Jair Bolsonaro e Sergio Moro parecem estar escrevendo ao estilo daqueles “memes” que brincam, dizendo que na briga entre ambos, torce-se pela briga.
O Globo dá em manchete em seu site o que já se viu ontem acontecer: Bolsonaro elege Moro como alvo preferencial e reconhece que ex-juiz pode tirar votos.
A primeira parte do título é notícia, porque significa uma mudança estratégica, porque significa de duas uma (ou mesmo ambas): que não vinha mais sendo o suficiente o tal antilulopetismo que é o chiclete que andava na sua boca e na de todos os candidatos ditos de Terceira Via e que o ex-juiz oferece à mídia e ao “mercado” um “bolsonarismo chique”, palatável.
Mas a segunda parte, até por ser óbvia, deve fazer pensar.
Evidente que as intenções de voto de Moro vieram – e só poderiam vir – dos bolsonaristas que ficaram órfãos de seu “Mito”, mas não do que ele representava e representa.
Mas nestas elites, Bolsonaro dá como perdidos, no primeiro turno, os senhores do capital e os “punho de renda” em geral. O que ele precisa, agora, é marcar como maldito o ex-juiz, para conseguir que ele não penetre nas camadas mais pobres da população – onde quase nada tem – e lhe devore nacos do eleitorado no primeiro turno, fazendo o que de melhor sabe fazer: uma campanha de ódio.
Moro trabalha num universo emocional muito próximo, mas não igual. Seu combustível é o ressentimento, o rancor e a frustração, varas com que cutuca a árvore bolsonarista e de onde lhe cai uma safra de personagens que não conseguiram permanecer no convés da insensata nau do ex-capitão. Seus náufragos, já se disse aqui.
Aí está a diferença: Bolsonaro não precisa dos atuais votos de Moro para chegar ao 2° turno e, neste, eles lhe virão. Já Moro precisa desesperadamente dos votos que são hoje de Bolsonaro para ir à disputa final e, nela, incompatibilizar-se totalmente com eles significa perder grande parte do que deveria ser a transferência dos votos de direita.
Na recente pesquisa Atlas Político, Moro só teria, na simulação dos votos em um segundo turno contra Lula, 46% dos votos de quem escolheu Jair Bolsonaro em 2018.
Bolsonaro + Moro não é como uma soma de 1+1, com resultado 2.
E a situação contrária, de confronto entre ambos, pode tirar igual de ambos e muito mais de Moro, depois.