A maioria dos analistas econômicos diz que o repique inflacionário é pontual e logo se desfará, não comprometendo o controle sobre a desvalorização da moeda nacional.
Pode ser, pode não ser, mas o Banco Central teve hoje cedo a advertência para ser mais prudente.
Cedo, a Fundação Getúlio Vargas divulgou o Índice Geral de Preços do primeiro decêncio, que mediu preços de final de novembro e o resultado foi de 1,83%.
Ninguém, na imprensa, disse que este foi o maior índice desde 2008.
Não, não há uma difusão ampla dos reajustes, o que preocupa menos, mas é uma taxa mensal preocupante e que leva a inflação, por este índice que privilegia os preços no atacado (e na boca da indústria) a mais de o dobro do índice de inflação oficial.
Teremos, na melhor das hipóteses, uma taxa de juros igual à taxa de inflação, o que quer dizer remuneração zero para o investidor.
Não seria problema numa economia pujante, onde a remuneração da atividade produtiva compensasse a perda de rentabilidade financeira.
Não parece ser este o cenário econômico do país, onde também parecem ser pontuais as leves melhoras nos indicadores de produção e consumo e a taxa de endividamento cresce a níveis dos períodos mais agudos da crise.
Na economia, bolhas dependem de quem as sopre e estamos trabalhando com o cenário azul da bonança.
O Banco Central está desconhecendo todos os avisos de tempestade – as quais sempre podem ou não cair.
Poderia, sem grandes abalos, ter mantido ou reduzido a taxa de juros e não o fez, baixando-as tal como Dilma fez há anos, com as melhores intenções, mas levando a economia ao desequilíbrio porque acentuou um movimento global de queda da atividade.
Tudo fica mais difícil de analisar porque já começa a haver desconfianças dos indicadores econômicos , mas há sinais de que o governo deliberou queimar parte das reservas cambiais em sua conta corrente.
A redução – mais nominal que real – dos juros é boa para a economia, mas é preciso entender que não há investimento no Brasil com taxa de retorno real de o,25% ou 0,5%,
Não se trata de avaliar desejos, mas a economia real. Muito menos, como dizem os primários bolsonaristas, de “torcer oontra”.
Processos econômicos não são fruto de “torcida”m, senão já teríamos o melhor dos mundos. São fruto de ganhos ou de perspectivas de ganho. O que, com o emprego estagnado, a renda empoçada e o consumo apenas com espasmos, não têm de onde vir, senão da especulação oca.
Isso não costuma acabar bem.
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Segundo alguns, o golpe foi justamente o troco dado a Dilma por ela ter baixado os juros. Sou levado a crer nisto.
O golpe começou a ser tentado em 2005, mas o PT achou que o povo saberia valorizar o que ganhou com governos progressistas. Lula cometeu apenas dois erros: não avaliou bem o nível de estupidez de nosso povo e de maluquice de Dilma.
Não só ele; ninguém avaliou. Falar hoje, fica bem mais fácil
Como seriam divulgados esses mesmos dados se tivessem usado a mesma narrativa usada pro PT:
Governo Bolsonaro não decola!
Economia cresce míseros 0,6% e desemprego dispara!
Falta de confiança do investidor estrangeiro leva a fuga recorde de dólares do Brasil!
"Enxurrada de dólares" não vem e dólar bate a maior cotação da história!
Desemprego bate recorde e inflação é a mais alta em mais de 10 anos!
"Teremos, na melhor das hipóteses, uma taxa de juros igual à taxa de inflação, o que quer dizer remuneração zero para o investidor."
VIVA!!!
Esse era o Brasil que vocês queriam, rentistas...
Sorrisos nervosos, abraços de tamanduá, medalhões colocados no peito, e os pobres jornais provincianos tentando infundir um otimismo no qual já ninguém acredita. A fanfarra dos extremistas eufóricos parece distante e inaudível. Tudo somado não consegue abafar o grito da alta da carne. Vendo o da carne subir, os preços em geral estremecem, ameaçam. Como subir, se não há dinheiro para comprar? Carne é luxo, e muita coisa do dia a dia também vai virar luxo. Milhares de artigos vão desaparecer das prateleiras, porque já não há comprador para eles. Vamos reentrar no reino dos similares mais modestos, como no tempo final do FHC, e até estes serão vistos como luxo.
Infelizmente, tem gente que acredita. Gente que votou no Bozo, se arrependeu por causa da figura, mas ainda diz que o governo é bom, o problema é o presidente e os filhos...
Juros baixos e dólar alto é o sonho nosso, progressistas. Não dá pra reclamar disso.
Neste ambiente de letargia econômica (Não tem retomada nenhuma) o efeito de taxa de juros sobre inflação é zero. Tinha que cortar é mais ainda. As contas públicas agradecem.
O ajuste do dólar é um pouco mais traumático pois tira poder de compra do povo. Mas é algo pontual, depois tende a tornar-nos mais competitivos e favorece a produção nacional.
O problema deste governo é que eles não vão dar o passo do aumento de investimento público e política industrial e comércio exterior. Deixado a Deus dará é possível que o ambiente macro seja insuficiente pra recuperar nossa produção E aí o dólar pode degringolar. A ver.
