Só mesmo a proverbial estupidez da família Bolsonaro será capaz de não perceber que já se frustrou a tentativa de emparedar o parlamento com a “força das redes sociais”.
Açular suas tropas cibernéticas pode ter funcionado para torna-lo competitivo, mas ele deveria ter percebido que só chegou à presidência porque as “instituições” – notadamente o Judiciário e a mídia – o ungiram como “grande esperança branca” para enfrentar Lula – assim mesmo com este imobilizado e algemado.
A aposta de todos eles foi a de que, eleito, partilhasse o poder e disciplinasse seus radicais, mesmo que estes rugissem e esperneassem.
Não o fez.
Ao contrário, apostou no que era mais primário: a “pauta de costumes”, o ataque aos “bandidos”, numa pasteurização militarizada das históricas, conquanto defeituosas, relações entre Executivo e Legislativo, e num americanofilismo que tem lá, mesmo entre os conservadores, os seus limites.
Alargou os espaços dos filhos agressivos e fez crescer um lunático, como Olavo de Carvalho ( apenas um coadjuvante na campanha) à condição de líder ideológico do governo.
Acreditou que a sede de sangue virtual que exibem, com comentários em jornais e blogs, em memes e lives do Facebook e Twitter intimidariam as raposas da política, como ainda eram capazes de fazer até mês e meio atrás, na eleição da Mesa do Senado.
Não funcionou, está visto, porque lhe faltou, como sobrou antes, o coro da mídia.
Agora é ele quem está na perigosa – e mais perigosa ainda porque, aparentemente, não a percebe – posição de emparedado.
Os recuos que lhe são necessários para recompor – se ainda for possível – a sua base com a maioria direitista da Câmara estão barrados por ele mesmo e por suas falanges.
Se quiser perguntar ao professor Olavo, pergunte, mas já dou a tradução do brocardo latino Res ab exitu spectanda et dirigenda est no português populkar: “Antes de entrar, pense por onde sair”.