A teoria da geração espontânea, durante 2 mil anos, de Aristóteles a Louis Pasteur, iludiu muita gente ao afirmar que, de matéria em putrefação surgissem, espontaneamente, larvas, insetos e outros bichos.
Ao ler a matéria da Folha, hoje, dizendo que “Cármen Lúcia aproxima STF da população e surge como nome para 2018” fiquei pensando: será que é “geração espontânea” ou…
(Parênteses : Ministra, quanto às espécies de bichos, não é uma ofensa, mas a história da teoria. Já quanto à putrefação, é só uma obviedade. Em tempos normais, desnecessária a ressalva. Nestes de agora, indispensável)
A suspeita de propósitos político-eleitorais e eclode de algo anterior, sempre, tanto que é a própria colunista Julianna Sofia quem diz dela:
Atuação midiática, há quem argumente sobre a performance da ministra. Joga para a plateia quando se indigna com a realidade de um preso custar 13 vezes mais ao Estado do que um estudante do ensino médio. Ou quando afirma que não lida “com o cofre”, mas com “o humano”.
Até porque seria uma demagógica contradição reclamar do custo dos presos – sabe-se em que condições desumanas vive a massa carcerária – e adotar ou defender políticas judiciais que apontam como “solução” prender mais e por mais tempo.
Pois então de algum lugar há de ter vindo a mosca azul que esvoaça sobre a reportagem dominical e moscas, como se sabe, espalham-se disseminando ovos, que viram larvas sobre a matéria putrefata.
O fato é que, como no experimento de Pasteur que sepultou de vez a teoria da abiogênese, o nome chique da “geração espontânea”, o gargalo “pescoço de cisne” do frasco do Judiciário foi partido desde que começaram, não sem o gosto dos fregueses, as especulações sobre o “juiz-salvador”, primeiro com Joaquim Barbosa e, depois, com Sérgio Moro.
E, feito isso, os micro-organismos da política entraram em contato com o caldo nutritivo do poder de mandar, decidir e prender que é dado, sem voto, aos juízes em todos os graus.
Já não é preciso crer que os camundongos se gerem espontaneamente da lama do Rio Nilo (de novo, para prevenir, a citação é de Thomas Ross, escocês que sustentava a ideia da “geração espontânea”, no século 17).
Em todos os níveis, jamais se viu tanta promiscuidade entre o Judiciário e a política: quando magistrado fala sem pudor de processos em julgamento, quando se promove – mesmo que afetando constrangimento – aos holofotes, quando se organiza para pressionar os outros poderes por mais poder ou mais dinheiro, quando interfere na vida política do país, a contaminação é inexorável.
O experimento de Pasteur mostra que, partido o gargalo, a contaminação é só questão de tempo e oportunidade.
Pois inevitavelmente a mosca azul vai plantar os seus ovos.