Só um tolo negaria a importância – essencial – da conversa, da articulação e da composição política para garantir a governabilidade, um nome “moderninho” para dar nome à viabilidade de um governo.
Mas seria de igual ou pior grau de tolice esquecer que até mesmo esta “pequena política” é, para um governo de natureza popular, algo que só se viabiliza com a força que lhe vem da grande política, a que se faz com as massas populares que são – ou deveriam ser – a sua razão de existir.
Duas pesquisas veiculadas estes dias mostram – embora não pareçam produzir muito efeito na mídia quanto as que mostram quedas na popularidade de Dilma- o comportamento dos agentes políticos do governo e da oposição, onde cresce o “só precisamos de algo que pareça concreto para o golpe”.
A primeira, realizada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, diz que “69% não souberam citar nenhuma ação, programa, ou política do governo federal.” Mesmo entre os que o apóiam, um quarto fica sem ter o que citar.
Ora, se alguém não consegue lembra de “nenhuma ação, programa, ou política do governo federal” é inevitável que esta pessoa, em consequência, ache que o governo não faz nada de relevante. E que, claro, as dificuldades econômicas vem da bufunfa embolsada na corrupção, que não tampa sequer o buraco da cárie do que se ganha “honestamente” com a sangria financeira dos cofres nacionais. Mais ou menos o que deseja do Estado a visão liberal de governo, que acha que, afinal, ele só precisa deixar quieta a vaquinha enquanto os bezerros gordos a mamam.
Qualquer um que veja televisão ou leia jornais impressos ou eletrônicos sabe que isso não ocorre por falta de propaganda governamental. Mas por falta de um discurso político que nela esteja contido, ao ponto de hoje ser seu principal mote o tal “Dialoga, Brasil”, muito boa ideia, bem intencionada, mas inexpressiva, porque trata apenas de meio, não de finalidade Com todo o investimento feito, tem menos seguidores no Facebook que qualquer do que qualquer dos grandes blogs de esquerda, que não têm recursos ou estrutura para, sequer, manter em bom funcionamento suas redes sociais, que dirá promovê-las.
Programas imensos – e caros – como o “Mais Médicos”, a conclusão da barragem de Belo Monte, que só espera chuvas sobre o Xingu para ser enchida, as obras – com dinheiro federal – a todo o vapor no Rio de Janeiro (inclusive um túnel e a pista de um BRT aqui pertinho, em Niterói) e muitos outros ficam escondidos. E as grandes obras da Petrobras, eclipsadas pelas medidas de corte da empresa, parece que são objeto de vergonha, em lugar de orgulho.
Mesmo nas medidas “antipáticas”, como a CPMF, não se vê nenhuma preocupação política em fazer com que ela seja identificada com seus dois mais importantes aspectos: atingir as grandes transações – e o governo sabe que ela é irrelevante para ser aplicada sobre quem movimenta apenas os caraminguás do parco salário em sua conta bancária – e evitar, ou ao menos rastrear, as transações de grande porte que escondem ou desviam dinheiro grosso.
Dilma, que pena e balança por sua natureza popular – corrupção? ah, francamente, não sabemos da história deste país? – não a demonstra, senão em vagas em um “não vamos permitir o retrocesso nas conquistas sociais” que, afinal, retrocedem com o aumento do desemprego e dos preços, à revelia do governo e, até, pelas necessidades de cortes e retração de investimentos públicos.
A segunda pesquisa é a do Ibope, publicada na coluna de José Roberto de Toledo.
Essa, então, ficou praticamente escondida na mídia. Revela que os índices de confiança de toda a linha sucessória de Dilma (pela ordem, Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros) varia entre apenas 8 a 11% de bom ou ótimo, o mesmo que o Ibope atribui a Dilma, 9%.
Melhor advertência não há de que a mosca azul, se os seduzir, os levará direto à raquete elétrica que espera aquele que terá de fazer – agora em meio à inevitável agitação social e política de um golpe – os mesmos ou maiores arrochos na economia.
