Dependemos da mediocridade alheia e não de nossas forças e ideias?

Não se sabe se e como  seguirá adiante o Governo Dilma.

Ou, pelo menos, pela ausência de Governo visível à população,  será respeitado o mandato de alguém que o povo elegeu e que, se tem muitos erros, certamente não tem, pela sua honradez pessoal inquestionável por qualquer pessoa não imbecilizada pelo ódio ou pela ambição política, pecados mortais contra si.

Sabe-se, sim, é que rapidamente se vão construindo as condições políticas para a sua derrubada.

E, entre elas, algumas, olhadas com frieza, são dramaticamente incongruentes.

Atiram-lhe a culpa pela roubalheira de servidores da Petrobras, de carreira, que ela própria demitiu dos cargos de direção, já nos primeiros tempos de seu mandato.

Quer-se criminalizar a Presidenta pelas regras espúrias de financiamento empresarial  de campanha, contra as quais ela sempre se manifestou e que acaba de ser confirmada justamente por seus piores adversários, em votação na Câmara.

Agita-se o funcionalismo público com reajustes que, onde a direita governa, como no Paraná, São Paulo e no Rio Grande do Sul se nega a porrete, e neste último, vai se pagando com “vales” aos servidores.

Reclama-se de um déficit – melhor, pela falta de superávit primário expressivo – construído com o que mais reivindicam os setores empresariais e financeiros: a redução da carga tributária, pela via das desonerações concedidas ao longo de seu primeiro mandato, para preservar a indústria e o emprego no país, à custa da diminuição do apetite fiscal do estado. E não foi pouca coisa: os gastos tributários (quantias que o Governo deixa de arrecadar por isenções ou redução de impostos) saltaram de 3,6% do PIB, no último ano governo Lula para 4,76% do PIB, no ano passado.

Ou seja, uma redução voluntária na cobrança de impostos cuja ampliação, sozinha, corresponderia ao sonhado e irrealizado superávit primário de 1,2% do PIB, que não vai ser conseguido sem reduzir as isenções de tributos, a ampliação dos impostos sobre as fortunas gigantes e do qual sobrou apenas a parte amarga, os cortes nos gastos sociais e nos investimentos públicos.

Também não se insere em sua atuação qualquer tipo de intervenção brutal da economia ou algum tipo de alienação de bens públicos no qual se possam ver suspeitas de favorecimento “no limite da irresponsabilidade”.

O que ameaça derrubar Dilma é, talvez, o seu pouco apetite pelo enfrentamento político. Que não é só seu, aliás, é do próprio PT.

O necessário “paz e amor” dos primeiros anos do Governo Lula e a preocupação quase obsessiva em um “republicanismo” emasculado, com pequena compreensão de que lobos não se amansam, teve seu preço.

Foi (e é) sem dúvida, não apenas necessário como boa prática política. Mas nunca pondo o seu destino na mão das corporações que sempre prestigiou e ajudou: a grande mídia, os estamentos judiciais e para-judiciais da máquina do Estado e o “país de todos”, que não é de quase todos e é de muito poucos.

Curiosamente, estamos nas mãos da miséria moral e cívica dos opositores e conspiradores anti-Dilma, que a buscam, apenas, como ferramenta para prevenirem-se da perspectiva de que volte ao Governo, em 2018, de um Lula mais aprendido, até pela sova contínua que recebe, que o inimigo – porque são inimigos do povo brasileiro, não adversários políticos – poupado em demasia acaba voltando de sua derrota, como um zumbi, para matar quem o poupou.

Forma-se um aglomerado político que reúne o capital financeiro, aventureiros de baixa-extração, achacadores,  proto-nazistas, intelectuais alienados aos interesses internacionais, uma mídia imbecilizada e uma camada udenista da classe média, todos tendo pela frente instituições que, se não estão elas próprias imersas no golpismo, acoelham-se de medo diante do “senso comum” de que o Brasil é um caos e é urgente o milagre da salvação, entregando-o a…a quem, mesmo?

