Darcy: múltiplo, para ser único. Por Lúcia Velloso Maurício

 

 

Darcy 20 anos2a

Por que lembrar Darcy Ribeiro hoje, passados 20 anos que nos deixou? Darcy só pode ser compreendido como um todo, foi o que disse Frei Beto ao dar adeus a ele, por todos nós, no dia 19 de Fevereiro no Cemitério São João Batista, sob uma linda lua cheia. Darcy era uma explosão de ideias: sua antropologia tem consequências na política, na educação e na literatura; sua “mineiridade”, que transborda na literatura, vai explicar aspectos da atividade política e propostas na área de educação e cultura; sua concepção de educação está eivada de índios e negros. Darcy Ribeiro não se deixava cercear pela burocracia, tinha uma capacidade infinita de multiplicar respostas novas e específicas às questões que afligiam o povo. Nas suas palavras:

Não se iluda comigo, leitor. Além de antropólogo, sou homem de fé e de partido. Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por um profundo patriotismo. Não procure, aqui, análises isentas.

Sua compreensão de mundo levava a uma leitura do Brasil muito definida. Considerava que a elite brasileira, sempre no poder, nunca se preocupou com a vida do povo brasileiro, eram apenas carvão humano. Por isso suas proposições para a política que “faz dos brasileiros, brasileiros dignos”: o zelo pela unidade nacional; o orgulho de nossa identidade de povo mestiço; a luta por uma sociedade democrática com direito e justiça para todos; acesso à terra para quem nela more ou cultive; uma economia industrial autônoma. Que falta Darcy Ribeiro nos faz!

Para que o Brasil pudesse cumprir este seu destino e dar certo, como Darcy dizia, a educação era indispensável. Encarnou com orgulho a “pele” de educador, durante quatro décadas, para ele sua ocupação principal. Dizia que a tarefa da escola é introduzir a criança na cultura da cidade, valorizando sua vivência; ela deve servir de ponte entre o conhecimento prático que a criança pobre já adquiriu e o conhecimento formal que é exigido pela sociedade letrada. Afirmava que a ilusão principal de nossa escola era que ela promovia os melhores alunos. De fato, ela apenas peneirava o que recebia da sociedade já devidamente diferenciado. Ao tratar da mesma maneira crianças socialmente desiguais, a escola privilegia o aluno já privilegiado e discrimina crianças que renderiam muito mais se fossem tratadas a partir de suas próprias características.

São as propostas de Darcy Ribeiro para o Brasil, para uma sociedade democrática e justa, para a dignidade do povo e da escola pública brasileira que vamos retomar através deste Seminário Darcy Ribeiro 20 anos – que falta ele nos faz! Que a discussão de seu pensamento contribua para redirecionar o Brasil em favor do povo brasileiro.

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3 respostas

  1. O Brasil precisa da união de todos os ‘Darcys’ ( que tem muitos, não tão grandes quanto ele ) neste momento de retrocesso brutal.

  2. Darcy, um dos grandes gênios da nossa história. Pena que o Povão não percebeu isso naquele tempo, foi enganado pela mídia partidária (Globo) e elegeram, no lugar do Darcy, esse mesmo angorá atual, que continua a aprontar. A ignorância e a desinformação continuam a imperar.

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