No século da mídia, a imagem é tudo

Ontem, cedo, quando se esperava o ato final da vergonha da prisão de Lula, disse que o furor e o ódio de Moro e da máquina de mídia se voltariam contra eles próprios.

Já se viu, pela multidão que acorreu ao Sindicato dos Metalúrgicos até a madrugada, que ele não conduzirá à cadeia um Lula cabisbaixo e solitário, mas verá um cortejo humano impressionante a levar seu líder ao exílio em sua própria terra.
O juiz marqueteiro, envenenado por seu ódio incontido, produzirá uma cena para a história, a imagem de um povo altivo, deixando a vergonha para seus algozes.
Moro dará ao povo brasileiro a representação do calvário dos que, neste país, carregam a cruz dos oprimidos.

Aí está o que fica do drama de hoje e não é à toa que os grandes jornais se engalfinham para produzir qualquer outra, mixuruca, mas que possa  servi-lhes para colocar Lula numa situação humilhante.

Ainda assim, ser-lhes-á difícil fugir da imagem.

PS. Aos amigos que me criticaram por ter dito, cedo, que Lula se entregaria, digo que compartilho com eles o sentimento  de que isso é uma injustiça vergonhosa. Mas não posso dar informações contrárias às que tenho e, muito menos, deixar de saber que é e foi de Lula a decisão, citando as palavras de meu sempre professor (inclusive de bom-senso) Nilson Lage:Quem está no comando é Lula. É a Lula.que visam. Lula se expõe porque quis e todos se beneficiaram disso: seja Lula Tiradentes, Vargas, Mandela, Jânio ou Antônio Conselheiro, é uma decisão de foro íntimo, que não há senão que acatar.  O que Lula decidir será feito e é o certo.

 

Fernando Brito:

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  • Exatamente, Fernando. O jornalista não pode e não deve contrariar as informações e os fatos de que dispõe, sob o risco de se tornar igual à indigna maioria que hoje fecha edições safadas e mentirosas contra Lula. E sim, a decisão foi de Lula e, fosse ela qual fosse, teria sido, como o foi, uma decisão correta. Não deve ser menosprezada. Cabe a nós, indignados com a injustiça, tomar a bandeira que ele carregou até agora e dividi-la, nas ruas e em todos os espaços possíveis de comunicação. E lutar para desmascarar o fascismo instalado no país.

  • Um julgamento dividiu politicamente uma nação durante o século xx, outro julgamento vergonhoso vai dividir politicamente outra nação durante o século xxi. França e Brasil, Dreyfus e Lula, dois juízos fraudados, dois inocentes presos sem provas ou com provas forjadas. A verdade está em marcha.

    • Alfred Dreyfus

      "Incriminado por um conjunto de documentos falsos, (como o Le bordereau) seu caso repercutiu por todo o mundo. Inserida no quadro de uma campanha nacionalista e revanchista contra Império alemão que acabou por assumir características de anti-semitismo -com a condenação dos judeus como não-franceses - essa farsa, entretanto, foi sendo aos poucos esclarecida graças à atuação dos escritores Anatole France (1844-1924) e Émile Zola (1840-1902), além do brasileiro Rui Barbosa, uma das vozes pioneiras no caso. O incidente envolveu toda a sociedade francesa, enfraqueceu os monarquistas e abalou o anti-semitismo nacional."

      https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Alfred_Dreyfus

      • Vem sendo escrito todos os dias, sem grandes efeitos. Nem na França a malfadada trama acabou bem. Ademais, Zola acabou estranhamente morto num acidente com a chaminé de sua casa, e isso de volta a sua amada França depois de um exílio de um ano em Londres e das multas que teve de pagar ao Estado Francês (diziam que ele não sairia vivo do tribunal se os juízes o absolvessem) . Poucos anos depois a França sentiu o horror de duas guerras mundiais, a invasão de seu território e a vergonha do colaboracionismo de parte de seus cidadãos com os invasores nazistas.

      • https://www.facebook.com/juremir.machadodasilva/posts/2268560726504038

        Juremir Machado da Silva

        Eu acuso

        Cento e vinte anos depois do grito de Emile Zola, eu acuso o juiz
        Sérgio Moro de encarniçamento contra Lula em nome de um projeto de
        brilho pessoal. Eu acuso Moro de querer aparecer e de forçar
        instituições a partir de uma visão ideológica seletiva. Eu acuso Sérgio
        Moro de ter sido investigador, acusador e juiz. Eu o acuso de,
        contrariando o princípio de distanciamento do julgador, ter formado
        equipe com o Ministério Público e a Polícia Federal, apoiado por parte
        da mídia, para desequilibrar o jogo político brasileiro. Eu acuso o
        judiciário, numa das suas diversas ramificações, de parcialidade,
        subjetivismo e tendenciosidade, tendo, como prova dessa seletividade,
        deixado até hoje livre, sem ter mais foro privilegiado, por fatos
        ocorrido há 20 anos, condenado em segunda instância, no conveniente
        aguardo de demorado julgamento de embargos, o grande tucano Eduardo
        Azeredo, pai dos mensalões e ex-governador de Minas Gerais. Só no
        próximo dia 24 de abril, pressionado pelos acontecimentos atuais,
        acontecerá o julgamento do recurso de Azeredo. Será preso ou esperará em
        liberdade o exame dos embargos dos embargos que deverá interpor?