O diagnóstico pessimista não é uma rendição, mas um chamado à luta.

Talvez tardia, mas da qual desertar é desertar do povo brasileiro.

E que ainda se pode vencer, pela razão apontada ironicamente pelo frasista Millôr  Fernandes, que dizia ser menos importante ser genial do que estar cercado – e ser comparado – por um bando de medíocres.

Medíocres, pode-se ver, chega a ser um elogio imerecido pela direita brasileira.

Mas, diante da covardia, até medíocres vencem.

Fernando Brito:

View Comments (34)

  • Ou nós vamos para a rua, ou teremos um bando de inimigos do povo brasileiro mandando no País em pouco tempo.

  • Não quero mais pensar em "republicanismo emasculado". A virilidade política está toda do outro lado. Pessoalmente não posso fazer mais nada para defender quem não me defende. Resta-me encostar à parede para fugir ao coito dos garanhões da direita e dos coxinhas exaltados que tomaram conta dos comentários do Tijolaço.
    E voltar a ler o blog sem passar os olhos nos comentários? As participações estão eivadas de cantos de vitória, de bandeiras inimigas içadas e da lembrança infeliz da covardia da esquerda.
    Minha toalha foi atirada ao solo. Grato pelos bons momentos, mas é hora de dizer adeus.

  • Eu quero mais é que o povo se lasque! Este povo não merece consideração. Sou contra o golpe porque o que está em jogo é o futuro do Brasil, do desenvolvimento, soberania. O "povo" acabará sendo beneficiado pelo progresso, mas, francamente, tô pouco me lixando de que isto deva ser feito pelo "povo". O povo não vale o esforço e consideração, porque povo que sai abanando o rabo atrás do que de mais podre existe na sociedade não merece respeito porque não se respeita.

  • A falha do PT foi não auditar as privatarias e ser republicano demais, não comemos criancinhas. Tinha que expurgar os infiltrados da oposição em cargos estratégicos. Se meter com Marcos Valério pra fazer o mesmo que a oposicao, porque não deu em nada, tinha uma certa logica,pois até hoje não foi designado um juiz pra julgar o Mensalão Tucano, todos soltos e saltitantes. Uma coisa é certa, depois de 2018 o serviço tem que ser feito.

    • Pois é, quem sabe os progressistas agora aprendam que "republicanismo" é o nome do jogo que o inimigo joga. Tem que fazer devassas, tem que fazer caça às bruxas sim! Mas, acima de tudo, tem é que expor os resultados na TV em rede nacional, senão não adianta nada. Vamos passar por essa e o "nosso macartismo" tem que aflorar.

  • Fernando concordo em gênero, número e grau com tua análise.
    Caminhamos, celeremente, para um clímax (ou anti-clímax) onde certamente esta turma tentará o golpe final em "prender o Lula" e arrastá-lo a Curitiba. E aí o povo que assiste tudo isso ou baixa o rabo DE VEZ ou iremos para um confronto aberto e com um resultado inimaginável (mas seja qual for o lado sobrevivente do confronto, os vencedores estarão fora do país).

    No plano pessoal da Presidenta Dilma (na qual votei nos dois mandatos) me parece que cabe duas observações tentando entender o nosso espanto por este segundo mandato altamente decepcionante do ponto de vista de quem a elegeu:
    1) Elegemos a política herdeira política de Lula, a Dilma. Mas quem se apresentou para conduzir o mandato presidencial foi a ECONOMISTA da escola de Chicago Senhora Rousseff, que admira e concorda com o Capitão-Bradesco Levy;
    2) As duas entidades (Dilma e Rousseff) são profundamente influenciadas por uma terceira, a Vanda uma jovem guerrilheira do Var-Palmares que foi torturada pela Ditadura. Ela ainda está lá e é ELA que IMPEDE acima de qualquer pensamento racional que o Estado sob seu comando use qualquer recurso contra qualquer um, mesmo para sua auto-defesa. Uma variante distorcida da síndrome de Estocolmo. Talvez isto explique algo...
    Desse modo de comportamento político da Presidenta, que nem você ou eu conseguimos COMPREENDER...

