Dilma, entre o mercado, o Congresso e ela mesma

Depois de uma semana, entre ida, volta e a participação da reunião do G-20 na Austrália, Dilma Rousseff está de volta  ao Brasil.

Óbvio que as primeiras horas, além de reacertar o fuso horário, serão dedicadas a ouvir e refletir.

Mas, agora, chegou a hora de decidir ou, melhor dizendo, tornar públicas as decisões que já tomou.

A primeira delas é evidente: a de quem será o Ministro da Fazenda.

Será uma imensa surpresa se a escolha recair sobre Henrique Meirelles, porque, como observa com imensa crueza e não menor veracidade o jornalista Luiz Sérgio Guimarães em seu artigo no jornal Brasil Econômico, seria para Dilma começar seu mandato com um gesto lido como de  fraqueza:

A sagração de Meirelles estaria ornada de um simbolismo capaz de euforizar os mercados. Significaria que a presidente voluntariamente abriu mão do controle direto da economia. Mais: interventor de Lula, Meirelles seria irremovível. É claro que a vitória do mercado no terceiro turno não seria completa se Dilma mantivesse Tombini no BC e colocasse Barbosa no Planejamento. Com isso, a presidente ainda deteria o controle do Conselho Monetário Nacional (CMN), a troica formada pelos ministros da Fazenda e do Planejamento mais o presidente do BC que, entre outras atribuições, decide miudezas como a meta de inflação e a TJLP.

A escolha de Dilma, é mais provável, deve ser neste caso por alguém que sinalize boa vontade ao diálogo com o o mundo das finanças e a indústria mas, ao mesmo tempo, que reafirme o óbvio: a condução da economia do país é de quem foi eleito para isso pela população, não pelo “mercado”.

O segundo ponto a exigir decisão presidencial é a articulação política. O novo (embora velhíssimo nas práticas e ambições) Congresso está aí, a exigir que se componha maiorias, referências e, mais que tudo, uma condução das casas legislativas que não seja uma permanente armadilha e fonte de “golpetes” contra o Executivo.

Ter Eduardo Cunha na presidência da Câmara é entregar o comando do Legislativo a alguém que, como diz hoje Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo,  “no A a Z da malandragem preenche virtualmente todas as letras”.

Dilma não tem um articulador político e precisa de alguém com autoridade suficiente para dialogar – inclusive com o prório PT – e assumir compromissos em nome dela. Mesmo que informalmente, porque ainda tem um mês de governo na Bahia, a delegação deste papel a Jaques Wagner, que parece provável, pode ajudar na travessia até a eleição da Mesa da Câmara, no início de fevereiro.

O terceiro ponto é o mais vital: as decisões que Dilma tem de tomar em relação a si mesma.

A esta altura, ela sabe que não pode seguir o roteiro de seu primeiro mandato, com a ilusão de que ceder às pressões da mídia vá render-lhe algum nível de tolerância e civilidade na forma com que vai ser tratada.

Não vai.

Já assistimos, mesmo poucos dias depois da vitória nas urnas, um tratamento a ela que atropela até mesmo as mínimas regras, até, da boa educação.

O enfrentamento com estes grupos, portanto, nada lhe vai tirar mas, de outro lado, muito pode lhe dar, à medida em que a população perceba claramente a razão e as formas de solução dos impasses da vida nacional.

Como agora, por exemplo, neste espetáculo que é dantesco como tantos outros que se encobriu, ao longo de várias décadas e vários governos, mas que, por exibido, cria as condições para uma reforma eleitoral cuja necessidade já não é possível recusar.

A terceira questão, que não necessariamente domina as duas decisões imediatas é a decisão que Dilma tomou em relação ao que significa este seu segundo mandato.

É evidente que não é – e os quatro primeiros anos o demonstraram – na base da “competência gerencial” apenas que se sustentará sua imagem final diante do povo brasileiro, com já não foi nisso que se sustentou sua eleição.

Ao contrário, Dilma tem consciência de que aquilo que a reelegeu foi o sentimento majoritário deste país de que é preciso justiça social, oportunidades, desenvolvimento econômico, oportunidades. E que, para que existam, é preciso confrontar as forças e estruturas que nos querem manter como colônia.