        Eu acuso o Supremo Tribunal Federal de ter descumprido clamorosamente a
        Constituição Federal, que prevê no inciso XVII do seu artigo 5º a
        culpabilidade só depois do trânsito em julgado, como qualquer pessoa
        alfabetizada pode ler e compreender. Eu acuso o ministro Luís Roberto
        Barroso, num arroubo de demagogia jurídica, de ter confessado
        publicamente que descumpriria a Constituição, em função de um duvidoso
        conceito de mutação, por considerá-la superada no item em questão e
        incapaz de corresponder às expectativas atuais da sociedade. Eu acuso o
        judiciário de condenar sem provas, com base em construções claudicantes
        como a teoria do domínio do fato e a teoria da cegueira deliberada, em
        nome de um punitivismo messiânico. Eu acuso o messiânico procurador
        Deltan Dallagnol de confundir ilações com fatos e de comportar-se como
        um iluminado salvador de consciências.
        Eu acuso o Senado de manter
        Aécio Neves nos seus quadros apesar da fartura de provas contra ele,
        que, além de tudo, quebrou de todas as formas o decoro. Eu o acuso o STF
        de dois pesos e duas medidas, tendo afastado Eduardo Cunha do cargo, só
        depois de ele ter convenientemente conduzido o impeachment da
        presidente Dilma Rousseff, e não ter sustentado a mesma posição em
        relação a Renan Calheiros e Aécio Neves. Eu acuso o STF de permitir a
        prisão de um homem a partir de provas sobre as quais pairam dúvidas e de
        manter como senador um homem sobre o qual pesam provas robustas. Eu
        acuso o STF de ambiguidade, hipocrisia, conveniência e seletividade
        ideológica. Se podia afastar Eduardo Cunha, sem autorização parlamentar,
        podia fazer e manter o mesmo quanto a Aécio. Eu acuso a ministra Carmen
        Lúcia, presidente do STF, de ter se acovardado no caso de Calheiros,
        soltado Aécio e atropelado a ordem jurídica para apressar a prisão de
        Lula.
        Eu acuso a Câmara dos Deputados de manter na presidência da
        República, depois de ter derrubado uma presidente eleita pelo voto
        popular com base num forjado crime de responsabilidade jamais antes
        caracterizado como tal, um político asfixiado por provas acachapantes de
        malfeitos sob pretexto de que seria nocivo para o país ter uma nova
        troca de comando. Eu acuso todas as instâncias de jamais terem querido
        levar adiante investigações sobre as denúncias de compra da emenda
        constitucional que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Eu
        acuso o STF de deixar convenientemente prescrever ações contra Romero
        Jucá e outros que tais. Eu acuso Michel Temer de ter usado emendas
        parlamentares para cabalar votos capazes de mantê-lo no poder.
        Eu
        acuso o general Villas-Boas de ter feito uma declaração golpista para
        intimidar o STF às vésperas do julgamento do HC do ex-presidente Lula.
        Eu acuso a Rede Globo de ter usado a declaração do general para assustar
        a população e pressionar os ministros do Supremo. Eu acuso a ministra
        Rosa Weber de covardia e falsa coerência, tendo votado manifestamente
        contra a sua confessada convicção por entender que se tratava de caso
        concreto e não da regra do jogo quando os demais ministros tratavam do
        princípio geral e não da concretude. Eu acuso a ministra Carmen Lúcia de
        ter pautado o julgamento de um caso concreto com uma regra sob suspeita
        e rejeitada publicamente pela maioria do pleno do STF. Eu acuso
        ministros do STF de julgarem para a torcida e não em conformidade com a
        clareza do texto legal, pisoteando a Constituição Federal e o artigo 283
        do Código de Processo Penal.
        Eu acuso o TRF-4 de celeridade
        ideológica, tendo apressado o julgamento de Lula e a autorização em
        tempo recorde da sua prisão não por virtude, o que seria louvável,
        especialmente se a celeridade fosse padronizada, mas por paixão e
        ideologia. Eu acuso parte da sociedade brasileira de fomentar o ódio
        ideológico, usando o combate à corrupção como pretexto para a
        aniquilação do oponente. Eu acuso parte dos que fomentam o ódio
        ideológico a Lula de odiar principalmente as políticas sociais acertadas
        dos seus governos. Eu acuso o judiciário de ter apressado os seus ritos
        para tirar Lula das eleições de 2018 por sentir que ele seria eleito.
        Eu acuso o STF de legislar vergonhosamente, atropelando um legislativo
        acovardado e corrompido.
        Eu acuso o judiciário de ter prendido
        Paulo Maluf, aos 87 anos de idade, para simular uma universalidade que
        não pratica de fato, pavimentando o caminho para a prisão de Lula. Eu
        acuso quem de direito de ter prendido o tucano Paulo Preto no mesmo dia
        em que deveria ocorrer o encarceramento de Lula para criar a ilusão de
        que não há seletividade e de que todos os procedimentos evoluem com o
        mesmo dinamismo. Eu acuso Moro de ter condenado Lula no caso Triplex sem
        provar qualquer contrapartida objetiva, direta, não genérica, com meios
        públicos, ao suposto favor recebido. Não defendo Lula, não sei se ele é
        inocente ou culpado, acuso os seus acusadores de não terem provado que
        as suas “provas” são boas provas. Acuso a elite brasileira de tolerar
        Temer no poder por ele ter oferecido, antes de praticar o seu golpe, a
        sua artimanha para chegar ao poder sem votos, um programa ultraliberal
        capaz de anular os avanços sociais da era Lula. Acuso a parte mais
        radical do elitismo brasileiro de querer conduzir o país de volta à
        escravidão, a escravidão por outros meios tecnológicos.
        Eu acuso
        Moro de legislar. Acuso o STF de julgar sem princípios gerais, por
        conveniência, caso a caso, sem respeito à Constituição. Eu acuso o STF
        de consagrar o lugar comum: a constituição é o que ele diz que é, não o
        que nela está escrito. Eu acuso especialistas de dissimularem suas
        preferências ideológicas como discursos de autoridade, vomitando
        subjetividade com palavrório enganoso. Eu acuso parte do Brasil de
        promover uma vingança contra o intruso, o “quatro dedos”, o retirante, o
        “analfabeto”, o “menas”, o operário que governou, em muitos aspectos,
        melhor que os bacharéis, tendo produzido, apesar da limitação dos seus
        feitos, das contradições, dos erros e dos delitos no seu entorno, um dos
        melhores, ou menos piores, períodos para a parte menos aquinhoada deste
        país de canibais. Eu acuso as instituições do dispositivo
        policial-judicial de consagrarem um novo ditado: mais fácil um camelo
        passar pelo buraco de uma agulha do que um grande tucano ser preso. Logo
        haverá exceção para confirmar a regra. Eu acuso parte da mídia, sempre
        tão falsamente sensata, de querer tirar de Lula até o direito de se
        sentir injustiçado. Eu acuso os paneleiros de seletividade ideológica e
        indiferença à corrupção.

