CIA confirma execuções no regime militar. Então, a “dita era branda”, Folha?

O memorando liberado pelo Departamento de Estado dos EUA  e revelado hoje é estarrecedor.

Envolve diretamente pelo menos dois ex-presidentes da República, Ernesto Geisel e João Figueiredo  – e, indiretamente, Emílio Médici – nas execuções sumárias de militantes “subversivos” durante o regime militar.

O primeiro teria autorizado a continuidade do assassinato de integrantes de organizações clandestinas, encarregando Figueiredo de decidir quais deveriam ser mortos, durante uma reunião em 30 de março de 1974, na presença do ex-chefe do Centro de Informações do Exército, general Milton Tavares e de seu sucessor, Confúcio Danton de Paula Avelino.

Neste encontro, segundo o relato feito pelo então diretor da CIA William Egan Colby, há referência a, até ali, terem sido 104 os presos políticos executados sumariamente.

Até hoje, nenhum documento fazia referência direta a presidentes militares ordenarem execuções pessoalmente.

Mas é, no mínimo, estranho que estes papéis apareçam apenas quando se volta – depois de muito tempo – a falar em ebulição no meio militar. É muita coincidência, o que faz com que nem pareça tanto com uma coincidência. Como Geisel e Figueiredo não estão vivos para falar, para todos os efeitos, vale o que a CIA e o Departamento de Estado dizem. Geisel não era propriamente um “queridinho” dos EUA e, no ano seguinte, assinaria, sob oposição do Grande Irmão do Norte, um acordo nuclear com a Alemanha que, em algum grau, nos transferia a tecnologia que os norte-americanos sempre nos negaram.

O  texto, divulgado pelo  professor de Relações Internacionais da FGV e colunista da Folha de S. Paulo Matias Spektor é o seguinte, traduzido ( o original está aqui). Espera-se que o jornal paulista, que afirmou, em 2009, que o regime de 64 foi uma “ditabranda” publique ao menos um “Erramos”…

 

Memorando do Diretor da CIA Colby ao Secretário de Estado Kissinger 

Washington , 11 de abril de 1974 .

Objeto:

Decisão do Presidente do Brasil, Ernesto Geisel, de continuar a execução sumária de subversivos perigosos sob certas condições
1. [ 1 parágrafo (7 linhas) não desclassificado ]

2. Em 30 de março de 1974, o presidente brasileiro Ernesto Geisel reuniu-se com o general Milton Tavares de Souza ( General Milton) e com o general Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente os chefes de saída e chegada do Centro de Inteligência do Exército (CIE). Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo , chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI).

3. O General Milton, que fez a maior parte da conversa, delineou o trabalho da CIE contra o alvo subversivo interno durante a administração do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici . Ele enfatizou que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e disse que métodos extra-legais devem continuar a ser empregados contra subversivos perigosos. A este respeito, o General Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pela CIE durante o ano passado, aproximadamente. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade.

4. O presidente, que comentou sobre a gravidade e os aspectos potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer decisão sobre [Página 279]se ele deve continuar. Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados. O Presidente e o General FigueiredoConcordou que, quando a CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe da CIE consultará o General Figueiredo , cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O Presidente e o General Figueiredo também concordaram que a CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral da CIE será coordenado pelo General Figueiredo .

5. [ 1 parágrafo (12½ linhas) não desclassificado ]

6. Uma cópia deste memorando será disponibilizada ao Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos. [ 1½ linhas não desclassificadas ] Nenhuma distribuição adicional está sendo feita.

 

 
Fernando Brito:

View Comments (67)

  • -Suíça mostrando as propinas dos Tucanos... que a imprensa Brasileira esconde.

    -USA mostrando os crimes da ditadura... que a imprensa Brasileira esconde.

    -Argentina mostrando a realidade do neo-liberalismo... que a imprensa Brasileira esconde.

    -E a imprensa mundial mostrando que houve golpe... que 50% da população sabe que existiu mas que a imprensa Brasileira esconde.

    Até quando a mídia vai conseguir segurar essa máscara???

    • A imprensa Brasileira é comprada pelo Santo e pelo Vampiro da sapucaí...

