Trancrevo a fala, hoje, da Presidenta Dilma Rousseff, sobre os 50 anos do golpe militar de 1964, do qual ela própria foi uma vítima, submetida á prisão e à tortura.
Que diferença dos tempos que vivi, quando esta data era lembrada com ameaças e advertências sobre os – nunca vou esquecer esta expressão – perigos da subversão “solerte e soez” , lido por caras duras e ferozes.
Toda dor, disse a presidenta, pode ser suportada se sobre ela podemos contar sua história, como finalmente o Brasil começa a fazer.
Mas isso não quer dizer voltarmos nossos olhos sobre o passado, por vingança ou rancor.
É a única e sadia forma de expurgar os fantasmas que fazem um país, como fazem a uma pessoa, viver agarrado a algo ruim, muito ruim.
E livre assim sua memória poder , como ensina o poeta Chico Buarque, “… quebrar todas as grades de que um homem é feito pra esquecer de voar”.
Assista o vídeo e leia o trecho da fala de Dilma.
Cinquenta anos atrás, na noite de hoje, o Brasil deixou de ser um país de instituições ativas, independentes e democráticas. Por 21 anos, mais de duas décadas, nossas instituições, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados. Hoje, nós podemos olhar para esse período, olhar justamente do ponto de vista dessa obra específica, mas que mostra toda a capacidade e o envolvimento de todas as instituições num clima de democracia. Nós podemos olhar para este período e aprender com ele, porque nós o ultrapassamos. O esforço de cada um de nós, o esforço de todas as lideranças do passado, daqueles que vivem e daqueles que morreram, fizeram com que nós ultrapassássemos essa época, os 21 anos.
Nós aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes e ativos. Aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger pelo voto direto e secreto de todos os brasileiros governadores, prefeitos, de eleger, por exemplo, um ex-exilado, um líder sindical, que teria sido preso, que foi preso várias vezes, e uma mulher também que foi prisioneira. Aprendemos o valor de ir às ruas e nós mostramos um diferencial quando as pessoas foram às ruas demandar mais democracia. Aqui no Brasil não houve um processo de abafamento desse fato. O valor, portanto, de ir às ruas, o valor de ter direitos e de exigir mais direitos.
Embora nós saibamos que os regimes de exceção sobrevivem sempre pela interdição da verdade, pela interdição da transparência, nós temos o direito de esperar que, sob a democracia, se mantenha a transparência, se mantenha também o aceso e a garantia da verdade e da memória e, portanto, da história. Aliás, como eu disse quando instalamos a Comissão da Verdade, a palavra “verdade” na tradição ocidental nossa, que é grega, é exatamente o oposto do esquecimento e é algo tão forte que não dá guarida para o ressentimento, o ódio, nem tampouco para o perdão. Ela é só e, sobretudo, o contrário do esquecimento, é memória e é história. É nossa capacidade de contar tudo o que aconteceu.
O dia de hoje exige que nós nos lembremos e contemos o que aconteceu. Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram, devemos aos torturados e aos perseguidos, devemos às suas famílias, devemos a todos os brasileiros. Lembrar e contar faz parte, é um processo muito humano e faz parte desse processo que nós iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pelas liberdades democráticas, pela anistia, pela Constituinte, pelas eleições diretas, pelo crescimento com inclusão social, pela Comissão da Verdade, enfim, por todos os processos de manifestação e de ampliação da nossa democracia que temos vividos ao longo das ultimas décadas, graças a Deus.
Um processo que eu foi construído passo a passo durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura. Nós reconquistamos a democracia a nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais. Muitos deles traduzidos na Constituição de 1988. Como eu disse, na instalação da Comissão da Verdade, assim como eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram a redemocratização.
A grande Hanna Arendt escreveu um dia que toda dor humana pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. A dor que nós sofremos, as cicatrizes visíveis e invisíveis que ficaram nesses anos, elas podem ser suportadas e superadas porque hoje temos uma democracia sólida e podemos contar nossa história.
Como eu disse, nesse Palácio, repito, há quase dois anos atrás, quando instalamos a Comissão da Verdade, eu disse: se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulos, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca, mas nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem da voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la. E acrescento: quem dá voz à história somos cada um de nós, que no nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia no nosso país. Muito obrigada.
17 respostas
Dilma deveria fazer um pronunciamento em rede nacional. Os que bravamente, como ela, que lutaram contra a truculência do estado ilegal, merecem uma homenagem em rede nacional. E os que covardemente torturaram e os que apoiaram e apóiam a truculência do estado ilegal, deveriam ouvir para envergonhar-se. Se bem que os que apóiam o que foi feito não tem vergonha na cara.
