Duzentos anos de independência deveriam ser suficientes para que um país descobrisse que o passado é, essencialmente, uma plataforma onde nossos pés se apoiam para saltar no futuro.
Simbolizar os festejos de nossa autonomia na exibição mórbida no coração em conserva de D. Pedro I, como faz este governo, num festim desprovido de significado, é o retrato de quem pensa o inverso, apontando o futuro no passado e na procura de tempos e glórias que são uma nuvem de fantasias confortáveis, mas que cobre a nossa dura realidade e a necessidade de que saiamos do quadro de fome, miséria e atraso em que estamos mergulhados.
A exibição do coração de D. Pedro, com a cena de Bolsonaro e Michelle rodeados crianças de boinas militares e sorrindo como quem comemora um triunfo é, francamente, de embrulhar o estômago. Aquela urna dourada nada diz de nossos sonhos, de nossos desejos, de nossos rumos.
É apenas a pose de uma exploração eleitoral – sabe-se lá do que – ofensiva até mesmo à memória de D.Pedro.
Nossos sonhos de independência, não a formal, mas a que nos dá o desenvolvimento econômico, o controle de nossas riqueza, a promoção do nosso povo a níveis ao menos aceitáveis de vida tem outros corações a simboliza-la e não o que resta daquele, que se exibe numa taça como a de um troféu futebolístico.
Hoje mesmo se recorda -ou se deveria recordar de outro, trespassado por uma bala, há exatos 68 anos, em sacrifício para que tivéssemos as mãos sobre nossos minérios, nosso petróleo, sobre a energia de nossos rios e um povo que “não seja mais escravo de ninguém”. Mas Getúlio Vargas é o antípoda de Jair Bolsonaro, porque queria bases para o futuro e não levar-nos ao passado.
Não nascemos para ser colônia, apenas um exportador de minério e grãos, apenas aumentando o tamanho dos navios de fora que nos levam tudo.
O Brasil de 200 anos precisa de corações vivos, cheios de amor em lugar do ódio e de vida, em lugar de morte.
De mortes estamos cheios, mas do “Independência” do grito de Pedro, andamos mal, muito mal.