Com Lula preso, o Brasil afunda sem remédio

Está claro, mas não custa repetir: as perspectivas econômicas do país, apesar de todos os coros de falso otimismo, deteriora-se rapidamente.

Tudo indica que não vai tardar um ataque especulativo contra o Banco Central, no eixo câmbio-juros públicos.

No primeiro, apesar de o BC ter leiloado contratos de câmbio futuro em valor muito acima do tido como normal (US$ 30 bi contra US$ 23 bi, nos meses anteriores, gerando um prejuízo de R$ 6,9 bilhões, segundo o Valor), o dólar marca a cada dia – e, de novo, hoje –  novos recordes de valorização.

A continuidade da alta do dólar terá reflexo inevitável nos índices de inflação é não se ache que a inflação de maio, que a Fundação Getúlio Vargas já estima em 1% tenha sido efeito da batata ou do alface durante a greve dos caminhoneiros.

No segundo, cresce a pressão por voltar a subir a taxa Selic, que, com inflação chegando (ou passando) de 4% ao ano não remunera, com nível que desejam, com um taxa de juros públicos de 6,5%.

Ilan Goldfajn, solitário remanescente do que seria o “dream team” de Michel Temer para a economia vai cair, como Pedro Parente, dizendo se imolar por uma política “realista” de juros? É bom arranjar outro discurso, porque se praticar “realismo” terá de subi-los e não há condições políticas para isso.

O Brasil vive uma crise de confiança: não se confia no governo presente nem se confia nos possível governo futuro, com as perspectivas que estão postas no quadro eleitoral de hoje.

Por paradoxal que pareça, ninguém pode oferecer ao “mercado” um currículo com experiência em estabilização econômica como o que tem candidato mais odiado pelo mundo das finanças: Lula.

Não? Quem o tem?

Bolsonaro e sua necessidade de criar factóides? Marina Silva ou Álvaro Dias, duas figuras peripatéticas? Geraldo Alckmin e sua vocação de buraco, sempre crescendo para baixo? Ciro, talvez, pelo lado da experiência até de inistro da Fazenda (de Itamar Franco), mas sua promessa de usar o poder imperial de um recém-eleito para processar mudanças profundas e traumáticas nos primeiros seis meses de governo apavoram esta gente.

Quem acha que, libertado, Lula pudesse deixar de ganhar as eleições está sonhando.

E quem crê que, eleito, Lula faria um governo de choque e retaliação por tudo o que passou e passa, está projetando nele a mesquinhez de seu próprio caráter, porque seu esforço seria o de reconciliação. O dele, claro, não o de seus adversários figadais (jamais fidalgo, não se confundam). Formariam um quisto conspiratório, mas moralmente derrotado pelo resultado eleitoral.

A crise brasileira não é na economia, mas é de confiança e de normalidade políticas, claro que agravada pela situação de incerteza da economia mundial.

 

É uma crise de Estado e só pode ser resolvida por homens de Estado.

Alguém está vendo outro, além do que está preso em Curitiba?

 

Fernando Brito:

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  • O combustível pro Brasil sair do atoleiro que o golpe o lançou está preso em Curitiba.

  • Não há outro candidato com essas características no horizonte brasileiro. Só mesmo Lula e olhe lá porque depois do esparrame de uma política econômica monstruosa, arrochos nos lugares errados, entreguismo desvairado e farra com juros e câmbio que serviu apenas para engordar os marajás do mercado durante os últimos dois anos, é bem capaz de nem Lula conseguir mais estabilizar esta confusão. Seriam necessários vários governos de vários Lulas para talvez melhorar a situação daqui a 15 ou 20 anos. O problema não é crise econômica nem política, é a destruição pelo golpe dos princípios de segurança jurídica e institucional. Dois anos antes e dois anos depois do golpe, ou seja, desde 2014, estamos afundando em terreno pantanoso quando se fala em questões constitucionais e decisões judiciais, ninguém mais confia em investir a sério num país cujos maiorais do STF, PGR e do MPF podem, a qualquer momento, resolver derrubar o governo e entortar a Constituição. Passamos a ignorar o devido processo legal e os princípios básicos do Direito para entregar o poder supremo a um boçal de primeira instância e seus asseclas semi-alfabetizados. Quem é o empresário sério, com projetos que dependam da estabilidade institucional de um país, que trará seus bilhões de dólares para cá?

  • Mas a ELITE quer a reconciliação ? Ou quer nos lascar e transformar o Brasil uma colonia dos EUA?

    Na minha opinião, se Lula ganhar a eleição ele deve cortar as relações com os EUA.

    Não é a primeira vez que o Brasil corta relações diplomáticas com os EUA e nem será a última. Já que o Brasil cortou relações diplomáticas com os EUA em 1827, 1847 e 1869.

    Toda vez os EUA promove um golpe, sendo assim, não dá para ter relações com um país golpista e não democrático.

    Se Lula ou qualquer governo progressista não corta as relações com os estadounidense, será derrubado como Getúlio Vargas.

  • Fernando Brito, brilhante!
    Você diz tudo, claro para todos entenderem

  • Fernando
    Concordo plenamente com você mas, o que fazer se o Lula está preso? Estamos nós agindo de maneira correta ao insistirmos no "Lula livre"? Eu creio que não! Fazendo-o nós estamos implicitamente aceitando a tese de que o Lula tem que provar sua inocência, quando o que manda a lei, é o contrario, a justiça (Moro) é tem que provar que o Lula é culpado, o que ele não consegue, porque não tem um única prova e nem ao menos um crime definido. O que nós temos que exigir em cartazes, faixas, por email, panfletos, nas redes sociais é: "Moro mostre as provas" e ainda "Fachin mostre as provas ou anule o processo e a sentença, esta é a lei" Com isto, estaremos mostrando aos brasileiros e ao mundo, que Lula foi condenado sem prova e sem crime. STF mostrem as provas ou então " Lula livre"!

    • Antonio, o que digo é que Lula não se enfraquece ao manter-se candidato, como demonstram as pesquisas (que gostariam de mostrar o contrário) . Faz parte do processo político e reafirma sua incontestável liderança no campo popular. Não se depena a galinha ainda viva, já disse alguém, e Lula sabe conduzir o tempo da política.

    • Estamos há pelo menos dois anos exigindo, com faixas e cartazes, que mostrem as provas contra Lula. Em discursos, passeatas, manifestos de todos os tipos, abaixo-assinados, protestos. etc. Nacional e internacionalmente. De nada adiantou porque o país está entregue a uma corja que faz o que bem entende, liderada pelo bandido Moro e sua gangue, sempre a serviço do capital predatório. Ao insistirmos no Lula Livre e Candidato, estamos apenas dizendo que não perdoaremos o golpe e seu objetivo principal, o de afastar Lula e transformar as eleições de 2018 num palco circense para legitimar o arbítrio.

  • Lula tá preso indevidamente, mas esta turma ai que apoiou este golpe (STF) e este judiciário podre já estarão de cabelos arrepiados (de medo) das consequência da bobagem que fizeram.

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