“Doutor Pobre”, a desgraça social que a crise agrava

Sabe aquela história de que a educação, sozinha, responde pela ascensão social das pessoas? Pois é, nem com a estudante negra de mão branca da propaganda racista do MEC, passa a ser verdade.

Em entrevista ao portal da Unisinos, o economista Valdir Quadros, da Unicamp, mostra que o afundamento social no brasil levou a uma situação em que lees e outros estudiosos deixaram de tratar da categoria “baixa classe média” e passaram a chamar de  “camada superior dos pobres”, alem dos pobres, que são a massa trabalhadora, e os miseráveis.

“(…) 80% dos [trabalhadores] ocupados são classificados em alguma dessas categorias: 40% estão na camada superior dos pobres, 27% na camada dos pobres e 13% na camada dos miseráveis. A camada “superior dos pobres” tem uma renda média mensal de 1.700 reais, os “pobres” recebem 920 reais mensais e os “miseráveis”, 310 reais mensais

E aí, vem o dado em que poucos acreditam: o ponto de ecorte não é educacional: dos 5,8 milhões de ocupados com ensino superior incompleto, 4,6 milhões são ‘pobres’. Mais grave ainda: 8,3 milhões de ocupados que estão classificados na categoria ‘pobres’ têm ensino superior completo. Se juntarmos aqueles que têm ensino superior incompleto e aqueles que têm ensino superior completo, temos 12,9 milhões de trabalhadores ‘pobres’ com nível superior”.

 Todo mundo imagina que após concluir o curso superior é possível ao menos ir para a média classe média, mas não é o que está acontecendo no Brasil. Então, o significado disso é uma profunda insatisfação. Aliás, esse quadro agrava a insatisfação e pode se encaminhar para uma revolta”.

Para ele, o que vai se desenhando é “uma assustadora a bomba-relógio “.

Fernando Brito:

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  • Tem que desonerar a folha de pagamentos. Ops, já foi feito.
    Tem que fazer a reforma trabalhista. Ops, já foi feita.
    Tem que reformar a previdência... Não vai adiantar, pois os grandes empresários querem é investir no mercado financeiro, na bolsa, em títulos da dívida. O custo do trabalhador reduz e eles não usam o excedente para investir em produção, empregos, renda.

    • Trevas! Futuro de miséria . Algum dia poderá ser revertido este quadro? Não tenho esperanças.

    • O problema não é o mercado desejar todas estas reformas. O problema é uma classe escolarizada acreditar que, com todas estas reformas, eles se darão bem!!!! Não há educação que dê jeito!!!

    • Mais ou menos. Os europeus tem um Estado de Bem Estar Social que em parte "compensam" as perdas e os efeitos nefastos da desindustrialização/deslocalização, sem dizer que se beneficiam também dos bens baratos que chegam do Oriente (nova industrialização/realocalização manufatureira) e do valor de suas moedas. Não se compara com nossa situação econômica e nem com nosso estado de mal estar social. Um v e lho filósofo alemão falava de exército industrial de reserva e ciclos de valorização e desvalorização do capital, mas os "especialistas" (•) não concordam, acreditam que os mercados se autorregulam.

      (•) para quem quiser, por favor, consultar a definição do poeta Fernando Pessoa.

      • concordo com a relativização da experiência europeia. Lá há uma rede de proteção social, que aqui estão querendo extinguir o pouco existente.

    • Claro, mas não se pode comparar. Analise a piramide de Maslow no Brasil e na Europa.

  • Parte do problema é que é ensino do mercado voltado para o mercado. Eu vejo isso como uma arapuca, encher o mercado de trabalho de gente qualificada pra reduzir o "gasto" com empregado.

    Isso me lembra que quem ganha 4 salários mínimos já entra na camada dos 10% mais ricos do país. Ou seja, o salário mínimo ideal, segundo o Dieese, te põe na "elite".

  • A cada rodada de neoliberalismo, achatando salários e destruindo empregos a situação piora, mas os gênios da FGV, todos que fazem MBA lá e em outras universidades de administração e economia são totalmente favoráveis à isso. Ajoelham para essa entidade maligna (o deus mercado). Serão os futuros pobres da camada superior. Aliás pobre da camada superior não faz juz à situação real. Se o cara não tiver casa própria, metade ou mais da renda vai para alugar um barraco na favela, saúde só no SUS, etc. É melhor chamar de sem teto da camada superior.

  • Pessoas com nível superior,insastifeitas por não terem alcançado o "sonho" da ascensão económica ,envenenados em sua maioría pela mídia em contra de quem com crescimento económico e facilidades de acesso a educação lhes permitiu "sonhar" ?,vale a pena ficar de olho nisso.
    Estas pessoas,em sua maioría analfabetos políticos (tenho a desgraça de ter conhecido muitos deles renegando dos pts),se defrontam não somente com a negação do seu progresso económico ,mas ,COM A CERTEZA DE TEREM SIDO USADOS COMO MASSA DE MANOBRAS,CONCRETAMENTE TER SIDO TROUXAS APOIANDO UM PROJETO DE DELINQUENTES.
    Esse é um campo fértil para ser usado pela oposição ,mas,qual??? os centristas do pt e psol que participam em reuniões de camaradagem com os fardados golpistas/entreguistas???