    • A mídia continuará como sempre fez apostando na ignorância, odio e ma-fe do coxinha q só aprenderá quando o raio cair sobre a cabeca dele. Um milhão de coxinhas ja migraram da classe A media e C para a Z. O raio está caindo. E é só o começo. Brasil neoliberal do temer golpista vai sentir o efeito orloff da Argentina do governo neoliberal do macri.

  • Essa é especial para o defensores hoje da "intervenção militar constitucional"(?!?!?!), mas podem chamar de "licença para matar a serviço de sua majestade". Entendem agora o motivo de no presente nossas forças de segurança, principalmente a Polícia Militar, serem tão letais? É o "DNA Homicida" que herdaram da ditadura, que pros Frias, adesistas de sempre, foi branda.

    • Foi branda porque num foi com eles. Não se deve de modo algum achar que Geisel não teve culpa pelos crimes cometidos pelo regime, mas estão espinafrando inadequadamente o Geisel por ter autorizado a continuidade da matança, e nesta questão é preciso ter cuidado para entender os detalhes da história, porque afinal, como dizia o grande Geraldo Pereira, "vizinho, a razão dá-se a quem tem". Travava-se então uma briga de foice entre os militares linha dura e linha mole, dentro da qual Geisel realmente encarnava a luta pela "descompressão", como falou o americano, em direção à recuperação da normalidade democrática. Estes generais todos citados, principalmente o Figueiredo, chefe do SNI, eram da Linha Dura que queria detonar a chamada "abertura política" propalada por Geisel. Jogaram então uma batata fervendo na mão dele para ver até onde ele desejava ir com sua tal "abertura": Se ele seria pela continuidade da matança, o que era o normal de então, ou se seria pela suspensão da mesma, o que deixaria Geisel muito mal visto e situado diante da famosa Linha Dura, então a mais poderosa linha militar. Isso iria enfraquecê-lo perigosamente. Geisel, pelo que se depreende do documento, pediu tempo para pensar e voltou com uma bomba relógio para explodir nas mãos do Figueiredo: Ele permitiria a continuidade da matança, desde que quem puxasse a alavanca da guilhotina em cada execução fosse o próprio Figueiredo Linha Dura. Personalizou a responsabilidade por um crime que até então era protegido pela generalização do anonimato.

      • Concordo. A iniciativa da divulgação parece ter partido dos golpistas, tem algo aí que não estamos enxergando. Talvez um cabresto para algum Mourão da vida...

  • O que será que está escrito no item 5 - paragrafo não desclassificado?

  • Uma prova que toda a linha de comando do exército era participante da matança, desde os executores aos mandantes e aos que autorizavam.
    O atual comando das FFAA é contra qualquer cobrança pelos tempos de terror. Parte sujou as mãos, outra parte não sujou, mas concordava. A parte mais recente acha que fizerem o correto.
    Se contarmos quantos brasileiros e quantos estrangeiros foram mortos pelas FFAA em toda sua existência, será que concluiremos que ela se especializou em matar seu próprio povo? Será que ela pensa que os inimigos somos nós?
    Em uma reunião com quatro pessoas do alto comando da nação e acontecimentos próximos posteriores têm seu conteúdo comprometedor vazado em detalhes para uma agência de informações estrangeira. Seriam as FFAA brasileiras mesmo ou de aluguel a serviço de terceiros? Quem mandava e quem obedecia? Alguém vazou ou eles escreveram um relatório ao Tio Sam a quatro mãos?

  • Nossos coturnos fizeram trabalho sujo dos Estados Unidos dando golpe de estado em 1964 e agora ganharam uma tesoura voadora da CIA bem no meio do peito. Não interessa aos gringos com sua máquina de sugar riquezas do Brasil a volta dos seus antigos serviçais. O que está nas estrelinhas é o que a CIA tem de alguns milicos vivos remanescentes daquele período. Alguns eram tenentes daquela época e hoje são generais e coronéis da reserva ou generais da ativa em fim de carreira soltando twitter e dando declarações ameaçando a fraca democracia que ainda temos. General daquele tempo não matou nem torturou, mas mandou e alguém fez. Quem será que está em outro dossiê ainda não revelado da CIA? Não se surpreendam se de repente, a partir deste momento, cessem as ameaças. A CIA não fez essa revelação em nome da paz mundial. A CIA fez uma ameaça direta e mandou os milicos saudosos colocar o rabo entre as pernas.