É isso aí. Não tem sentido reclamar de juros baixos. O que falta é investimento público.
O ambiente de taxas de juro negativas nada irá resolver, como já há exemplos claros disso lá fora (Japão, EUA, e UE). Tidas como uma impossibilidade pela Escola Austríaca, tornaram-se uma realidade nos EUA e na UE no pós 2008 -- já antes o tinham sido, e continuam sendo, no Japão --, sendo que atualmente o Banco Central Europeu (BCE) tem como sua taxa diretora -0,5% (menos zero vírgula cinco porcento) ao ano, o que corresponde já a uma taxa nominal negativa. Contudo, não só estas taxas negativas não têm tido como retorno o crescimento robusto da economia, como têm gerado alguns outros problemas, como seja: (1) o inflacionamento artificial de alguns ativos específicos, nomeadamente na área imobiliária e mobiliária; (2) a destruição dos últimos instrumentos de política monetária que os Bancos Centrais possuem para fazer face a crises financeiras (e há uma nova crise financeira a caminho, só não se sabe exatamente quando a mesma chegará); (3) a criação de uma dependência do dinheiro a custo zero por parte dos grandes atores do mercado financeiro, incentivando a repetição de más práticas que levaram à crise de 2008; e, entre outras consequências, (4) a criação de uma necessidade permanente de intervenções cada vez mais vastas e agressivas por parte dos Bancos Centrais para evitar o colapso dos mercados financeiros (é o que estará já acontecendo há várias semanas nos EUA, de uma forma discreta, mas onde a FED tem estado a injetar liquidez no sistema financeiro para evitar o colapso, só não se sabe exatamente de quem, i.e., de quais Bancos e/ou entidades financeiras). A par disto tudo, o que o exemplo Japonês nos tem mostrado -- bem mais antigo do que o decorrente da crise de 2008 --, confirmado pelas atuais práticas de taxas negativas, primeiro reais e agora já nominais, é que se tem criado uma situação tendencialmente deflacionaria na economia, nas melhores das hipóteses, estagflacionária, que é exatamente aquilo que estamos vivendo a nível global. Podemos questionar se o BCB teria outra solução além desta redução da taxa de juro, ainda por cima dado as taxas nominais negativas já "estarem na moda", mas de tais práticas o que aí vem não é um robusto crescimento econômico, mas sim um socialismo invertido -- i.e., se salvam "os ricos" à custa "dos pobres" --, com enormes riscos de convulsão social.
Armadilha da liquidez. O pau do jegue nem sabe o q é isso
"Como desvalorização do dinheiro, inflação e deflação são idênticas e distinguem-se apenas na forma em que se dá a desvalorização. No caso da inflação, o dinheiro continua a circular; a sua desvalorização manifesta-se como um aumento imprevisto dos preços das mercadorias até dimensões astronómicas, independentemente da oferta e da procura. No caso da deflação, pelo contrário, grandes massas de dinheiro ou certas formas monetárias como tais são anuladas e desaparecem da circulação; a desvalorização surge, então, como redução imprevista do poder de compra ou da solvência sociais, o que pode (mas nem sempre deve) assumir o aspecto duma redução geral dos preços." (Robert Kurz). Resumindo: o dinheiro sem substancia gerado do NADA a partir dos Mercados Financeiros começa a se desvalorizar no mundo inteiro.
Parabéns pela análise.
Desculpe a ignorância em assuntos econômicos, mas eu pensava que reduzir os juros melhorava a economia e não que piorava.
Infelizmente não existe um remédio único e certeiro.
Cada medida pode trazer benefícios ou malefícios, dependendo da conjuntura.
Um exemplo mais simples, inflação zero ou negativa poderia ser a solução para todos os problemas econômicos, na medida que reduziria preços para todos.
Entretanto, normalmente está associada a estagnação económica.
Para mim não adianta absolutamente nada a selic chegar a 0%a.a. se os juros do CROT, por exemplo, continuarem em 150% a.a.
A selic não influencia em praticamente nada a economia. Só serve para os bancos pagarem juros menores aos que aplicam. para os que tomam crédito os juros continuam estratosféricos.
Os juros cobrados dos tomadores, este sim tem infuencia nos investimentos, na demanda, no consumo, etc
Verdade....E sem demanda (pessoas com poder de compra) e com o mercado de trabalho precarizado, quem vai se arriscar a pagar juros estratosféricos??Conversei com um vizinho que trabalha numa loja de varejo de eletrodomésticos.E diferente da propaganda da mídia as vendas estão MUITO ruins. Motivo: as pessoas com o mercado de trabalho precário estão com medo de assumir compromissos financeiros....Segundo ele janeiro/fevereiro vai ser a verdadeira black friday.
Quanto ao que os empresários estão perdendo de receita financeira estão compensando tirando direitos dos trabalhadores.
ou maquiando e diminuindo o peso dos produtos sem contrapartida na redução de preços.
Acontece direto. A Nestlé e Unilever são peritas em fazer isso: Nescau cortou 17% em peso e a Unilever inventou para o OMO, o quilo de 900 gramas.
E ainda corrigem o preço acima da inflação.