Pior, até, porque agora legitimado o bater de panelas como substituto do voto na escolha – e na derrubada – de governantes.
Um dia, talvez, nossa lideranças políticas, na esquerda, compreendam que, em comunicação, não há nada mais importante do que fazer perceber o benefício – e o beneficiário – das ações de governo. Grandes números, tanto quanto inaugurações pontuais, são algo distante, impessoal para quem não está diretamente envolvido ou não vê porque se interessar no mundo distante.
Mas que, afinal, influi sobre sua vida cotidiana.
9 respostas
É absolutamente incompreensível a falta de percepção do governo Dilma com algo fundamental para a governabilidade, no que tange a Comunicação. Deveria usar as suas prerrogativas de chefe de estado e dar visibilidade a esse governo e também as suas ações. Sua timidez de se expor chega a ser exasperante e quem “Não se comunica se Trumbica”. Não pode ficar acoada nas cordas mesmo porque essa oposição pode ser enfrentada pois não passam de bando de velhos golpistas muito conhecidos herdeiros da UDN sem projeto e sem proposta, que querem privatizar o estado.
A nossa presidente não sabe que a ditadura acabou, ela pensa que a comunicação é direito de todos, menos dela, que ao falar poderá ir pro pau de arara. Acorda Dilma!
Excelente análise.
Porquê se pergunta a sucessão até o presidente do Senado, mas não continuam o a sucessão até o próximo? Desconhecem a constituição ou é deliberadamente escondido a parte final do art. 80?
Bom dia,
dois fatores estarrecedor nessa pesquisa que são os seguintes: falta de uma articulação governo e povo, e falta de propaganda do governo para o povo para mostra o que tem feito. Um exemplo na história é a da máquina de guerra alemã que fazia propaganda mesmo a duras penas, mas e o governo onde andas?
Em meados dos anos 90 foi noticiado que seria construída uma escola técnica no meu município em parceria com o governo estadual, ficamos todos animados, pois nessa época formação técnica era algo distante, eram poucas e caras escolas, eram destinadas à classe média, esperamos em vão, porque ela nunca saiu do papel. Hoje temos um dos maiores programas de ensino técnico (Pronatec) já visto no Brasil, e boa parte da juventude o despreza, estudam, formam-se e metem o pau no governo. Fica difícil de entender, e estou quase desistindo mostrar este e todos os outros benefícios que alcançamos; vai além dos benefícios, é algo mais valioso: Elevação da estima, do orgulho, uma noção de pertencimento dentro de uma sociedade.
O município em questão era Vespasiano, MG.
Pois eu acho que o senhor tocou num ponto,que é o mais importante na PROPAGANDA POLÍTICA-PARTIDÁRIA do Governo,e insisto em POLÍTICA PARTIDÁRIA , pois acho que somente não se faz política,no vaso sanitário e assim mesmo,estando sós.Penso que a despeito da hipótese quase certa de ‘ EDITAR-SE ” tudo o que o governo difundir,cabe alertar para um modo que me parece mais seguro de faze-lo.Convocar a IMPRENSA,o PIG,para vez ou outra,uma entrevista coletiva de qualquer membro do governo,de modo COLETIVO E AO VIVO,para tentar evitar-se as velhas artimanhas que a IMPRENSA GOLPISTA USA,EDITANDO TUDO O QUE SE DIZ.Lembrando sempre que,em qualquer jornal,a ÚNICA COISA QUE NÃO É OPINIÃO DO DONO, É A DATA! Proibir qualquer manifestação de membros do GOVERNO,que não seja dessa forma.E também pleitear que sejam usados de maneira mais racional,OS BLOGS,ditos SUJOS,pela DIREITA.Os blog estão fazendo um ótimo papel.cabe fazer com que o governo os leiam!Coletivo e ao vivo!
O lado paraguaio da Alemanha que a mídia ocidental tenta esconder:
http://www.valor.com.br/empresas/4235152/volkswagen-reserva-65-bi-de-euros-apos-escandalo-de-fraude-nos-eua