(Na foto, Cabral e Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo)
É triste constatar que, mais uma vez, os crimes mais atrozes, mais terríveis, mais monstruosos, que flagelam os cidadãos fluminenses, ou melhor, os cidadãos pobres fluminenses, foram cometidos pelo Estado. Todas as grandes chacinas dos últimos anos foram, ao cabo das investigações, atribuídas a membros da Polícia Militar. E agora, novamente, a sociedade descobre, horrorizada, que o Estado usa o dinheiro de seus impostos para torturar e matar.
A prisão dos PMs que mataram Amarildo poderia trazer alguma esperança de Justiça se viesse acompanhada de um autêntico pedido de desculpas do próprio governador e do secretário de Segurança, que desde o início dos protestos dos moradores da Rocinha contra o desaparecimento do trabalhador jamais demonstraram um empenho real para solucionar o caso. As investigações só foram adiante após uma inaudita pressão da sociedade.
Um pedido de desculpas e um plano transparente, realizado em parceria com entidades nacionais e internacionais de direitos humanos, para dar um fim, definitivamente, aos métodos homicidas e medievais da polícia militar do Rio de Janeiro.
Vale notar também que há uma certa perplexidade com a maneira quase blasé com que o maior jornal da cidade, e maior porque apoiou o mesmo esquema de ditadura que produziu essa polícia monstra, trata o desfecho do episódio. Nenhum editorial, nenhum colunista, nenhuma cobrança ao governador, que é o principal responsável político pela atrocidade cometida. O Globo dá somente a notícia, fria, objetiva, que não podia deixar de ser publicada, porque está em todos os jornais, do Brasil e do mundo.
Leia a íntegra da denúncia do MP.
Confira abaixo a notícia:
Justiça decreta prisão preventiva de PMs acusados no caso Amarildo
Akemi Nitahara, Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Justiça decretou hoje (4) a prisão preventiva dos dez policiais militares acusados de torturar e matar o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, na Favela da Rocinha, zona sul do Rio. A denúncia foi aceita pelo juízo da 35ª Vara Criminal da Capital, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).
Os policiais militares vão responder pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Os acusados são Edson dos Santos, Luiz Felipe de Medeiros, Jairo da Conceição Ribas, Douglas Roberto Vital Machado, Marlon Campos Reis, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Victor Vinícius Pereira da Silva, Anderson César Soares Maia, Wellington Tavares da Silva e Fábio Brasil da Rocha.
De acordo com a decisão, a prisão cautelar é necessária pela gravidade dos delitos e pela conduta dos acusados durante as investigações, que pode “atrapalhar o decorrer da instrução criminal”. Amarildo desapareceu no dia 14 de julho, após ser levado para averiguação para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
Edição: Fábio Massalli
2 respostas
Desde pequeno via os jovens de minha época alardeando fatos contra a Globo, mas realmente só a pouco tempo passei a ler mais sobre o assunto. A vida te cobra muitos coisas que te impedem de entender seu mundo a sua volta. A informação tem uma capacidade imensa de tornar as pessoas inertes e satisfeitas. Hoje percebo melhor como a Globo manipula a informação para se manter no poder. Isto deveria afetar as pessoas, pois mostra como moralmente uma empresa se apresenta. Esta consciência só se tornará uma revolta quando houver uma massa crítica esclarecida.
Só a cultura nos libertará.
percebe-se a posição de cabral é de subalterno dando explicações .está um passo atrás.