Este foi o país dos muros. Não pode voltar a ser

muro

Já contei aqui, faz tempo, que a primeira manifestação “subversiva” que assisti foram as pichações dos muros, novinhos, que a ascendente classe média do Lins de Vasconcellos – mais precisamente na Rua Cabuçu – construiu, separando os prédios de um pequeno condomínio.

Os guris que lambuzaram o muro com interjeições de espanto e a pergunta demolidora – vocês acham que somos vacas para precisarmos de cerca? – viriam, anos depois, a ser meus companheiros na luta pela democratização do país.

Este país vinha derrubando seus muros.

Os muros que separavam os negros da Universidade.

Os muros que separavam milhões de um prato de comida.

Os que separavam as mulheres dos postos de comando.

O que impedia os pobres de andar de avião, de irem aos shoppings, de terem um celular com internet.

Os incomodados com isso são muitos, porque o Brasil se tornou um país onde a classe média cresceu e afluiu.

Mas, e parte desta classe média,como parte dos que moravam naquele prédio da Rua Cabuçu, quer muros.

O muro que não deixa entrar ninguém no que julga seu.

Mas que também não o deixa entrar no que pode, também, ser parte da sua vida.

Um muro é sempre um muro e sempre é uma vergonha.

Seja em Berlim, seja na Palestina ocupada, cercando os sírios na Turquia, seja na borderline dos EUA com o México.

O muro é a incapacidade de conviver, de aceitar; é a incapacidade de dividir, de partilhar qualquer coisa, até o espaço que deveria ser público.

Há três anos, começamos a erguer os muros que, por meio século, este país exibiu.

O sistema de comunicação e os que seriam derrotados em 2014 já não aceitavam coisa alguma.

O judiciário, já naquele ano, mostrava que queria levar a Lula e a Dilma à culpa, não importa de que.

Prender passou a ser o triunfo supremo da “liberdade”. Não importa a razão, por quanto tempo, por quais fundamentos. Importa apenas que delate, delate, delate, sempre um degrau acima, na direção de quem se quer alcançar.

Mas não foi nem será só aí que passamos a ter grades.

Pessoas agredidas pelas ideias e até pela cor da camisa.

O ódio passou a ser tolerado e praticado até por aqueles que, com muros, diziam apenas subir neles e passaram a ser obreiros dedicados na construção de barreiras intransponíveis.

Criou-se um clima de guera civil.

Logo teremos outros muros , aqueles que, vagarosa e esforçadamente, vinhamos demolindo.

A cerca que se ergue no gramado da Esplanada dos Ministérios – por mais que seja necessária neste ambiente, não protegerá ninguém pelo país afora – se converte num arremedo do que deve ser a disputa democrática, a do voto, das eleições.

Não por culpa dos pobres, mas dos ricos, este país voltou a ser descaradamente cindido.

E cindido, não terá paz.

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6 respostas

  1. Brito, nem todo muro é ruim. Eu, um pacifista, começo a achar que a única saída será um muro, um muro de fuzilamento. Só com o PMDB iremos gastar umas 200 balas, depois você tem a oposição e uma boa parte do judiciário, sem falar no PIG.
    Bem, vão dizer que fuzilamento não está previsto na constituição, aí pergunto eu: “E eles respeitam a constituição?”
    O congresso prova todo dia que não respeita.
    O Moro e o Janot estão se lixando para ela.
    O Supremo já a rasgou a algum tempo.
    O PIG respeita?
    A boa índole do povo brasileiro está sendo posta à prova. Tem limite?

  2. É dai para pior, isso é o que dá fazer aliança ou ser conivente com a direita, agora eles cresceram, dominaram as esferas públicas federais, mandam e desmandam no congresso, dominaram as ruas e as redes sociais. Que isso sirva de lição.

  3. Eu no Riocentro no dia 9 de novembro, quando o locutor anunciou que o Muro de Berlim havia caído. Lembro de como vibrei e gritei de alegria. Ano passado senti o coração apertado na estrada de Tel-Aviv para Jerusalém e hoje vendo esta foto sinto medo, porque de lá eu poderia vir embora, mas se erguem muros no meu País, eu vou pra onde?

  4. O discurso do ódio de classes é de vocês. Jandira Feghali, hoje na comissão, disse que nas manifestações de 13 de março não tinha um trabalhador. Qual o conceito da esquerda de um “trabalhador”? O meu conceito é o de quem trabalha, de quem colabora para o crescimento do país. Infelizmente, vocês seguem o ensinamento de Lênin: disseminam o ódio e depois alardeiam que estão sendo odiados.

    PS: em tempo, o relógio está fazendo tic, tac, tic, tac…

  5. em grandes democracia como a cubana não tem muros pela simples razão que o povo não vota em oposição. Se todo mundo só votasse no petismo, essa desgraça não seria tão necessário

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