    • Gilberto, muito interessantes as colocações no intuito de explicar as aparentes contradições de Dilma e seu governo.
      Como se pode crer uma pessoa que tenha lutado contra a tirania nao se dá conta do embate hoje visto da sempre presente dicotomia da CASA GRANDE e SENZALA ?
      Aqui no Brasil ainda vivemos o feroz conservadorismo dos tempos coloniais onde um pequeno grupo, os contados - em excesso por aqui - 1%, não aceita a evolução havida no resto do mundo.
      Mas voltando ao mote central, vejo em Dilma uma imposição de rigorismo diante da neutralidade do Estado.
      Essa visão, levada ao paroxismo, tem feito dela a vítima ideal dos carniceiros dos patrões regressivos e acostumados aos espojos.
      É atacada diuturnamente e não se defende por achar que, ao fim, a verdade se reestabelecerá.
      Talvez num excesso de linguagem, algo como uma virgem num prostíbulo.

      • É a MESMA duvida que eu tenho. E racionalmente a única coisa que pode explicar este comportamento é um profundo e brutal bloqueio da psique contra QUALQUER expressão de força do Estado contra um indivíduo (qualquer indivíduo). Que só pode ser expressado às outras pessoas circunstantes como um Republicanismo ULTRA-exacerbado, exatamente do modo como o que o Fernando algumas vezes aponta e critica em seus textos no Tijolaço.
        Infelizmente a solução para a minha Dilma é o divã de analista e de preferência um que tenha qualificação para prover sessões de Hipnose Regressiva para desbloquear a mente da paciente.

        DURO de acontecer é a Presidenta aceitar que precisa disto e se dispor a deitar no Divã para SE analisar....

        OBS: Quanto as expectativas dos empresários brasileiros como comentaste, eles fazem o que SEMPRE fizeram, querem produzir pouco e vender muito caro. Seu objetivo SEMPRE foi atender a CASA GRANDE. EM DÓLARES o caro mais barato da Volkswagen atualmente custa exatamente o mesmo que um fusca 1973. TODO o avanço de automação, diminuição de funcionários e avanço tecnológico nos últimos 40 anos foi incorporado como lucro da montadora. Nem um centavo foi repassado para os consumidores brasileiros e o aumento do salário médio em dólares do um sexto remanescente da força de trabalho da montadora é fruto de avanços dos trabalhadores em geral na EXATA MEDIDA, nenhum ganho de produtividade ou tecnológico foi repassado ou compartilhado pela montadora com seus empregados, só o que a lei ou a justiça do trabalho OBRIGOU a montadora a pagar.
        Este é só um exemplo fácil, mas o conceito deste empreendedorismo caboclo focado em atender a Casa Grande é a GRANDE REGRA dos empresários brasileiros. Por isso que as empresas brasileiras tem EXTREMA dificuldade e inapetência para exportar seus produtos para fora do Brasil. Isso requer preços baixos, margem de lucro pequena, produzir lotes cada vez maiores e lidar com compra e processos industriais cada vez mais complexos e lidar com um número crescente de trabalhadores e empregados administrativos, de manutenção e de vendas...
        E isso dá um trabaaaalho.... Por isso eles não gostam do PT...

  • Pelo país , para muito além do simbolismo que representa , pelo enorme vácuo politico que criou , pelo governo ( dois ) que lhe caiu no colo , sem precisar lutar politicamente por isso , apesar da péssima assessoria que a aconselha , pelo campo progressista que insiste em um Projeto de Nação , pelo protagonismo que lhe foi confiado outro dia mesmo pela maioria do povo brasileiro , pelo amor de Deus para os que acreditam , pelo futuro do seu neto e dos brasileiros ,enfim pelo Brasil , presidenta reaja agora ou acomode-se no rodapé da História , em companhia dos mediocres.

