Bolsonaro é um caso de interdição, não de impeachment

À primeira vista, a legislação brasileira pune com o impeachment apenas os casos de crimes de responsabilidade e não se presta, ainda, para punir com a perda de mandato um presidente que, às escâncaras, comete o “crime de falta de responsabilidade” ao exercer o cargo que o povo, por artes da Justiça e da mídia, lhe confiou.

Talvez fosse  aplicável uma extensão política do Código de Defesa do Consumidor, ao lidar-se com o caso de alguém que cumula várias infrações: propaganda enganosa, produto defeituoso, riscos à saúde pública e “venda casada” de diversas bugigangas instaladas na Esplanada dos Ministérios. Aí sim, a Constituição prevê remédio: até dois anos depois da trapaça, devolve-se o voto e o lesado pode escolher um novo, de outra marca.

O precedente mais adequado, porém, parece vir de um pequeno país, que incomoda Bolsonaro por nos ter exportado, ano passado, três carretas de banana: o Equador.

Foi lá que aconteceu, há 23 anos, a história de Abdala Bucaram, o  El Loco aí da foto,  eleito presidente e, seis meses depois, interditado como mentalmente incapaz pelo Congresso. Bucarán fez, também, uma campanha onde prometia acabar com a corrupção, tinha um filho, Jacobo, mandando no Governo e acusado de desvios de verbas. Bucaram, ao menos, não fazia “arminhas”, fazia “dancinhas” em shows de rock e em programas de televisão e ficou 20 anos foragido da justiça equatoriana.

Certamente mais manso, o equatoriano era menos perigoso, porque o nosso El Loco flerta descaradamente com a memória do autoritarismo e não se furta a incitar os militares a se exporem em louvações ao que eles próprios sabem já não caber nos tempos atuais.

Não é possível fazer oposição ao governo Bolsonaro, porque não há como se falar que, neste momento, exista um governo no Brasil, o que ainda existe é uma máquina administrativa que funciona, ainda que mal, apesar dele.

Do que se trata é de fazer uma política de contenção de danos, evitando que ele possa até isso destruir e serenar os ânimos no sanatório geral que ele mobilizou, em cordões de fanáticos, porque os loucos são magnéticos.

Machado de Assis, há 130 anos, ensinou em seu O Alienista: é internar Simão Bacamarte e libertar todos os outros, porque loucura foi entregar o governo aos loucos.

 

Fernando Brito:

View Comments (17)

  • GENIAL ! A crônica mais genial sobre o que estamos passando, inclusive porque o tom de piada nos ajuda a não enlouquecer junto com essa gente. É um paranóico para muitos psicanalistas. Alguns pensam diferente, acham que é um psicopata. Normal é que não vejo ninguém dizer que ele é.

  • Também genial o paralelo com Bucaram. Mas acho que o juiz de piso é a cara do Simão Bacamarte.

  • El psicopata que veste a faixa presidencial , ficará por lá enquanto os malandros não tiverem completado o roubo do Brasil.
    Ele acontece diariamente nas sombras ,nas páginas internas dos jornais ( quando aparece).
    O bolsotário é o imbecil colocado lá pra desviar o foco ,depois que o serviço acabar ,nada restará.
    Com certeza ficará a sensação de que a gente fora teclar nossas mâgoas e broncas ,nada fizemos.

  • DEIXEM BOSÓ ONDE ESTÁ... E NEM SE PREOCUPEM!
    O FUNDO DO POÇO ESTÁ LONGE, LÁ NA CHINA!
    VAMOS CURTINDO ESSA SOFRÊNCIA DOLORIDINHA GOSTOZINHA POR QUATRO ANOS!
    PENA QUE OS GRINGOS INVESTIDORES ESTÃO CORRENDO COM O DIM-DIM DA BOLSA!
    E, NINGUÉM SE ESQUEÇA... A SIRENE NÃO VAI TOCAR! VISTAM OS COLETINHOS COR DE LARANJA E BOA SORTE!
    BYE, BYE, BRAZIL!

  • Pera aí! Muita gente ainda apóia o "Mito".
    Entrei ontem numa loja do bairro e o dono deu sua opinião sobre a ida ao cinema do Mito, mulher, Damares e tal: "Ele tem que aproveitar"!
    E o Lula preso? "Tudo certo"!
    Esse é a 3º comércio do bairro que não vê a cor da minha grana.

    4 anos de Mito, sim! Se não é pelo amor, é pela...

  • Seu post, Brito, é simplesmente mais do mesmo. Simplesmente excelente, mais do mesmo sempre excelente ! Só que permita-me, humildemente, um senão : Simão Bacamarte internado problema resolvido, era só ele. Interditando Bolsonaro o que fazer com o restante ? Sem contar os explícitos, quantos dos 55% dos eleitores que o elegeram são sadios ? Muitas vezes o eleitor erra por ser enganado, o candidato o convence de que vai agir assim e depois age assado. Bolsonaro nunca, nunca enganou ninguém, sempre se mostrou como é, por inteiro. Como caracterizar alguém que lhe deu o voto ? Olhe, não sou vingativo, nem hiena, muito menos sádico, não desejo mal a ninguém e sou otimista Vejo algo de positivo no que acontece: "Somente a dor faz o espírito reconhecer os seus erros". Minha dúvida é o quanto de dor que ainda é necessário para o reconhecimento do erro.

  • O congresso sabe dessa história do Equador? Se não sabe devia saber. Trata-se de um precedente e tanto.

  • Não há como descrever essa lambança continuada (pós Temer), de forma mais clara, mas uma pergunta precisa ser respondida: As fotças armadas do Equador ta.mbém aceito o sub-comando de suas tropas?

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