    • Muito bem colocado isto. A dita esquerda, ocupadíssima em manter limpos e brilhantes seus saltos altos, não consegue voltar o olhar para essa massa que, caso a terra fosse plana, teria o poder de colocar o mundo de lado e jogar os ricos ao espaço. Há anos eu acompanho as baboseiras desses idiotas. É impensável que tenham desperdiçado anos valiosos em discussões ridículas e não tenham deixado o conforto de salas e gabinetes refrigerados e sujado seus saltos altos, indo falar com quem importa. Sempre me volta à cabeça um voto que arranquei do crápula, ora no Planalto quase à venda. Um rapaz, policial militar, com quem conversava ao passear com os cachorros, em noites alternadas, quando ele fazia bico num restaurante próximo de minha casa, a certa altura manifestou a disposição de votar no energúmeno e seus lacaios. Não confrontei, mas, passei, cada vez que nos falávamos, a mostrar certas questões que hoje gritam. Como trabalhador oprimido, além da situação salarial, que o obrigava a manter outra ocupação, quando deveria descansar de sua lida desgastante, trazia as impressões de quem é bombardeado, dentro do quartel, pela ideologia canalha da oficialidade, que acaba por deformar também o julgamento de quem é subalterno e vive sob o tacão daqueles, sobretudo, os que não pensam. Numa dessas conversas, o amigo comentou que o oficial de sua fração falara sobre "o amor da Maria do Rosário pela bandidagem". Ele concordava com o tal oficial e replicava a crença a ele imposta. Pois é, eu lhe disse, talvez alguém devesse informar ao teu oficial sobre a lei que a Maria do Rosário fez, em respeito, inclusive, aos policiais, mortos e feridos em serviço. Ele não sabia! O oficial, sim, este sabe! Eles sabem, sempre! Prometi-lhe verificar o PL e a Lei. Na próxima ocasião em que o vi, entreguei-lhe os links e o aconselhei a "se enganar com os próprios olhos". Isto bastou para que mudasse radicalmente sua visão sobre a deputada, sobre a esquerda e sobre os votos que colocou na urna. Se a esquerda pisasse nas periferias, se a esquerda abandonasse esse vício de salto alto e ar refrigerado, ajudaria este país a acordar e cumprir o seu destino. O problema é fazer com que essa esquerda torta, e não só ela, acorde.

    • Não há pacto possível com a direita!!! Convivência, como se convive com pernilongos, baratas etc. Todas as pessoas escolarizadas e de direita que conheço não estão nem aí pelo cumprimento das leis. Pelo visto, tal como Bolsonaro, preocupam-se, apenas, com o comprimento delas. Nunca foram democratas. Apenas da boca para fora!!! Estas pessoas NUNCA vão mudar!!! Se hoje é Bolsonaro, amanhã será um outro com o mesmo perfil de política econômica. São praticantes da servidão voluntária!!!

  • " A sociedade dominada pelo trabalho não passa por uma simples crise passageira, mas alcançou
    seu limite absoluto. A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na seqüência da revolução microeletrônica, do uso de força de
    trabalho humano – numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Na terceira revolução industrial, a capacidade de racionalização é maior do que a capacidade de expansão. A eficácia de uma fase expansiva, criadora de empregos, deixou de existir. O desemprego tecnológico da antiga história da industrialização faz seu retorno triunfal, só que agora não se limita a um ramo da produção, mas se espalha por todas as indústrias, por todo o planeta." (Robert Kurz)

  • O economista inglês Guy Standing escreveu um livro seminal a respeito, "O Precariado: A Nova Classe Perigosa" em 2011. Lá, ele já alertava para a formação de uma nova classe social formada por excluídos do novo modelo de trabalho, composta por imigrantes (na Europa e EUA), jovens trabalhadores instruídos mas sem formação em profissões de alto desempenho e pessoas na meia-idade cuja formação laboral fora preterida em razão das novas modalidades de produção (ex, informatização das linhas de produção industrial). E também alertava, notavelmente, do perigo do ressentimento nestas pessoas e da facilidade com que se deixariam seduzir por discursos extremistas, da esquerda ou da direita. Em 2018, André Singer escreveu, em seu "Lulismo em Crise", que parte do processo de inviabilização do reconhecimento das políticas sociais dos governos petistas foi o ressentimento de uma classe de jovens que, após conseguir acesso à instrução, viu-se recusada pelo mercado de trabalho de maior retorno financeiro de que se julgavam merecedores, sendo jogados em subempregos de baixa renda (ex, telemarketing). Este ressentimento teria dado origem à bem sucedida exploração do mito da "meritocracia desrespeitada" no discurso do anti-petismo incitado pela direita.
    Ou seja, o precariado brasileiro comportou-se como seus congêneres do rust belt norte-americano que elegera Trump, e que assombram a Europa ocidental, seduzidos pelo canto da sereia da extrema-direita. Os sinais estavam lá há muito, mas poucos viram. Agora, o que fazer?

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