Boa tarde,
caso tivesse ocorrido essa Barbárie como no Japão com certeza o governo faria fazendo 1 minuto de silencio as vitimas e pedido desculpas as famílias por tal atrocidade. Pior do que não pedir desculpa e querer trazer esse câncer de volta a nossa sociedade com o objetivo de tomar o poder em causa própria. Essa luta contra a sombra da GLOBO, EX-GOVERNADORES E ATUAIS, que numa invalidez de pensamento querem a ferro e a fogo ter o poder, pelo fato de ter. Nós brasileiros temos que olhar a democracia como se olha um filho, pois a instabilidade esta tentando chegar pelos mesmo meios usados a 50 anos atrás, ou seja, SEU FILHO VAI SER COMIDO POR UM COMUNISTA”
Boa tarde,
caso tivesse ocorrido essa Barbárie como no Japão com certeza o governo estaria fazendo 1 minuto de silencio as vitimas e pedido desculpas as famílias por tal atrocidade. Pior do que não pedir desculpa e querer trazer esse câncer de volta a nossa sociedade com o objetivo de tomar o poder em causa própria. Essa luta contra a sombra da GLOBO, EX-GOVERNADORES E ATUAIS, que numa invalidez de pensamento querem a ferro e a fogo ter o poder, pelo fato de ter. Nós brasileiros temos que olhar a democracia como se olha um filho, pois a instabilidade esta tentando chegar pelos mesmo meios usados a 50 anos atrás, ou seja, SEU FILHO VAI SER COMIDO POR UM COMUNISTA”. Queremos a democracia em nossas feias e a liberdade de expressão co um controle maior da mídia.
Parabéns Presidenta Dilma por esse importante e emocionado pronunciamento.Porém,quando os conservadores de plantão,os da casernas, admitirem as atrocidades cometidas,aqueles que tombaram sob o regime,de forma desumana e covarde ,terão enfim o descanso merecido.
parabens presidenta….vai falAr em cadeia nacional……? OS BLOGS DEVEM DR GRANDE ESPAÇO A ESTE PRONUNCIAMENTO!
Dilma viveu e vive a História passada e presente; ficará na memória do povo porque hoje faz História.
“NÃO PASSARÃO…..”
“reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram a redemocratização”
Ou seja: a Lei da Anistia não deve ser tocada.
TORTURA NUNCA MAIS:
Lembrar é preciso.
Frei Tito de Alencar Lima, brutalmente torturado no cárcere se suicidou na França.
Rezemos, mesmo os sem fé, juntos o poema – Noite de Silêncio – que Tito escreveu em Paris, a 12 de outubro de 1972:
“Quando secar o rio da minha infância / secará toda dor. Quando os regatos límpidos de meu ser secarem / minh’alma perderá sua força. Buscarei, então, pastagens distantes / lá onde o ódio não tem teto para repousar. Ali erguerei uma tenda junto aos bosques. Todas as tardes, me deitarei na relva / e nos dias silenciosos farei minha oração. Meu eterno canto de amor: / expressão pura de minha mais profunda angústia. Nos dias primaveris, colherei flores / para meu jardim da saudade. Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio”.
JESUS CRISTO DE NAZARÉ:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
O calvário de Frei Tito
Na terça-feira. 17 de fevereiro de 1970, oficiais do Exército retiraram Frei Tito de Alencar Lima do Presídio Tiradentes, onde se encontrava preso desde 1969, acusado de subversão. “Você agora vai conhecer a sucursal do inferno”, disse-lhe o capitão Maurício Lopes Lima.
No quartel da rua Tutóia, um outro prisioneiro, Fernando Gabeira, testemunhou o calvário de frei Tito: durante três dias, dependurado no pau-de-arara ou sentado na cadeira-do-dragão -feita de chapas metálicas e fios-, recebeu choques elétricos na cabeça, nos tendões dos pés e nos ouvidos. Deram-lhe pauladas nas costas, no peito e nas pernas, incharam suas mãos com palmatória, revestiram-no de paramentos e o fizeram abrir a boca “para receber a hóstia sagrada” – descargas elétricas na boca. Queimaram pontas de cigarro em seu corpo e fizeram-no passar pelo “corredor polonês”.
O capitão Beroni de Arruda Albernaz vaticinou: “Se não falar, será quebrado por dentro. Sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia”. A ceder e viver, Tito preferiu morrer. “É preferível morrer do que perder a vida”, escreveu ele em sua Bíblia. Com uma gilete, cortou a artéria do braço esquerdo. Socorrido a tempo, sobreviveu.
Foi libertado em dezembro de 1970, incluído entre os prisioneiros políticos trocados pelo embaixador suíço, seqüestrado pela VPR. Ao desembarcarem em Santiago do Chile, um companheiro comentou: “Tito, eis finalmente a liberdade!”. O frade dominicano murmurou: “Não, não é esta a liberdade”.
Em Roma, as portas do Colégio Pio Brasileiro, seminário destinado a formar a elite do nosso clero, fecharam-se para o religioso com fama de “terrorista”. Em Paris, nossos confrades o acolheram no convento de Saint Jacques, em cuja entrada uma placa recorda a invasão da Gestapo, em 1943, e o assassinato de dois dominicanos.
