A eleição do polegar cibernético

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José Roberto de Toledo, no Estadão, traz dados sobre uma pesquisa do Ibope sobre a influência das diversas mídias na formação da decisão de voto nas eleições de 2018.

Que confirmam a percepção que a grande maioria das pessoas mais bem informadas já percebeu: a internet e as redes sociais serão o meio privilegiado de convencimento do eleitor.

Elas superam, pela primeira vez em pesquisas deste tipo, a mídia convencional – embora a mídia convencional também esteja presente nas redes.

Não é um fenômeno brasileiro, embora aqui tenha outros significados, por conta do oligopólio da imprensa tradicional.

Há dois dias, a Folha publicou interessante reportagem sobre o site The Canary, de esquerda, que jogou um papel importantíssimo nas eleições britânicas.

“O projeto bateu asas, decolou e é hoje um veículo consolidado no Reino Unido, com 13 milhões de acessos únicos em maio passado.(…)Pesquisa encomendada pelo jornal “The Guardian” mostrou que as notícias relacionadas à votação mais compartilhadas no Facebook vieram desses sites, e não dos diários de jornalismo profissional.”

Aqui, a esquerda “apanha” feio nas redes diante dos sites de direita ou extrema direita. Não apenas porque, não raro, estes contam com financiamento quanto, sobretudo, porque a concisão que a mensagem moralista e destrutiva permite é amplamente vantajosa diante da argumentação racional com que se tenta combatê-la.

Ainda assim, há espaço e até blogs sem qualquer estrutura profissional, tocados apenas por uma pessoa têm números que não envergonham diante do que a Folha chamou de “fenômeno” inglês. Este modestíssimo blog, que está longe de ser dos mais expressivos, teve, no mesmo mês de maio, 3,6 milhões de acessos únicos e sete milhões, no total de visitas.

A conversa pra boi dormir de que os blogs progressistas só existiam por conta da publicidade dos governos petistas não resiste à prova de que, sem eles e com a completa discriminação publicitária do atual (e das agências de publicidade, nenhuma delas querendo meter-se com quem a grande imprensa chama de “sujos”) eles sobrevivem com as plataformas internacionais de mídia, que pagam (mal) pelos acessos e cliques.

O The Canary mostra que é possível: “A maior diferença é que nós não somos financiados por milionários”, diz [Kerry-Anne] Mendoza [integrante do site] à Folha. O The Canary se sustenta com anúncios e o apoio de leitores, que podem doar R$ 16 mensais.”

Há outra lição que os números do Ibope trazidos por Toledo nos dá. A natureza das redes é plebiscitária – polegar para cima ou para baixo – e, frequentemente passional, o que não quer dizer o mesmo que descambar para a selvageria.

Quem pensa comunicação política tem de deixar de ter como prioridade o  roliudiano dos marqueteiros e refletir sobre o que a internet pede: produção de conteúdo – tarefa dos blogs -, sua disseminação (Facebook e outras redes) e fixação de conceitos.

Longos textos e longos vídeos estão longe de bastar.

Idem os “sites de campanha”.

É claro que a vida real – embora a vida real esteja cada vez mais virtual – é o cenário  da disputa pelo voto, mas o mundo das redes também passou a ser um ambiente onde as pessoas, especialmente as mais jovens, estão cada vez mais tempo imersas.

Internet é uma batalha sem tréguas, onde perder um dia pode ser perder o bonde.

 

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20 respostas

  1. Parabéns, Britto! Obrigado por nos brindar com análises e informações preciosas!
    Espero que as redes sociais melhorem o controle de suas “curtidas”.
    Em eleições anteriores já se observou grande quantidade de chineses curtindo publicações de candidatos por aqui. Isso sem falar nas “descurtidas” em vídeos publicados por pessoal de esquerda.
    Militância paga nas redes.

  2. Se os blogs criassem uma assinatura de um real ou um dólar resolveria, pois sao vários e um completa o outro. Imagina se 10% por cento contribuísse com um real o dono desse blog teria uma verba de 36 mil por mês, na pior das hipóteses, obviamente conseguiria mais….

    1. Manu, acho ótima sua ideia.
      Os blogueiros poderiam criam uma associação dos blogs progressistas, algo assim.
      Com uma assinatura de 1, 2, ou 5 reais.
      Depois, ratear os valores entre os associados.
      Só seria necessário definir os critérios para ingresso na associação e de como será feito o rateio.
      Precisamos fazer frente aos remunerados da direita.
      É triste. Por exemplo, assisti a um vídeo do Paulo Henrique Amorim no youtube que tinha 8 mil “gostei” e 16 mil “não gostei”. Obviamente que não foram 16 mil coxinhas que foram lá dizer “não gostei”, mas foi uma empresa dessas que cobram por serviços de curtir ou não conteúdos.

      1. Esse é um problema que tem que ser debatido por todos e tem que ser agora. Há condições de, com um pouco de iniciativa e de organização, enfrentar e vencer os que você chama de “remunerados”.