    • Lula agora se transformou no maior Herói Nacional, simplesmente isso.

    • Tinha me esquecido do Dreyfus, igualzinho.Foi o Zola que escreveu Eu Acuso. Verdade.

  • Teria que ser assim , quando a história é escrita diante de nossos olhos , precisamos continuar escrevendo a história de democrática desse país interrompida hoje . Com povo nas ruas.

  • As imagens produzidas mostram rostos tristes em ver o filete da esperança fugir dos dedos das mãos e da alma. Mas o valente nordestino conseguiu reacendê-la. Por isso as pessoas queriam tocar naquela chama cansada, mas ao mesmo tempo viva, capaz de atear o fogo da esperança. Houve ali uma troca de energia povo/Lula. Pena eu não poder estar ali.

    • Podem falar o que quiserem, mas o Lula está ferrado. E toda a esquerda também. No xadrez o objetivo é o cheque mate, a derrubada do rei. O nosso rei foi derrubado por causa do nosso bundamolismo. A partir de hoje será a vez dos peões.

  • Registre-se: hoje um "do povo" foi preso por um crime que não cometeu.
    Há milhares de casos idênticos nas delegacias deste brasileirão.
    Mas hoje o preso sem crime é o maior dos brasileiros e os delegados são do supremo tribunal federal.
    Este fato será motivo de absoluta vergonha, não nos próximos anos da nossa história, mas a cada novo minuto que passa.

  • A decisão tinha que ser de Lula e tem que ser respeitada. O corpo é dele. a Mente é dele. A família dele é dele.

    • Perdoe-me por discordar. Isto se aplica a mim e a você. Mas quando você é depositário das esperanças de milhões de pessoas, as coisas são diferentes. Eu particularmente estou profundamente decepcionado, eu que vinha vendo no Lula um avanço em suas posições políticas justamente para quem, em seu governo, não produziu nenhuma ou quase nenhuma reforma estrutural profunda, manteve apoio a grupos extremamente conservadores, como o latifúndio e deixou morrerem as Caravanas da Comunicação, que visavam a regulação da mídia. Plínio Arruda Sampaio, a seu pedido, entregou-lhe um projeto completo de reforma agrária, que foi pura e simplesmente engavetado. Obviamente não estou negando os avanços na redução da desigualdade – de que sou testemunha por morar no sertão baiano - e em vários outros aspectos. Espero estar errado, mas creio que estamos sofrendo uma grande derrota neste momento. E olhe que não sou pessimista, mito antes pelo contrário

  • Lula é grande e a direita teme perder a quinta eleição, por isso essa prisão simbólica desse processo encenado, pra manifestoche ver. Mas não vai dar em nada, a direita vai ser varrida do mapa e eles sabem disso.

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