O capitão Albernaz tinha razão: sufocado por seus fantasmas interiores, Tito tornou-se ausente. Ouvia continuamente a voz rouca do delegado Fleury, que o prendera, e o vislumbrava em cafés e bulevares. Transferido para o convento de I’Arbresle, construído por Le Corbusier, nas proximidades de Lyon, as visões aterradoras continuaram a minar sua estrutura psíquica. Escrevia poemas:
“Em luzes e trevas derrama o sangue de minha existência / Quem me dirá como é o existir / Experiência do visível ou do invisível”.
Os médicos recomendaram-no suspender os estudos para dedicar-se a trabalhos manuais. Empregou-se como horticultor em Villefranche-sur-Saône e alugou um pequeno cômodo numa pensão de imigrantes, o Foyer Sonacotra, cujas despesas pagava com o próprio salário. O patrão o percebeu indolente, ora alegre, ora triste, sugado por um tormento interior. Em seu caderno de poemas, Tito registrou:
“São noites de silêncio / Vozes que clamam num espaço infinito / Um silêncio do homem e um silêncio de Deus”.
No sábado, 10 de agosto de 1974, frei Roland Ducret foi visitá-lo. Bateu à porta de seu quarto, na zona rural. Ninguém respondeu. Um estranho silêncio pairava sob o céu azul do verão francês e envolvia folhas, vento, flores e pássaros. Nada se movia. Sob a copa de um álamo, o corpo de Frei Tito dependurado por uma corda, balançava entre o céu e a terra. Ele tinha 28 anos.
Em março de 1983, seus restos mortais retornaram ao Brasil. Acolhidos em solene liturgia na Catedral da Sé, em São Paulo, encontram-se enterrados em Fortaleza, sua terra natal. O cardeal Aros frisou que Tito afinal encontrara, do outro lado da vida, a unidade perdida.
http://www.adital.com.br/freitito/por/irmao.html
Ao ler, lágrimas me vem ao vê tanta maldade num ser humano e vê que essa maldade e esses mesmos fantasmas que consumiram o Frei continuam vivos não apenas na memória , mas no dia a dia, enquanto não houver justiça e um pedido de perdão como governo, como autoridade máxima, a todas as vítimas, sejam elas próprias ou familiares.
A lei da Anistia precisa ser revista e as “bestas-feras” punidas. O Governo brasileiro precisa pedir perdão ao Brasil por todas essas atrocidades cometidas contra seres humanos indefeso!
Não é a Dilma Presidenta, vítima de atrocidades, mas a Instituição Presidência da República.
Temos que passar o Brasil a limpo, mudar as mentiras que são ensinadas nas escolas, em especial nos colégios militares e fazer com que a verdadeira história seja ensinada.
Os nossos mortos e suas famílias precisam descansar e isso só vai acontecer, quando houver punição aos bandidos e o pedido de perdão pelo Brasil como nação.
Parece que essa é a essência da fala,caro Diego.
Caro Diogo.
A covardia expressa dos juízes, ao tapar o rosto para não aparecerem na foto diz tudo… Alguém consegue identificar esses canalhas e onde estão hoje?
O discurso da presidente Dilma reflete um processo de superação pessoal. Aqueles que sofreram diretamente ou indiretamente jamais esquecerão… muitos não tiveram o direito de enterrar seus mortos e os fantasmas assombram toda uma geração. É uma pena que Lula e Dilma não tenham enfrentado os responsáveis por essa atrocidade com a devida contundência … é como se validassem essa famigerada lei de anistia. A elite que patrocinou o golpe de 1964 continua onde sempre esteve, vigilante e combativa. A DITADURA continua gerando frutos medonhos: a violência urbana, a estrutura policial e jurídica que mata e pune os pobres, a estrutura educacional que gera analfabetos funcionais, a corrupção desenfreada que permeia a burocracia estatal. Essa herança maldita deve ser enfrentada com uma revisão histórica profunda. Estamos perpetuando o mito do brasileiro cordial. Um pronunciamento à nação se fazia necessário. Existe atrás da praça dos três poderes o chamado Panteão da Liberdade, em homenagem aos heróis brasileiros, patrocinado pelo BRADESCO. E os heróis que lutaram e morreram durante a ditadura ??? seus nomes não contam em lugar algum… nem nas lápides.
De tirar o fôlego. Orgulho de nossa presidenta.
Emocionante! Queria muito ter a honra de um dia conhecer a presidente pessoalmente.
É uma honra, um orgulho ter uma presidenta com a trajetória que a nossa guerreira Dilma possui. Frágil e forte, serena e corajosa, humana, patriota, cidadã brasileira acima de tudo. Obrigada, presidenta Dilma, por me representar tão bem como mulher e patriota!