O governador Wilson Witzel decretou, agora de manhã, que ônibus, trens e metrô só possam funcionar com 50% de sua lotação, para evitar adensamentos de pessoas que facilitem a propagação do novo coronavírus.
Correto e prudente, exceto por um detalhe: como é que se faz com as pessoas que têm de trabalhar ou, do contrário, perderão seu emprego?
Como controlar plataformas e pontos de ônibus se os carros saírem só com a metade dos passageiros e se formarem filas e tumultos?
Sem reduzir o funcionamento de lojas não essenciais e escritórios não se reduzirá à metade o trânsito de pessoas.
Balconistas, caixas, atendentes, faxineiros, centenas de milhares de trabalhadores humildes não têm a opção do teletrabalho.
É preciso avançar em providências que protejam o emprego das pessoas que ficarão privadas de circular pela cidade, com uma estabilidade provisória ou, pelo menos, aumento do custo de demitir com o alongamento do aviso prévio para dois ou três meses.
Infelizmente, temos governantes que, mesmo quando fazem a coisa certa, a fazem da maneira errada, porque insensível ao drama dos mais humildes.
Ontem, Paulo Guedes disse que “se todo mundo ficar em casa, o país entra em colapso“. Pode ser verdade, mas quem fica e quem não fica em casa não pode ser “quem tem do que viver se proteja, quem não tem que se amontoe e corra o risco ou fique desempregado para se prevenir.”
Hoje cedo, e eu sei a razão, me veio à mente o clip gravado no Rio por Michael Jackson, They don’t care about us, algo que ficaria em nossa língua como “eles não ligam para a gente”.
Além de ser insuficiente para enfrentar a retração inevitável e provavelmente prolongada da atividade econômica, como bem aponta hoje Vinícius Torres Freire, na Folha, e também aqui, neste blog, o “pacote” de Guedes falha no essencial: proteger o emprego.
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dispersar a concentração dos horários de entrada e saída do trabalho. junto com a redução da lotação dos transportes, poderia ajudar bastante.
Fazer horários alternativos em esquema de revezamento por período e/ou dia.
soluções há. quem implementar, é outra história
Basta triplicar a oferta de ônibus, trem e metrô. Mas isso os governos não farão MESMO.
Eu já vi umas 4 entrevistas do Witzel na Globo esta semana. Em todas, ele reclama dos banhistas. Mas em nenhuma ele reclama das atitudes pouco cristãs de Malafaia e Bispo Macedo dizendo que os cultos continuarão. E os culpados pela disseminação do vírus serão aqueles que não possuem água encanada em casa para lavar as mãos, os que não tem dinheiro para comprar álcool gel e os banhistas. Com certeza a culpa não será a redução de verbas para saúde do Presidente, do Governador e do Prefeito. Não será a falta de leitos, de testes, de remédios, de médicos e de enfermeiros. e não será também a falta de saneamento básico nos bairros e comunidades mais pobres. Enquanto isso, Bolsonaro lava as mãos em sentido figurado e Crivella, o porta-voz universal do reino de Deus está desaparecido.
O coronavírus retira a máscara da ideologia neoliberal
Por Marilza de Melo Foucher
https://www.brasil247.com/blog/o-coronavirus-retira-a-mascara-da-ideologia-neoliberal
Eles fingem se importar, mas fazem isso exatamente mirando na possibilidade de causar a maior devastação possível nos "inúteis", nos "não merecedores", é a ocasião perfeita pra que os pobres morram aos montes sem que eles saiam como os vilões responsáveis.
Eles não tem coragem de defender publicamente com insistência (a não ser uns mais amalucados) mas aqui e acolá eles deixam escapar que há gente demais no mundo - eventualmente chegam a dizer que uma guerra ou uma epidemia são uma necessidade conter a explosão populacional.
Ora esta gente demais no mundo que precisa ser reduzida é obviamente a população mais miserável (que dizem com frequência que só servem para reproduzir mais miseráveis).
Se voce for discutir em ambiente privado com esta gente que se considera superior e começar a dar corda na conversa, eles dizem claramente que precisa de uma epidemia ou uma guerra para acabar com este multidão "que não tem futuro nenhum na vida" e só esgotam os recursos naturais (e frequentemente usam o exemplo do Haiti).
E os mais ensandecidos colocam a esquerda e todos aqueles que lutam em favor dos pobres entre os que devem ser eliminados em massa.
They don't care about us. São higienistas sociais.
Proteger o emprego, pra que, se não existe mais Ministério do Trabalho? Se a fiscalização é do Estado mínimo? O negócio do Paulo Guedes é proteger o grande capital!!!!
Brasileiro da classe que pode compra comida para estocar. mas milhares de brasileiro não têm dinheiro nem para comprar o necessário! Quem têm R$ 1.000 para comprar comida e fazer estoque?
O governo, se quisesse, poderia decretar moratória temporária da dívida pública por razões humanitárias... afinal o sistema financeiro, vai bem, obrigado. Mas ninguém no governo, tampouco os "especialistas" em economia sugerem isso.
Aí teriam recursos para cobrir as despesas, mesmo que temporárias, de proteção social aos trabalhadores de baixa renda e outros vulneráveis sociais, fortemente atingidos pela crise, a anterior e essa agora do Covid-19