Dono do Serum, da India, não previa vender vacinas tão cedo

Cedo ou tarde vai-se saber dos bastidores para lá de obscuros da compra das vacinas indianas que são o “trunfo” de Jair Bolsonaro para começar uma imunuização, ainda que praticamente simbólica, antes do esperado início da aplicação da Coronavac comprada por João Doria.

Não foi apenas Adar Poonawalla, diretor-executivo do Serum Institute, fabricante da versão indiana da vacina de Oxford, que disse que as vacinas não poderiam ser destinadas a outros países antes que as necessidades prioritárias da Índia fossem atendidas.

O verdadeiro dono do Serum, Cyrus Poonawalla, dono da empresa e pai de Adar disse, no dia 30 de dezembro, em entrevista a TV 18, daquele país, que “levaria algum tempo” para que a vacina, mesmo depois da aprovação, e que “não estava muito ansioso para isso, porque a Índia vem primeiro, o mercado privado da Índia vem junto, en segudo e só então olharemos para outros países do Acordo Gavi (a Covax, da OMS)”:

— Eu espero que não tenha de olhar para os suprimentos do [Acordo] Gavi por um mês, antes do lançamento aqui [na Índia]

O vídeo desta entrevista está ao final do post, a partir dos seis minutos e trinta segundos.

Portanto, aparentemente, não havia qualquer pressão da empresa frente a uma suposta ordem governamental para que não se exportasse o imunizante. Na entrevista, Cyrus apenas menciona a necessidade de que o governo indiano possa pagar logo pela produção já estocada, para que a fabricação possa continuar.

No dia seguinte à entrevista de Cyrus, a Fundação Oswaldo Cruz entrou, de surpresa, com um pedido de autorização para a importação de 2 milhões de doses das vacinas do Serum Institute, em tese iguais às que já poderia estar produzindo aqui, pois serão ambas versões da “vacina de Oxford”.

Só que a Fiocruz não recebeu o IFA (ingrediente farmacêutico ativo) da vacina, que é fabricado (santa ironia!) na China.

Mais curioso ainda é que quase que simultaneamente foram iniciadas tratativas entre as clínicas privadas de vacinação com outro laboratório indiano, a Bahrat Biotech, para a compra privada de uma outra vacina, a Covaxin, que não tem testes adiantados mas que abriria a “alternativa” de uma vacinação privada.

Não li, em parte alguma, que qualquer país do mundo esteja tratando de vacinas pagas.

As duas empresas têm, portanto, interesses comuns e chegaram a publicar uma nota oficial desmentindo que houvesse óbices do governo indiano para exportação de seus produtos. Restrição, aliás, que não foi possível encontrar em qualquer publicação do governo daquele país.

Há um cheio de jabuticaba no ar em toda esta história e tem muita gente pensando que, afinal, o importante é ter uma vacina pronta para ser aplicada antes que se faça isso em São Paulo.

 

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