Depois de 3 meses de ausência do Twitter – aliás, algo muito recomendável a um ministro do Supremo Tribunal Federal – André Mendonça reaparece nas redes para defender-se dos ataques que está recebendo das horas bolsonaristas por seu voto condenando, embora mais levemente, o Deputado Daniel Silveira.
Diz que, como cristão, não quê que “tenha sido chamado para endossar comportamentos que incitam atos de violência” e, como jurista, não poderia “avalizar graves ameaças físicas contra quem quer que seja”. E lamenta “não ter sido compreendido”.
A emenda lhe sai pior do que o soneto, Ministro.
O voto tíbio não precisa ser explicado. Quando se quer explicá-lo, é como desculpar-se dele.
Quem age com independência não precisa disse, que o necessita é aquele que espera aprovação e, neste caso, da turma que legitima o que diz Daniel Silveira.
Recupero, da transcrição de Reinaldo Azevedo, em sua coluna no UOL, um trecho sobre a natureza da “liberdade de expressão” e a “imunidade parlamentar” que esta gente acha que deve ser protegida:
– “Fala, pessoal, boa tarde. O ministro [Edson] Fachin começou a chorar, decidiu chorar. Fachin, seu moleque, seu menino mimado, mau caráter, marginal da lei, esse menininho aí, militante da esquerda, lecionava em uma faculdade, sempre militando pelo PT, pelos partidos narcotraficantes, nações narcoditadoras.” – O que acontece, Fachin, é que todo mundo já está cansado dessa sua cara de filho da puta que tu tem. Essa cara de vagabundo, né. Decidindo aqui no Rio de Janeiro que polícia não pode operar enquanto o crime vai se expandindo cada vez mais. Me desculpe, ministro, se estou um pouquinho alterado. Realmente eu tô. Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra. Ô? quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda sim não seria crime. Você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é previsível.
– “Então, qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar, de preferência, após cada refeição, não é crime”.
A “surra de gato morto”, aliás, nem é inédita. Ano passado, Silveira foi condenado a pagar uma indenização ao prefeito de Niteroi (RJ), Axel Grael, por tê-lo ameaçado com uma e se ocultando na imunidade parlamentar e na originalíssima tese de que, como gato morto não mia, era uma “figura de linguagem”.
A tibiez de Mendonça, ao pedir que seja compreendido pelo óbvio só abre espaço para que mais pressões se façam sobre ele e que da próxima vez em que for “cristão e jurista” vai apanhar de novo.
Mas talvez nem tenha de esperar por isso. Hoje é dia da live de Bolsonaro…