Congelem os preços, enganem os trouxas!

Apoplético, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, conclamou aos empresários dos supermercados:

— “Nova tabela de preços só em 2023. Trava os preços. Vamos parar de aumentar os preços aí dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil!”

No seu desespero, apelam para que os supermercadistas sejam, eles próprios, os “fiscais do Sarney” – para quem não tem idade, os que caíram no conto do congelamento de preços do Plano Cruzado, que acabou assim que se fecharam as urnas de 1986 e o MDB de José Sarney venceu as eleições.

Bolsonaro, por vídeo, pegou mais leve, mas na mesma linha, apelando aos donos das redes de abastecimento que, até as eleições, nos produtos da cesta básica, “cada um obtenha o menor lucro possível, para a gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, em especial os mais humildes”.

Sim, satisfação passageira, até as eleições, como nesta vergonha da supressão de impostos sobre combustíveis.

Depois de outubro, claro, que o feijão, o óleo, a batata, aquele peso de músculo para a sopa e até o pé de frango podem subir e ficar com os preços imbrocháveis e incompráveis.

Peço desculpas os leitores para não explicar porque tabelamento de preços não funciona quase nunca – pode haver exceções, em um leque limitado de produtos ou em preços já administrados, se o poder público tiver estoques reguladores – porque não desprezo a inteligência de quem veio até aqui neste texto.

De resto, é considerar que cadeias de abastecimento gigantescas, que lidam com desafios imensos de logística e gestão, são ainda como vendas em que o “português” é quem risca a giz o preço dos produtos. Os empresários vão bater palmas, claro, e reajustar os preços.

E, com a maior cara de pau, depois de apelar para o mais desavergonhado populismo eleitoral mandando conter preços até que o povo dê seus votos, ainda diz que o sacrifício se justifica dizendo que “o cenário de alta de preços pode favorecer a volta do populismo”.

O excesso de esperteza, já se disse, acaba por engolir o esperto.

Embora a elite brasileira seja capaz de chutar quase todos os santos do altar do liberalismo se isso impedir que o povo tome o governo de seu país – e isso explica com o Bolsonaro ainda é o preferido do empresariado – ela é malandra a suficiente para aplaudir o mito e acionar todas as mudanças de preços lá nos códigos de barra que substituíram a maquininha de remarcar preços.

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