Não se fará isso sem uma comunicação direta da líder deste Governo com a população.

A Presidenta deve ter entendido, na campanha, que isso não se terceiriza.

Fernando Brito:

View Comments (29)

    • Mais claro impossível o artigo do Nassif. O cheiro de golpe, que já estava no ar, está se acentuando cada vez mais.

    • Eu li o que está no jornal do Nassif.

      Se Gilmar "descobrir" , ou não descobrir, algo mínimo que seja, Dilma não poderá ser diplomada em dezoito de dezembro.

      Eu, sinceramente, não acredito que Gilmar tenha coragem de fazer isso.

      Gente como o Gilmar é muito valente dentro da toga.

      Há muita gente ( gente finíssima ) neste país que, tranquilamente, meteria uma bala 7.62 x 51 FN FAL bem no meio da cabeça dele.

      Não sobra nem um pedacinho do lábio....

      Ele não teria como gozar do dinheiro sujo que recebe para fazer o que faz.

      Ele não é macho para fazer isso.

      O meu nome é Sergio Govea.

      • Concordo contigo Sérgio, o tratatamento que esses golpistas merecem é esses mesmo.Eles que tentem! Não pode dialogar com a direita fascista, agora não será como em 1964 ou 1954, tá mais que na hora de nos livrarmos dessa escória maldita.

  • Não seria o Professor Delfin Neto, o de hoje e não o de ontem, um bom nome para ser o Ministro da Fazenda da Presidenta Dilma???

    • Éééé..... Poderia ser sim. Ele é crítico ao governo, mas apoia a política econômica

  • Se ela escapar do golpe paraguaio, em que o inoperante ministro da justiça tem enorme responsabilidade, ao não providenciar junto a ela, Presidenta, a recondução em tempo do ministro que seria o relator das suas contas de campanha, deve considerar prioritária a indicação de um novo Ministro da Justiça (agora com maiúsculas). E o substituído JAMAIS deve ser indicado para o STF, sob pena e termos um futuro novo Toffoli.

    • Amigo, eu pensava exatamente como você.

      Mas, agora acho melhor tomar cuidado com a aparente apatia do Cardozão.

      • Deus queira. Espero que você esteja certo e eu mudarei de opinião, com prazer.

    • Infelizmente, isso que irá acontecer. O ''coração valente'' era bonito pra música da campanha.

  • Eu entrei aqui apenas para informar que estou aliviado quanto ao tal "golpe paraguaio" ou qualquer outro que o valha.

    Pedi autorização prévia ao meu interlocutor para ter a liberdade de dizer abertamente que um segmento "muito decisivo" em qualquer golpe de Estado não pactuará desta vez !

    Ao contrário do que alguns afoitos imaginam, em caso de incriminação descabida da nossa presidenta, esse segmento "muito decisivo" atuará de forma a garantir a decisão das urnas.

    Portanto, eu acredito que a "república do Paraná" (ou das araucárias) agirá com muita cautela, antes de se precipitar numa aventura de consequências muito ruins. Idem para a mídia. Idem para setores do judiciário e da PGR.

    Segundo a minha fonte, o assédio é grande por parte daqueles que faturam DOIS BILHÕES de reais POR DIA, com os juros da dívida pública, mas os "cabeças" são pessoas de mãos limpas.

    Cuidado... a nossa presidenta está calçada ! E bem calçada !

    Sergio Govea.

  • Fernando isso não tem fim? esse cerco à Dilma foi feito durante 4 anos, estamos cansados disso. A oposição é tão cretina que desvirtua tudo. Quer dizer que se ela escolhesse o Meireles seria sinal de fraqueza? Então se escolher outro será sinal de guerra? A campanha de Aécio sempre deixava uma encruzilhada pra ela ... fogo ou frigideira, não tinha desculpa. Se sabia de algo... era omissa e ladra, se não sabia de nada era incompetente. Ta todo mundo de saco cheio disso, deixem ela trabalhar. Espero, do fundo do coração, que ela saiba fazer boas escolhas pra facilitar seu segundo governo pq mais 4 anos de golpe o povo não aguenta.

