Doação empresarial “by Cunha”: agora, sim, todo o dinheiro será “secreto”

Para matar de vergonha os “arautos da moralidade” que silenciam diante da imoralidade do projeto que consagra as doações empresariais para campanhas eleitorais, que só se viabilizou porque Gilmar Mendes sentou-se por um ano e meio sobre a decisão de proibi-lo, como já decidira o Supremo Tribunal Federal, não é preciso que algum blog de esquerda escreva sobre isso.

 

Basta a leitura do ótimo e corajoso comentário do correto José Roberto de Toledo sobre o projeto enfiado, goela abaixo da Nação, pelas repetidas votações promovidas por Eduardo Cunha. Enquanto Gilmar Mendes fica dizendo que a proibição das doações privadas vai criar o “caixa 2 da compra de CPFs falsos”, um delírio que o simples cruzameto dos dados eleitorais com os da Receita desmontaria, a certeza da corrupção generalizada vem justamente do contrário, da regra aprovada na Câmara de “doar bem sem dizer a quem”.

 

Leia a explanação mais do que clara de Toledo:

 

“Enquanto todos os olhares se voltavam à perda do grau de investimento do País, a Câmara dos Deputados aprovava na correria de sempre, no mesmo dia e na mesma hora, uma reforma eleitoral cujo texto e extensão só se conheceram depois de consumada a votação. Os deputados oficializaram o obscurantismo.

Graças à reportagem de Daniel Bramatti, sabe-­se agora que a Câmara, entre outros retrocessos, tornou legal a lavagem das doações ocultas de campanha. Transformou em lei o que era um truque, um jeitinho. A partir das próximas eleições, não será mais possível saber, por exemplo, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-­RJ), elegeu­se com dinheiro da Ambev, da Rima Industrial e da Telemont Engenharia. Ou que o relator da reforma, Rodrigo Maia (DEM­-RJ), foi apadrinhado pelo banco BMG.

A nova legislação proíbe a doação direta de empresas a candidatos. A partir de agora, a pessoa jurídica que quiser investir na política terá de, obrigatoriamente, pagar pedágio para o partido. Todo o dinheiro doado passará por seus comitês financeiros. De lá, seguirá lavadinho e anônimo para os políticos. Na prestação de contas do candidato só aparecerá que o dinheiro veio do seu partido. E, na do partido, que ele deu tanto para o candidato, sem declarar o nome do doador original.

A mudança está no 12.º parágrafo do artigo 28 da nova lei: “Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão registrados na prestação de contas dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de contas dos partidos, como transferência aos candidatos, sem individualização dos doadores”.

O efeito prático da reforma obscurantista aprovada com o voto de mais de 300 deputados é que: 1) a empresa saberá se a quantia que doou foi a mesma que o candidato que ela pretendia financiar recebeu, 2) o partido saberá de quem recebeu o dinheiro e para quem repassou essa grana, 3) o candidato saberá quanto recebeu do partido e poderá conferir com o empresário doador se o valor bate. Mas o eleitor e a Justiça eleitoral não saberão mais qual empresa financiou qual candidato. A sociedade ficará no escuro.

Essa mudança fundamental da legislação poupa os políticos do constrangimento de o público ficar sabendo que são financiados pela indústria de armas, ou que fazem parte da bancada do bife (financiada pelo frigorífico JBS), da cerveja, das mineradoras, das empreiteiras, dos bancos, das seguradoras – e por aí vai.

Para os financiadores, também é conveniente porque fica mais difícil de estabelecer uma ligação direta entre a empresa e um ou mais políticos. Assim, quando esse político assinar um contrato com aquela empresa, aprovar uma lei que a beneficie, barrar uma convocação de seu dono para depor em uma CPI, ninguém poderá afirmar com certeza que ele está retribuindo o favor pelo dinheiro que recebeu da empresa durante a campanha eleitoral.”

O texto integral de Toledo está aqui, mas só este trecho basta para deixar claríssimo o esquema alimentar candidaturas com doações, na prática, anônimas e indefinidas.

 

Pelo grau de desfaçatez dos “moralizadores”, sabe-se da hipocrisia de sua “moralidade”.

Fernando Brito:

View Comments (26)

  • Se a Dilma não vetar, terá dado uma baita contribuição para o "projeto".

    • Ela só pode vetar lei complementar e ordinária por isso ele coloca tudo em PEC para escapar do veto do executivo.

  • Lamentável ! Mais uma vez temos a mostra de que este é o PR CONGRESSO já havido na nossa recente democracia, tão duramente conquistada. Mas, 2018 está aí e nossa luta será ferrenha para que esses parlamentares tenham seu destino certo: a RUA

  • E a turminha que não queria o plebiscito da reforma política o que tem a dizer ?

  • Sabe o que é pior? Aqueles trastes que estão no Congresso foram eleitos pelo povo. E justamente o povo que tanto se inflama quando o assunto é corrupção elegeu corruptos que trataram de institucionalizar a bandalheira. Pelé disse que o brasileiro não estava preparado para votar e foi esculhambado. Ele estava mesmo tão errado? Não vou discutir os motivos que levaram a massa a se tornar analfabeta política, mas que o eleitor de classe média que vota nesta direita merecia receber um atestado de burrice, merecia! O eleitor pobre não passa de um pobre coitado que comeria merda se a globo dissesse que é bom.

  • E o PT...vai ser conivente? Não havia, pouco tempo atrás declarado que não aceitaria mais doações empresariais para as campanhas? Taí a GRANDE OPORTUNIDADE de o PT limpar sua barra com a população, o que der após o massacre mediático.
    Faz uma campanha massiva em todos os veículos e canais disponíveis de mídia, denunciando aos analfabetos políticos -grande maioria- e aos coxinhas moralistas fãs do Moro 77 mil/mês, o Cú...nha e seu bando "Os Trezentos" - lembram do Paralamas do Sucesso: -"Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou...
    são trezentos picaretas com anel de doutor..." - para que a população perceba o que realmente é CORRUPÇÃO POLÍTICA EMPRESARIAL! Com a faca e o queijo na mão do PT...se quiser também né...

  • A lei é inconstitucional pois fere o princípio da publicidade (Art. 37 da CF).

  • O Senado já votou a PEC do Achacador Cunha (constitucionalizar o financiamento eleitoral)?
    Se votou e fomos derrotados, aí sim nós estamos fu..dos, pois dessa forma não conseguiremos mais eleger um Congresso que represente o povo brasileiro, pois o Congresso vai passar a representar pessoas jurídicas, igrejas evangélicas mercenárias, latifundiários e bandidos como o Achacador Cunha.
    Não sobrará outro caminho para o povo do que derrubar a nova Bastilha que será o Congresso Nacional, pois esse Congresso Nacional não representará mais as pessoas físicas.

    • A raposa escorregadia sabe que PEC não permite veto do executivo pois isso ele coloca tudo nelas.

    • Tô prudentemente contigo e não abro. Vamos -o povo- pra cima deste congresso(melhor dizendo, esta quadrilha de assaltantes) e rebentamos com eles. Novas eleições parlamentares, e nova constituição. Pronto, acabamos logo com esta putaria congressual.

  • Pode parar com tudo! Lava jato, trensalão, aprisionamentos de interesse, show de ética de tele jornal, o Gilmar devolveu e o Cunha constitucionalizou a propina. Calemos a boca pois! Agora vão repatriar dinheiro 'escondido', só aqueles com origem lícita, como dos desvios da Petrobrás, sonegação e propinagem de transmissões televisivas, dinheiro bom, que deveria circular aqui. O criador das regras e juiz da devolução, adivinha?

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