  • Quem são os líderes da direita que querem salvar o País. E desejam o Impechman da Dilma. É um time de futebol, Cunha, Aécio, FHC, Aloísio Nunes, Roberto Freire, Lobão, Merval, Agripino Maia,Reinaldo Azevedo,Serra, Carlos Sampaio. Será que essa turma se caísse no vaso sanitário e fosse dado a descarga o Brasil perderia muita coisa? Como diz os gaúchos "não podemos nos entregar pros homens, de jeito nenhum", ainda mais um bando de safado, notórios vigaristas, são esses que vão derrubar a república associado a uma Mídia e um judiciário golpista?

  • Srs. concordo com o post e me coloco a disposição para ajudar.
    Nos últimos tempos tenho me debatido em algumas discussões que não tem levado a lugar algum e não vejo claramente como ajudar.
    Se precisarem de algo, me chamem.
    Sds

  • De que adianta ficarmos nos esganando fritando os pensamentos em conspirações e teorias de defesa do governo sendo que este não move uma agulha, uma palha sequer, para se proteger ou se defender? Dilma e sua esdruxula equipe querem o que? Querem que na hora H do golpe, 50 milhões de brasileiros apareçam no planalto e montem uma barricada de defesa? Acham que vão tirar ela de lá no colo? Acha que quando prenderem Lula e derrubarem ela, o povo por si só vai resolver tudo, vai lá na cadeia tirar ele, ovacionando como herói? Pois só pode ser essa a explicação para tamanha nulidade perante o perigo, ou é isso ou ela está com sérios problemas psicológicos e não está sendo capaz de tomar uma decisão sequer por si mesma, quem dirá em nome de 200 milhões de brasileiros. Não é possível que vamos assistir um governo ser detonado, por dentro e por fora, e uma presidente eleita assistir tudo de camarote, como se tivesse assistindo a novela das 8. Era mais que sabido que Dilma não tem traquejo político algum, mais dura que pedra, mas não era imaginado que fosse ficar tão assustada e imóvel como uma criança quando vê filme de terror. Não é tomada nenhuma medida (se alguém disse que o Dialoga Brasil é medida de alguma coisa frente à essa crise seríssima, por favor, vamos rever nossos conceitos), não dita nenhuma palavra, não é feita nenhuma nota, nenhuma propaganda, nada, zero, nulo. É tudo um grande vazio, como se o planalto fosse habitado por seres etéreos de outra dimensão que não somos capazes de enxergar. Temos um governo ainda? Ainda existe vida por lá? Existe algum poder de reação ou todos vão se fazer de telespectadores mesmo, vendo com gosto a oposição tomar suas medidas, passo a passo, para derrubar todo o planalto?

    • Zanilda: Estão onde sempre estiveram:" Na Marcha da Família com Deus e pela Liberdade".Por favor me refresquem a memória, acho que era este o nome do movimento do "povo" brasileiro. Ou seja a classe média, medíocre, fascista (e que nem imagina que é) está onde sempre esteve. Mas que quando manobrada vai para a rua e faz barulho.Porque de esquerda mesmo tem uma meia dúzia....

  • Gente eu estou apavorada que maluquice é essa. Onde está a igreja,a OAB, os intelectuais , as centrais sindicais e tantos ouros movimentos. Penso que estão tão incrédulos com o que está acontecendo quanto eu. Não posso acreditar no está acontecendo. Triste muito triste.

    • Pensou errado. Não estão incrédulos. Na verdade, estão alinhados com a realidade. Tirando as centrais sindicais (por motivos óbvios), todos os demais que você citou estão se movimentando para tirar esse partido podre do poder antes que ele acabe com o nosso país.

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