A imprensa lançou a expressão “casos conhecidos” para descrever os dados oficiais da pandemia, que continuam na caixa-preta do Ministério da Saúde.
É admissão envergonhada de que a grande mídia não está cumprindo o que seria seu papel: o de identificar as fontes primárias da informação e sistematizar os dados e dá-los a conhecer à população.
Ou, pelo menos, permitir que ela tenha noção da gravidade do que estamos atravessando.
Ontem, a Abrafarma divulgou o total de atendimentos – 486 mil – para a aplicação de testes, dos quais 146,7 mil tiveram resultado positivo.
Ou 21 mil casos por dia, em média.
No mesmo período, o número “oficial” de casos foi de 32 mil, em média.
É óbvio, então, que os dados dos testes de farmácia – com métodos iguais aos dos testes públicos – não foram contabilizados.
E os outras dezenas de milhares de testes realizados por laboratórios privados, entraram nas contas? Quase que certamente não.
A notificação de doenças infectocontagiosas é obrigatória no Brasil desde o longínquo ano de 1975, quando o governo Geisel sancionou a Lei 6.259, que criou o Programa Nacional de Imunizações (este mesmo de agora) e estabeleceu que as autoridades sanitárias devem ser invariavelmente informadas por médicos, hospitais, clínicas e qualquer estabelecimento de Saúde no caso de “casos suspeitos ou confirmados: de doenças que podem implicar medidas de isolamento ou quarentena”.
Pode haver subnotificação – e é péssimo que haja – por falta de testes, por falta de estrutura para aplicá-los e até por falta de procura pela população (o que não é o caso, vide as monstruosas filas-contágio que se formam onde se oferecem os exames gratuitos.
Mas subnotificação do que é obrigatoriamente notificável e que, com toda a certeza, tem os números disponíveis e contabilizados, é, simplesmente, desídia ou o desejo de mostrar números menos assustadores, dourados como pílulas amargas.
Neste caso, fazer com que a opinião pública queira medidas de isolamento que atrapalhem os negócios.