    • O recado dos EUA/CIA pode ser duplo.

      De um lado, para os milicos tupiniquins, mostrando a eles quem ainda manda e que se não cumprirem o desejado, ou o esperado com este novo golpe, os golpistas de 64, ainda vivos, poderão vir à baila. Isto, a meu ver, foi a praxe aplicada sobre os golpistas dos Três Poderes da República (Judiciário, Executivo e Legislativo), aproveitando-se da coleta de informações advindas da espionagem geral executada, inclusive pegando a presidência de Dilma, Petrobrás, empresas e etc. Neste lance, os inimigos foram mapeados
      e o resultado enviado a Curitiba/PGR. O mesmo ocorreu com os potenciais parceiros para o golpe, como juízes vendedores de sentenças e favorecimentos, parlamentares corruptos e ligados ao narcotráfico e a máfia do PMDB/PSDB. Não escapou nem a Globo com suas falcatruas na FIFA e com o Fisco, ficando todos com rabo preso e susceptíveis a chantagens.

      De outro lado, o recado se destina aos atuais "subversivos" que possam vir atrapalhar os planos de ocupação e saque da Nação Brasil de que, se necessário poderão chegar onde, em 1964, se chegou: no extermínio puro e simples do inimigo.

      • Assistindo aos acontecimentos atuais, a segunda alternativa me parece mais real.

  • O documento “vaza” dos EUA depois de 44 anos, cheio de linhas censuradas. Quem quiser que acredite em coincidência, prefiro Teoria da Conspiração.

    • O documento é verdadeiro, a divulgação do mesmo somente agora que pode ser manipulação.

    • De fato. Em relação aos milicos, o mandante do Norte não quer mais no poder. É um aviso claro para q se recolham a insignificância de mosca. O mandante não gostou da postura de independência do Geisel no q se refere a compra das usinas nucleares. Vai q entre os milicos de hoje tenha algum q seja patriota. Duvido muito disso. Estão entregando o território brasileiro a base de Alcântara e a tecnologia militar, a Embraer aso mandante. Então, o providencial vazamento é para queimar o filme dos militares q preparam um golpe militar. Para moscas, os milicos servem. Jagunços executores, tudo bem. Mas para ocupar o cargo máximo não servem. O mandante do norte não tem lealdade com seus comandados. Detona quando ameaça seus interesses.

  • O livro Memórias de uma Guerra Suja precisa ser lido!

    Como apoiar um deputado que tem a coragem de fazer elogios, no Plenário da Câmara Federal, a um torturador e dizer que, além de torturar, o sistema repressor deveria ter matado mais de trinta mil?

    Assista às declarações do ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, um matador arrependido – no Observatório da Imprensa.

    Se você deseja uma informação mais robusta, leia o livro Memórias de uma Guerra Suja. É um depoimento do Pastor Cláudio Guerra sobre esses acontecimentos.

    Hoje, ele é um pastor evangélico da Assembleia de Deus. Cláudio Guerra narra seus anos como agente da repressão, durante os anos de 1970 e início dos anos 80.

    https://www.facebook.com/LafaieteDeSouzaSpinola/posts/970206126470129

  • Essa mídia escrota se calou desses assassinatos, lucrou e enricou às custas de sangue e cadáveres...tem coisa mais abjeta?

    • Na verdade, a alta cúpula militar da ditadura era refém de Washington. Tem caraço nesse angu, porque Geisel, descente de alemães, ensaiou sair das garras americanas, criando um embrião de independência tecnologica. Houve muita movimentação na America do Sul naquela época, que só fará sentido pleno quando algum historiador dos bons conseguir unir os pontos - Allende, Angra I e II, briga Argentina-Chile, Peron, Condor, Itaipu, Transamazonica, caças F5, Malvinas... mesmo encostados no Departamento de Estado, os golpistas de então nem sonhavam em vender o Brasil e os brasileiros por quilo, como o consórcio Globo-Temer está fazendo agora. A destruição da Petrobras por exemplo, que naquela época tinha um quinto do tamanho e valor que tem hoje, geraria dezenas de pritestos e greves e centenas de mortos. Hoje estamos c.ag.ando e andando. Como diz um amigo, que fase...

Related Post