  3. O que eu sei é que todo dia vejo pessoas usando celulares nos ônibus e metrô. Não dá pra ficar divulgando textão, as pessoas não leem. O que funciona mesmo é o meme, é a coisa escrita no estilo manchete de jornal. O que se vê de meme com mentiras, calúnias, ofensas e todo tipo de cretinice por parte da direita é uma enormidade. A parte pior é que as pessoas acreditam. O caso da Friboi ser do Lulinha é um clássico. A esquerda não precisa mentir e nem inventar nada, a realidade da direita é completamente podre. O que a esquerda precisa fazer é aprender a falar com esta massa que não tem capacidade ou paciência de ler mais do que um parágrafo ou de gostar mesmo é de ver figuras. Até meme de esquerda é cheio de blablabla.

    1. Muito bem! Também acho que é por aí. Mas é preciso pensar não apenas em diretrizes gerais a serem publicizadas, mas também em estruturas de organização e trabalho para desenvolvimento de investigações, levantamentos, cooperação e criação. Há muita gente boa que poderia estar criando dentro de uma estrutura que ainda não existe, e há muitas estruturas que poderiam se desenvolver muito mais dentro de uma superestrutura de cooperação.

      1. Sim, muito há pra ser feito. Foquei meu comentário numa coisa que tenho visto quase toda vez que estou em algum local público, especialmente ônibus e trens. Em pé, é possível ver o que as pessoas estão olhando em seus celulares. Logo após a morte de Marisa, esposa de Lula, eu vi aquelas imagens que foram divulgadas com a mentira sobre aposentadoria e emprego fantasma no Congresso. O pior é que foram coisas compartilhadas por gente com formação superior e até bom nível sócio econômico, o que mostra que burrice é uma praga generalizada.

    2. Sabe-se que o mundo virtual é “binário”, zero ou um, preto ou branco, aceso ou apagado, mas deixa ver se entendi, como o medíocre não consegue ler mais que uma linha e desde que contenha ilustração, devemos nos adaptar a tática medíocre, ao invés de tentarmos resgata-lo da mediocridade com ações a serem tomadas em relação as deficiências do mesmo. A quem interessa o medíocre?
      Óbvio que é preciso fisga-los afastando-os do inimigo, sempre, mas para isso basta o anzol curto da manchete, meme ou o “diabo midiático a quatro”, com o aditivo “Leia Mais” ou “Informe-se Mais”, que permite, mesmo aos poucos, o peixe aprender a escapar dos anzóis curtos do inimigo, que não o quer “lendo mais” e menos ainda, aprendendo.

      1. “Óbvio que é preciso fisga-los afastando-os do inimigo, sempre, mas para isso basta o anzol curto da manchete, meme ou o “diabo midiático a quatro”, com o aditivo “Leia Mais” ou “Informe-se Mais”, que permite, mesmo aos poucos, o peixe aprender a escapar dos anzóis curtos do inimigo, que não o quer “lendo mais” e menos ainda, aprendendo.”
        Você mesmo escreveu o que eu responderia. O caminho é primeiro fisgá-lo, o que impediria de cair no anzol do inimigo. O processo de educar e politizar pessoas é mais demorado. Até que alguns sejam politizados com textões, a direita já terá feito estrago irreversível em uma quantidade várias vezes maior de pessoas e conseguido, com isso impor sua agenda.

      2. É por aí mesmo que as mídias alternativas deveriam se organizar. Isso ja foi proposto aqui várias vezes. Falta iniciativa e alguém com muita garra nesse meio dos blogs sujos para encabeçar um projeto comum de website/jornal capaz de enfrentar a mídia nativa. É o caminho do futuro/agora, e será realizável sem dúvida nenhuma com a participação da sociedade civil. É só ir à luta ! Nada é impossível qdo se tem um projeto na cabeça e tanta gente pronta a participar.

  4. O Wilson Ferreira do blog “Cinegnose” (cinegnose.blogspot.com) vem batendo nessa tecla há alguns anos.

  5. A violência contra a Dilma, contra o povo, contra a democracia e contra o país ficará registrada, como esta, na consciência deste pobre país.
    Agora chegaram ao seu ponto mais infame com o governo que bem representa a globo e o que ela fez: temer/cunha/aécio.
    Agora caem graças aos blogues. Caem e deixam a mídia, a globo, enlameada para sempre.

  6. Dá-le, fernando! dá le rijo que eles confessam!
    É bom saber estes números e tambem irei a partir de agora visitar esse canário britânico.

  7. Brito, faz um tempo um amigo meu que frequenta uma igreja malafaista me disse que o pastor faz recomendações políticas mas pede aos rebanho para não comentar fora da igreja, porque depois vão acusar a Igreja deles está fazendo política e isso não é bom para a igreja…
    Logo, esse número de não influencia nada das igrejas é meio mentiroso.

  8. “A Mídia”… porra tudo é “A Mídia”! que pesquisa ridícula! Rede social é mídia! Tv, Jornal… é muito amplo isso para constar em pesquisa. Sem falar que muita gente nem sabe o que é Mídia!

  9. O que acho legal, é que, lentamente os progressistas estão ficando mais articulados em suas propostas. Coisas muito boas como as sugestões dos comentaristas deste post. Organizações divulgando os estudos e sugestões de como sair desse horror em que estamos, e claro , manifestações populares nas ruas. Tenho certeza que sairemos desta, mais claros em nossas posições e Ações.

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