faz lembrar, a quem o leu, o conto “O 22 da Marajó”, de Monteiro Lobato, onde um velho capoeirista agora convertido em “gente bem”, ensina que “não há solta sem negaça”.

Solta, explico, é a cabeçada forte, sem usar as mãos, que derruba o cidadão alvejado e, claro, negaça é o movimento típico do balanço do capoeira, indo para um lado para golpear no outro.

Não se encaixaria melhor que a descrição da repórter:

 O homem tem discurso de candidato, intenção de voto de candidato e biografia de candidato.
– O senhor é candidato?
– Não, não sou.
A negativa, curta e sem demora, era previsível. Se Joaquim Barbosa vier a ser candidato, não tem motivos para se antecipar ao calendário.

Dizendo que não é candidato, permite-se ser um perfeito tucano ao apontar caminhos para a superação da crise econômica, ficando num vago privatismo onde as empresas invistam por sua própria conta (quais, ministro, antes e quais agora, depois da Lava Jato?) e afirmando que reformas como a trabalhista e a previdenciária são – como todos sabem que são – importantes mas “talvez não com essa visão ultraliberal que se quer implantar, que mexem no cerne do pacto social”.

Em qual pescoço de gato vai ser preciso colocar o guizo, Barbosa não diz e responde à perguntas sobre como enfrentar as corporações, “a começar daquelas do Judiciário” dizendo que isso se fará “com liderança política, um presidente forte, legítimo, fortalecido pelo voto popular”. Se é verdade que é assim, falta dizer como o Judiciário paralisará tudo o que ferir seus privilégios.

Despreza Lula sem agredi-lo expressamente – e reconhece a condução política da Justiça contra o ex-presidente -, apenas aconselhando que se aposente e gaste o que ganhou em palestras:

“Acho que ele não deveria ser candidato. Vai rachar o país ainda mais. Já está em idade de usufruir da vida e do dinheiro que ganhou com suas palestras. Só que o estão empurrando para ser candidato, com essa cruzada que o coloca contra a parede. É um ódio irracional esse que apareceu no país”.

Em condições ideais, talvez pudesse ter razão e em nada eu duvido que Lula até pudesse preferi-lo.  Mas a gula da direita, desde 2013, pela “solução” golpista o empurrou – até tardiamente – para isso e, agora, é tarde demais para isso.

Pois, como registrou ontem a própria Dilma Rousseff, o que o golpe conseguiu foi erguer Bolsonaro e destruir o PSDB, ao qual só resta agarrar-se a uma versão chique do ex-capitão.

Como não mergulhou de cabeça no golpe – “O Brasil teve um processo de impeachment controverso e patético e o mundo inteiro assistiu” – conserva-se como gosta de estar, como alternativa palatável à parcela da classe média que ficou fora da histeria e crê estar fora da polarização.

A pergunta é o quanto restou de sanidade e se é possível responder ao dilema que Maria Cristina descreve ao final de seu texto, de forma magistral:

No seu romance mais político (“Numa e a Ninfa”), o escritor brasileiro da predileção do ex-ministro, Lima Barreto, constrói no personagem de um deputado arrivista a síntese do que chama de “pavor nacional do dia de amanhã”. É este o clima que invade a pré-campanha de 2018 num país bestializado pelo governo Michel Temer e pelo arregaço de suas instituições. Há mais de dez anos, a magistratura comanda o espetáculo com o qual a política tem um encontro marcado em 2018. Lima Barreto foi um dos melhores intérpretes de um país que transitou para a alforria e para a República, sem liberdade ou cidadania. Dizia que o Brasil não tem povo, tem público. É entre um e outro que Joaquim Barbosa parece hesitar.

A legitimidade na qual Barbosa diz apostar ser a chave para mudar não virá, certamente, de um público, personagem passivo e nem sempre tratado como “respeitável” no espetáculo do qual ele foi um dos pioneiros.