  • Depois de tudo que enfrentamos não podemos ter medo. Acredito em Deus e tenho total convicção que a nossa Presidenta Guerreira terá sabedoria para conduzir nosso amado País. Força Povo! Força Presidenta! Avante!

  • gilMAu, o beiçola gosmento, e Toffoli, o discípulo de KRUELL, já estão armando o GOLPE no TSE a 4 mãos, onde querem derrubar a prestação de contas da campanha da DILMA... Olha, tem muita coisa que eu não sei nessa vida, mas uma coisa eu sei muito bem: 'DILMA e LULA são meus amigos, mexeu com eles, mexeu comigo'.

    "O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"

  • Eu já penso ao contrario se ela escolher o Meirelles vai ser muito bom para o governo dela, para fazer as reformas necessárias, como a reforma politica , tributária e a grande reforma a Judiciária.Não acho que ela tem o controle hj da economia que passa por um momento de estagnação, no primeiro mandato abaixou os juros e não aconteceu nada, fez os Bancos publicos darem credito a taxas menores e tb não mudou nem meio por cento do PIB.Para mim o problema atual é politico,de reformas se a economia melhorar como Meireles é lucro.

  • Roberto Requião não pode faltar nesse segundo governo Dilma.

    Não seria o melhor ou um dos melhores nomes para o Ministério Das Comunicações?

    Enfrentar máfias iguais Globo,Bandeirantes,Igreja Unireal do Reino de Deus,VEJA -Cachoeira-Demóstenes e cia,Dilma vai precisar de um verdadeiro leão para esse enfrentamento que será quase suicida mas que a sociedade verá os lucros em poucos anos ou quem sabe meses.

    • Seria excelente. Porém, Dilma se borra toda de medo do pig. Ela não teria essa coragem.

  • Está na hora do deus mercado dar sua contribuição no crescimento do pais, praticando e recebendo menores juros pra não matar a galinha dos novos de ouro.O essencial é o governo tomar ações, logo no inicio do ano, que venham limitar a entrada de capital volátil, facilite a tomada de crédito pela população, invista muita mais em infraestrutura e, estimule o setor produtivo a investir na producão. Para tal sugerimos as seguintes ações concomitantes:
    - Taxar pesado as aplicações de curto prazo, todas elas. O IOF esta ai para isso e, premiar as aplicações de médio e longo prazo com percentuais menores do IOF;
    - Liberar totalmente o depósito compulsório dos bancos. Não tendo onde aplicar, no curto prazo, com valores de IOF atrativos, os bancos terão que diminuir seus juros reais para o tomador de empréstimos, frente ao volume de recursos que ficará a sua dispensas ou, vão ter que buscar outra forma para remunerar esse capital, quem sabe, no setor produtivo que seria muito mais interessante para o país;
    - Voltar a baixar a SELIC, com isso, diminui o montante de recursos para rolagem da divida interna e, sobrará mais recursos para investimento em infraestrutura;
    - Aplicar em infraestrutura parte das reservas, diminuirá os custos de manutenção dessas reservas que sabemos não ser barato;
    - Estimular, com uma politica própria e linha de credito com os recursos das reservas, o setor produtivo a investir no aumento da sua produção, para atender incrementos de demanda, tendo como base de aumento da produção o equivalente ao somatório do crescimento do PIB dos últimos 5 anos;
    - Renegociar a divida interna com os 100 maiores credores estendendo prazos e diminuindo juros, pra sobrar mais recursos para investimento em infraestrutura;
    - Não há justificativa pro real estar desvalorizado em 150% em relação ao dólar. O valor do dólar mais baixo ajuda no controle da inflação e na aquisição de equipamentos e novas tecnologias para aumentar a produtividade do pais. Essa desvalorização do dólar só favorece aos exportadores e penaliza a sociedade como um todo, no controle da inflação. Temos que buscar um valor do dólar que atenda, principalmente, os interesses da maioria da população e, seguramente, esse valor é bem inferior aos 2.60 reais de hoje. As reservas são satisfatórias para atender QQ choque ou turbulências externas e permitir atender as demandas acima citadas;
    Temos que partir pra ações ousadas e factíveis, aumentar e baixar selic, vender ou comprar dólares são ações que não tem surtido os efeito desejados de longo prazo.

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