Legitimidade, nesta conflagração, depende de povo, este ser mítico que só aparece nos jornais quando se trata de CCC: crime, carência e catástrofe.

 

 

Fernando Brito:

View Comments (41)

  • O golpe, da globo, deve muito ao sr barbosa. No mentirão ele lançou os adjetivos que que q globo lhe deu e que governou a direitona no golpe terrível. Devemos a ele também o temer.
    Sua figura é, infelizmente, contaminada e triste.

  • O vagabundo só esquece de um detalhe pequeno: é um dos principais responsáveis por toda a atual desgraceira. E a maioria não esquece isso, como mostram as pesquisas. Vade retro, para o colo do Trump!

  • Cara de pau e totalmente inexpressivo. Só mais um oportunista tentando agarrar uma faísca do brilho do Lula. Ovo, muito ovo na cabeça desse traste que abriu o caminho para o inferno Macunaíma através do "domínio do fato". Muito ovo podre nessa cabeça de bagre ...

  • É de chorar o tamanho da hipocrisia desse sujeito! A desfaçatez sempre foi característica desse cidadão. Será mesmo que ele acha que não tem nada a ver com a situação do Brasil, de hoje???!!! Barbosa, vá à merda!!!

  • O CEO da Assas JB Corp deveria, antes de mais nada, responder por comunicação falsa de crime, que é o meu entendimento para sua acusação do desvio, que não houve, de 84 milhões do BB/Visanet.

    Pelo que li do assunto, chegou a ter constrangimento da parte do BB em cobrar tais milhões que não aparecem nos registros como tendo sido desviados de lá. Pelo que me consta, nem a Visanet tampouco cobrou devolução.

  • É um aliado da UDN(marinhos, febraban, fiesp, etc) ou esse cidadão esqueceu do "domínio do fato" para dizer que o Genoíno é quadrilheiro?

    A CIA tambem contou com ele. Ajudou com todas as letra a construir esse estado de ódio. Foi desse cara que nasceu os primeiros raios do estado de ÓDIO QUE REINA NO PAÍS . Portanto um IMORAL!

  • Barbosa eh e sempre foi de esquerda. Mas os holofotes e a vontade de aparecer, de mostrar que seria contra a corrupçao e nao abaixaria a guarda pro governo que o levou ao stf, o fizeram cair no discurso da classe media/rica.
    O justiceiro achava que estava dando liçao de moral, sem se atentar, num primeiro momento, que fazia politica.
    Hoje ele coloca o que pensa no twitter e eh esculachado por aqueles que o respeitavam. Foi contra o impeachment, eh a favor da derrubada de temer. Eh contra as reformas liberais.
    Diferente do moro, que quer realmente acabar com a esquerda, o joaquim barbosa queria se mostrar isentao e contra o a impunidade que sempre nos afligiu. Acordou do seu sonho e viu que a perseguiçao contra a impunidade e a corrupçao so vale contra a esquerda.
    Hj ele reclama do odio, mas foi o odio que ele ajudou a plantar.

    • O problema do JB não é ser partidário como é o Moro, ser de direita ou de esquerda, o problema dele é ter sido um juiz justiceiro, que confunde sua atuação com a de um promotor, mas ao menos ele era assim com todos, haja vista que foi o único que votou pela manutenção da ação do tucano Azeredo no STF.

  • Figura despresivel!

    Forjou um "dominio do fato".

    Trabalhou atendendo os interesses da UDN( globo, marinhos, fiesp, febraban, etc).

    Esse homem deu inicio ao processo de construção do ESTADO DE ÓDIO. Esse homem foi quem semeou o estado de ódio.

    O Brasil tem muito a não esquecer que foi esse homem. O Brasil não precisa dos conselhos de homem!

    Vive de gorda aponsentadoria. Vai aconselhar aquela turminha que FOI ouvi-lo em copacabana! Vai curtir tuas baladas na zona sul do Rio de Janeiro, o povo brasileiro pagará!

    O povo trabalhador não precisar ouvi-lo.

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